terça-feira, 8 de janeiro de 2013

EMIGRANTES QUE VOLTAM.



 A família de Carlos Quintas: Carlos, Fernanda, Carlos Quintas, Laurinda e Hernâni.

Nem todos os lanhesences, que um dia optaram por emigrar, romperam completamente os laços  físicos que os ligava à terra onde nasceram para se radicar definitivamente nos locais onde encontraram melhores condições para o desenvolvimento da sua vida familiar. Não faltam exemplos entre nós de emigrantes que, tendo andado pelo mundo durante muitos anos a labutar duramente por uma vida melhor nunca desistiram do propósito de voltar à terra onde deixaram as suas raízes.

 

Lanheses sempre foi uma terra onde a emigração era uma opção muito comum no início do século XX (historicamente a diáspora portuguesa remonta ao tempo dos  descobrimentos) , intensificando-se nos anos que se seguiram à II Grande Guerra Mundial.  Nas gerações mais recentes, o êxodo atingiu entre os lanhesences proporções de grande relevo a partir da década de cinquenta com uma parte da nossa população emigrar para França, Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, Austrália e, alguns anos depois, para Angola e Moçambique, e, também para o Brasil considerado desde 1500 o eldorado dos emigrantes.

 

              O casal com as noras e os netos

 Inicialmente, partiram os homens deixando as esposas e os filhos os que já tinha família constituída. Partiam “a salto”, transpondo as fronteiras pelas montanhas  sem documentação a maior parte deles, porque não era fácil superar as exigências legais impostas pelo regime vigente em Portugal à saída dos cidadãos sem recursos, mesmo para as “províncias ultramarinas” em que era exigida “carta de chamada” e pagamento prévio da viagem de regresso.  Nos grupos que se formavam com o objectivo de chegar a França seguiam, também, clandestinamente, os menores de idade para trabalhar e ao mesmo tempo para evitar o cumprimento do serviço militar obrigatório e a mobilização para a guerra no ultramar que deflagrara nos territórios africanos sob administração portuguesa.

 

 Conseguida a “carta de trabalho” em França, e a experiência de alguns anos em convívio com outras culturas e modos de vida, muitos deles aproveitaram a porta que se lhes abria para a independência económica na América do Norte, Canadá e Austrália e encetaram novas aventuras em novos horizontes, enfrentando dificuldades de língua, clima, distâncias, costumes e até xenofobia, confiados na força dos seus braços, arte no ofício, honradez e lealdade para resistir  às agruras da vida que tinham de vencer. Hoje, em muitos países onde acabaram por estabilizar a sua família, muitos deles ocupam lugares de administração pública, possuem ou dirigem grandes empresas, lideram o comércio, notabilizam-se no desporto  e nas comunidades culturais e cívicas de que fazem parte e ajudaram a construir,  desfrutando de total cidadania como os naturais do país onde se fixaram.

 

Apesar de as respectivas famílias já irem na terceira e mesmo quarta geração, outros há que nunca conseguiram libertar-se do chamamento do cantinho onde nasceram e viveram os primeiros anos de vida, acabando por regressar definitivamente às suas origens, voltando a viver o drama da separação agora em relação aos seus descendentes, que, entretanto, se radicaram e tornaram cidadãos de direito dos países onde se fixaram e já não regressam com eles por seguirem o seu próprio percurso de vida.

 

As facilidades actuais de que dispõem as populações para se deslocarem permitem um contacto e intercâmbio muito mais assíduo entre os membros da mesma família, sendo muito comum que elas se reúnam em datas com significado especial, sejam na intimidade da família de que fazem parte ou outras em que participa a comunidade em geral, designadamente, a grande festa anual tradicional da localidade onde residem, o Natal ou a Páscoa. Há, porém, momentos especiais que exigem a reunião de todos os membros da família estejam onde estiverem os membros que dela fazem parte.



 

É o caso de família de CARLOS MENDES DE JESUS QUINTAS e da sua esposa LAURINDA MENDES AFONSO,  que, tendo completado no dia 5 de Janeiro corrente CINQUENTA anos do seu casamento católico,  tiveram consigo a celebrar as BODAS DE OURO os seus três filhos e os  netos , vindos exclusivamente para aquele fim do Canadá e da Austrália, onde vivem.








 

CARLOS QUINTAS  faz parte de uma família cujo padrão era característica de há uns anos atrás na nossa freguesia: prole numerosa (eram dez irmãos), parcos recursos económicos e dependente do que obtinha da lavoura de subsistência em regime de minifúndio.  Tendo aprendido a arte de pedreiro emigrou para França em 1963 onde se manteve cerca de 4 anos. Apesar de a sua vida ter melhorado  significativamente, seguiu o que alguns dos seus conterrâneos estavam a fazer  a determinada  altura e decidiu ir para Austrália onde abundava o trabalho e “a paga” compensava.



 

Completou naquele país da Oceania mais de 25 anos de permanência tendo consigo a esposa e os três filhos do casal, dois dos quais, a Fernanda e o Hernâni, que ainda lá se mantêm, o último dos quais com esposa e filhos; o Carlos, também casado e com filhos está emigrado no Canadá, todos com a sua actividade específica.



 

Carlos Quintas e Laurinda Mendes deixaram de residir em permanência na terra que os viu nascer mais de trinta anos, mas jamais admitiram não vir a passar o resto das suas vidas na casa que construíram e agora habitam em Lanheses.  Regressaram definitivamente a Portugal há poucos anos vindos da Austrália, podendo deste modo  voltar à igreja onde casaram há cinquenta anos, tendo consigo os filhos e netos e os parentes mais próximos, designadamente alguns dos seus irmãos  cunhadas e cunhados e os seus descendentes, bem como a sua sogra LUDOVINA RODRIGUES MENDES, a anciã lanhesence que está à porta de completar CENTO E SETE ANOS de vida!

 

 ESTA LINDA SENHORA, Dª LAURINDA MENDES, ESTÁ PRESTES A COMPLETAR "APENAS" 107 ANOS DE VIDA!

ACREDITA?





O retrato de uma família-padrão de emigrantes de Lanheses que aqui se pretendeu trazer é apenas uma ténue imagem de uma realidade com a qual muitos de nós conviveram e acompanharam neste mais de meio século da diáspora lanhesence.  Não tendo trabalhado fora do nosso país, sou filho de emigrante que andou pelo Brasil (duas vezes), irmãos que passaram grande parte da sua vida em Angola, França, Moçambique e África do Sul, e no Brasil estão radicados presentemente alguns familiares meus muito próximos.  Mantenho por quem teve de ir para outras paragens buscar aquilo que a terra onde nasceram não lhes deu uma profunda admiração.


 Álvaro Sá Carneiro da Rocha tem 94 anos, sendo actualmente o terceiro homem mais idoso de Lanheses e o primeiro aqui residente. Quem diria.

1 comentário:

  1. Um bom exemplo, de uma família tradicional, da nossa terra, aqui oportunamente (e bem) descrita pelo Sr. Remígio Costa. Uma bela história de coragem e abnegação a deste casal, cuja vida dura de emigrantes é um exemplo de vida.
    Ao amigo Sr. Carlos Quintas e sua esposa D. Laurinda, desejo as maiores felicidades e mais uma bela caminhada até ás "Bodas de Diamante"!
    As fotografias estão muito bonitas. Obrigado por partilhar!

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