(Projeto de escultura de Santo Antão inacabada) Lanheses tem vindo a organizar desde um passado longínquo uma celebração religiosa de raiz católica com componente profana, em homenagem a Santo Antão, orago dos animais particularmente os domésticos. Decorria noutros tempos na quinta-feira da Ascensão, quando o dia foi feriado nacional e dia santo, sendo ulteriormente transferida para o domingo seguinte a partir da alteração oficial da qualidade do dia.
Santo Antão é venerado numa capela pequena e singela sita no Lugar de Santo Antão. O local, aprazível com vista longa no sentido dos pontos cardeais, está arborizado com algumas árvores de elevado porte, bancos de pedra e cruzeiros, dispondo de uma escadaria em pedra desde a estrada até ao cimo plano, com muro envolvente em blocos de granito. Bem cuidado, todo o espaço.
Depois de alguns anos de interregno a festa tem decorrido ininterruptamente desde há alguns anos a esta parte, graças a comissões compostas maioritariamente por jovens, as quais procuram mante-la no padrão tradicional. A parte religiosa mantém-se com a realização de Eucaristia e Benção na Igreja paroquial seguida da solene procissão pelo percurso da Estrada da Corredoura na distância de cerca de um quilómetro, a qual termina no recinto da capela com sermão alusivo ao orago e com a "benção do gado" que foi levado pelos donos para o recinto com essa intenção, cujo número é, atualmente, muitíssimo reduzido relativamente ao passado. Na véspera, decorre uma missa a partir da capelinha.
Segue-se uma arrematação de ofertas que podem ser tabuleiros com produtos variados, animais, bebidas, frutos, etc..
A animação popular é assegurada por conjunto ou banda da música pop, que atua pela noite dentro consoante a audiência e as condições atmosféricas o consinta. As bandas de música têm atualmente encargos elevados difíceis de obter da população residente e no estrangeiro. Noutros tempos, o coreto para atuação de bandas clássicas era montado logo à entrada do lado direito do adro, com a colaboração dos mordomos e enfeitados com bucho e flores pelas mordomas.
Se recuássemos no tempo até meados do século passado poderíamos viver a verdadeira essência da festa de Santo Antão
além da veneração do orago, constatando o considerável número de animais domésticos que ali eram levados pelos donos agricultores; juntas de bovinos enfeitados com flores e hastes luzidias com azeite conduzidos à soga por lavradeiras, vindos de todos os lugares e das freguesias limítrofes, gado equino, caprino e aves de capoeira, cães e gatos como se fossem embarcar numa nova Arca de Noé. Traziam com eles acompanhamento de concertinas, bombos e cantares tradicionais e preenchiam como concorrida feira o espaço da festa.
Quem bem conhece as tradições da festa de Santo Antão, que dá início ao calendário anual das festividades em Lanheses, não pode deixar de destacar a que privilegia o famoso sarapatel e o cabrito "à Tia Nina" (com casa junto ao recinto) consagrado como ex-libris gastronómico da festa, que ainda hoje atrai as preferências de um considerável número de apreciadores, noutro tempo confecionado pela anciã santoantonense de modo tradicional e que abria nos dias anterior da festa o portal da eira da sua casa onde os apreciadores se banqueteavam com o saboroso pitéu.
Neste ano apenas o auto-falante leva aos quatro ventos a festa de Santo Antão. Amanhã, na Missa dominical, não deixará certamente de ser evocado com a solenidade adequada.
Que Santo Antão nos abençoe para que possamos ver-nos livres do mal que agora nos limita a vontade de o homenagear.
(Fotos do arquivo doLethes de há 10 anos)
Fotos de arquivo doLethes.
Remígio Costa