terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

NÃO HÁ CÁ CARNAVAL MAS NINGUÉM LEVA A MAL.

        
(Foto da Biblioteca Escolar da Escola Secundária de Lanheses, respeitante ao desfile realizado em 2016.02.05)


           O Carnaval mascarado e folião não existe mais, em Lanheses. E com o (mau) estado do tempo com que hoje o dia se apresentou por estas bandas, então, só mesmo a orelheira, o chouriço e as rabanadas ao almoço nos convence de que não nos enganamos na folha do calendário. Num tempo que começa a ser tão longo quanto a idade de alguns, entre os quais eu me incluo, neste último dia que antecede o início da Quaresma dos cristãos, além da ementa tradicional composta de produtos produzidos dentro da economia familiar (criação de porcos e aves de capoeira, hortaliça, batatas, vinho verde, broa de milho, leite, farinha, azeite preparados em panelas e potes de ferro fundido em fogueiras e forno alimentados a lenha recolhida nas bouças dos montes, a parte de tarde do dia de Carnaval era ocupada pela população, jovens e menos novos de ambos os sexos,  com a participação em variadas brincadeiras e fantasias carnavalescas, além de jogos, bailaricos e partidas aos amigos aceites com a maior normalidade.

             De um modo geral, em cada lugar da freguesia se fazia uma concentração de rapazes e raparigas dispostos a "brincar ao Carnaval". Alguns, vestiam roupas gastas pelo uso, mesmo esfarrapadas,  normalmente, pretendendo parecer de sexo diferente tapando ou pintado a cara com "sarranho" (pó negro do fumo tirado com os dedos da porta do forno ou das panelas de ferro) e, se os conseguissem, colocavam óculos de sol.. Muniam-se de uma vara ou cacete , principalmente se  fosse a mascarada uma  raparigas para desencorajar os mais atrevidos que dela se aproximassem com intenções dúbias... saindo às vezes aos pares, de algures, para percorrerem os locais mais frequentados.

             O maior ajuntamento, porém, de pessoas acontecia no Largo da Feira. Aqui, faziam-se rodas de cerca de uma dúzia de elementos, e atiravam-se cantarinhas de barro vermelho de uns para os outros. Com ou sem intenção, alguns deixavam-nas cair provocando gargalhadas e comentários jocosos. Mas havia muitas peças para quebrar, porque, nesse tempo, eram feitas nas olarias da freguesia, no lugar do Outeiro, e não eram muito caras. Também serviam  para um jogo colocando-as penduradas nos ramos das árvores e , alguém,  com uma venda nos olhos e um pau na mão, tentava parti-las o que nem sempre acertavam ou o  faziam em pouco tempo. Também acontecia aparecer uma concertina ou um espontâneo a tocar realejo que eram aproveitados para formar bailaricos. Grandes bailes não havia por perto. Para participar em farras com muitos foliões (e folionas, pois claro!), teria que as procurar fora, em Viana ou Âncora, por exemplo, e pedalar ida e volta algumas dezenas de quilómetros. Conheci, quem o fazia...

             Esta brevíssima evocação do Dia de Carnaval em Lanheses,  fala de um costume que na atualidade poucos compreenderão. Seria impensável e, incompatível para os atuais hábitos e gostos da juventude, agora mais dada à frequência dos centros comerciais ou às climatizadas discotecas onde os shop (e o resto...) têm outro ambiente.

RC.

           

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