Por razões que não interessam ao caso, o meu relacionamento com o Luís Gonzaga Moreira é, agora, mais próximo o que nos permite trocar esclarecimentos sobre alguns assuntos de interesse por ele protagonizados, entre outros a criação da Escola Secundária na sua terra natal quando, tendo ao tempo um processo mais adiantado, estava praticamente garantido que seria Lanheses primeiro a merecer uma escola do ensino secundário. O Luís Gonzaga teve a amabilidade de me oferecer o texto de um discurso proferido por si na celebração do 25º aniversário da Escola José de Brito, do qual transcrevo recortes com interesse para o esclarecimento da conclusão do processo.
Pertencíamos a serviços tutelados por ministérios diferentes mas ambos exercemos funções em departamentos públicos em Viana do Castelo. Por isso, os nossos escassos e fortuitos contactos foram sempre formais não dando azo ao estabelecimento de relações de proximidade. Contudo e no tempo subsequente à revolução de 25 de Abril de 1974, LUÍS GONZAGA PARENTE RIBEIRO MOREIRA, a partir do momento em que assumiu o lugar de presidente da Junta de Santa Marta de Portuzelo, terra da sua naturalidade, adquiriu um protagonismo de figura influente e destacada face à sua ação dinâmica e frutuosa à frente da autarquia santamartense, consubstanciada no papel determinante que teve na criação da Escola Secundária José de Brito, trajeto que fui acompanhando com interesse pelas noticias publicadas na "A Aurora do Lima" e outra informação menos formal.
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..."2º - Em 30 de Dezembro de 1977, recebi via Câmara e Governo Civil, um inventário de carências originário do Gabinete da Secretaria de Estado de Planeamento, do Ministério da Educação, dirigido a várias juntas de freguesia para carrear dados e outros elementos, sobre as potencialidades do local para uma futura Escola Preparatória/Secundária, para alivia a pressão e saturação das Escolas da cidade, receptoras de todos os alunos oriundos das freguesias, do concelho, que compunham as duas margens do Rio Lima.
3º - Rapidamente e em 10 de Janeiro de 1978, enviei um documento com 4 páginas, nele constando o número de alunos, das freguesias limítrofes por sexos, percentagem do aproveitamento escolar, rede de transportes públicos, valor dos preços dos bilhetes naquela altura despendidos ou suportados pelos alunos até à cidade de Viana do Castelo, fazendo ressaltar ou realçar a poupança dos valores, traduzidos nas viagens mais curtas a percorrer, para a futura escola, na nossa aldeia e indicação de terreno para a construção, oferecendo em alternativa outros locais a estudar.
Na sequência do documento, o dr. Oliveira e Silva, então Governador Civil de Viana do Castelo, solicitou telefonicamente comparência de Luís Gonzaga no seu gabinete, tendo-o felicitado pelo trabalho apresentado, ao mesmo tempo que lhe garantia o melhor empenhamento no andamento favorável à pretensão.
Em 1981, com Lucínio Araújo na presidência de Câmara, foi apresentado à Comissão Nacional de Projectos, em Lisboa, para decidir sobre a aprovação do terreno indicado , o qual obteve em 2 de Fevereiro de 1982 despacho favorável. Seguiram-se várias diligências não isentas de peripécias e contrariedades até à adjudicação na obra no dia 13 de Outubro de 1984, (cujo conhecimento haveria de coincidir com o falecimento da sua mãe), para, em Março de 1985, lhe ser comunicado pelo Ministério das Obras Públicas a disponibilização da verba para a construção.
Luís Gonzaga descreve, ainda, episódios onde teve que vencer situações bastante complicadas que puseram em risco o prosseguimento dos trabalhos os quais apesar de todas as dificuldades que teve que ultrapassar acabou por superar graças à sua determinação e coragem. Na conclusão do seu discurso conta um episódio da entrada de uma máquina no terreno onde a escola seria construída, escrevendo,
....."mandaram-me subir para a cabina, onde se encontravam o motorista e um representante da empresa. No local, depois de efectiarem a manobra de descida do caterpillar, o motorista convidou-me a subir e coloquei-me ao seu lado. O caminho era muito estreito e com muito cuidado lá fomos andando. A determinada altura, pergunta o motorista: -ó senhor presidente, onde quer que deite o muro ao fundo!- Pode ser mesmo aqui (local coincidente com a entrada da escola hoje existente), respondi. Tinha chovido com bastante intensidade dias antes, acentuando a permeabilidade do solo, com todas as características de zona húmida, tendo acontecido de imediato o afundamento da referida máquina, que ficou totalmente imobilizada, não obstante terem efectuado algumas tentativas para a libertar. Como homem apaixonado das ciências e conhecedor das Leis da Física, astrofísica, cosmologia e outros saberes, tirei as seguintes conclusões. Por causa da Lei Universal da Gravitação, descoberta por Isaac Newton, o caterpillar afundou-se puxado pela gravidade em direcção ao centro da terra, tendo ficado convencido, sem qualquer dúvida, que tal afundamento se devia também ao peso de todo o Povo da minha aldeia, que no momento e em cima dele se encontrava, legítima e dignamente por mim representado..."
"Santa Marta de Portuzelo, 18 de Fevereiro de 2011"
(Luís Gonzaga Parente Ribeiro Moreira)
Lanheses, que tinha iniciado bastante antes de Santa Marta de Portuzelo o processo para obter a criação de uma escola secundária só viu satisfeita a aspiração em 1990.
Nota: No espaço em branco que se segue ao texto, Luís Gonzaga Moreira teve a amabilidade de me dirigir uma simpática dedicatória que aqui agradeço.
RC
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