(15)FIGURAS E FACTOS DA HISTÓRIA DO
FUTEBOL LANHESENSE
Constam da equipa a maioria de jogadores mais referidos nesta fase: da esquerda, em pé: Lambranca, Elias, Pote, Viga, Chico da Rua, Neu do Augusto, Delmiro Costa. Em baixo, na mesma ordem: Rogério Agra, Fernandinho, Domingos Gomes, Janota e Rogério Dantas.
1.1.-REPRESTINAÇÃO DE PARTE DO CAMPEONATO DE 1956.
1.1.-REPRESTINAÇÃO DE PARTE DO CAMPEONATO DE 1956.
Em virtude de um salto de página dos
apontamentos que me ajudam a elaborar a descrição de alguns factos da história
do futebol Lanhesense, deixei para trás parte dos acontecimentos ocorridos no
campeonato de 1956 não descritos, que agora retomo reportados à data do jogo
realizado em casa contra o GD de Vila Nova de Cerveira.
A seguir ao tumultuoso confronto,
em casa, contra o Cerveira, o GDCP Lanheses teria de deslocar-se ao recinto do
Lanhelas para realizar uma das partidas mais competitivas e difíceis de
ultrapassar, quer pela valia do conjunto da freguesia do concelho de Caminha,
quer pelas “boas” nomeações de árbitros destacados pela direção da FNAT para as
partidas em que esta equipa intervinha.
O jogo antevia-se escaldante e rijo
para a equipa de Lanheses tendo suscitado uma enorme onda de mobilização dos seus
adeptos, traduzida numa falange de apoiantes que lotaram uma caravana com mais
de uma dúzia de camionetas, nessa tempo ainda não existiam autocarros e não
dispunham tantos lugares como os atuais, e grande parte de viaturas particulares,
motorizadas e, até um ciclista (!) para percorrer, ida e volta, uma distância calculada
de oitenta quilómetros! Não será exagero adiantar que mais de metade da
população residente de Lanheses foi a Lanhelas apoiar a equipa.
Os jogos entre as duas equipas
rivais das freguesias com nomes bastante confundíveis converteram-se no
clássico mais expectante e chamativo dos campeonatos da FNAT daquela época.
Por isso, e tendo em consideração
os antecedentes destes confrontos, foi excecionalmente nomeada para apitar a
partida uma equipa de arbitragem vinda da área de Braga.
FERNANDINHO. Poucos recordarão o Fenando porque veio de Lisboa para residir em Lanheses com um herdeiro da família Tinoco. Há muito que deixou de viver aqui, pelo que nada sei sobre a sua situação.
O encontro decorreu a 22 de
janeiro, tendo a formação de Lanheses jogado com a seguinte constituição: Lambranca,
gr., Ramiro, Artur Vale, Rogério Dantas, Zé Campela, Delmiro Costa, Chico da
Rua, Janota, Domingos Gomes, Adriano Lagoela e Fernandino. O meu nome, Remígio,
e o do Janota, vêm citados por lapso, já que quer eu próprio quer o Janota
estávamos a cumprir castigo como atrás ficou descrito. Aliás, recordo-me de ter
feito parte da caravana dos apoiantes ao jogo.
O encontro decorreu de forma
muito entusiástica e bastante equilibrado, terminando com um vantajoso empate a
1-1 para os visitantes, não sendo referido o autor do golo do Lanheses. Também
não se registaram incidentes de maior entre os assistentes.
O campeonato prossegui no dia 29
de janeiro no recinto do Campos, Valença, tendo incorporado a equipa de
Lanheses os seguintes elementos: Augusto, gr., Ramiro, Artur Vale, Rogério
Dantas, Zé da Campela, Delmiro Costa, Chico da Rua, Fernandinho, Domingos
Gomes, Janota e Adriano Lagoela. Como suplentes: Henrique e João Castro
(Latoeira). O resultado terminou com uma vitória do Lanheses por 0-2.
(O nome do Janota continua a entrar
na com posição da equipa sem que se saiba o motivo do levantamento da suspensão
que cumpria).
A 5 de fevereiro o Lanheses
jogou em casa e venceu o Ganfei pelo resultado de 6 golos e 1, estando a equipa
constituída do seguinte modo: Augusto, Ramiro, Artur Vale, Rogério Dantas, Zé
da Campela, Delmiro Costa, Chico da Rua, Fernandinho, Domingos Gomes, Janota e
Rogério Agra; como suplentes: Adriano Lagoela e João Castro (Latoeira).
Seguiu-se o jogo no parque de
jogos de Lanheses sendo adversário a equipa de Cerveira. O GDCPL foi
representado pelos seguintes jogadores: Augusto, Ramiro, Artur Vale, Rogério
Dantas, Remígio Costa, Delmiro Costa, Fernandinho, Adriano Lagoela, Domingos
Gomes, Janota e Chico da Rua. Venceu o Cerveira pelo resultado de 0-1. Nota:
tem sido nomeado como sendo Augusto o guarda-redes do Lanheses. Presumo que
seja o Lambranca porque não recordo
tal nome a jogar naquele lugar.
Na jornada seguinte ocorrida em
19 de fevereiro, a equipa de Lanheses foi jogar a S. Pedro da Torre, tendo
sofrido uma derrota pela diferença mínima: 1-0. Jogaram: Lambranca; gr.,
Rogério Dantas, Ramiro, Zé da Campela, Artur Vale, Remígio Costa, Delmiro
Costa, Fernandinho, Adriano Lagoela, Rogério Agra, Domingos Gomes, Janota e
Chico da Rua.
1.2.-LANHESES-LANHELAS, O JOGO QUE
ABALOU A CONTINUIDADE DO FUTEBOL EM LANHESES.
O dia 6 de março fica na
história como o “dia negro” do
futebol em Lanheses pela proporção dos graves acontecimentos ocorridos na
partida, os quais, poderiam ter atingido um nível de verdadeira tragédia.
O GDCP Lanheses recebia no seu
campo, o rival de Lanhelas no jogo da 2.ª volta do campeonato. Precavendo a
possibilidade de grande afluência de adeptos e a possibilidade real de se
criarem situações conflituosas dado o histórico acumulado entre as duas formações,
a direção de Braga da FNAT impôs aos dirigentes do Lanheses a requisição de uma
da força de ordem da GNR com mais elementos, para que a partida pudesse
realizar-se com a segurança necessária.
A constituição inicial da equipa
do Lanheses foi a seguinte: Lambranca, gr., Ramiro, Artur Vale, Rogério Dantas,
Zé da Campela, Delmiro Costa, Chico da Rua, Domingos Gomes, Remígio Costa,
Janota e Rogério Agra. Foram suplentes: Fernandinho e Adriano Lagoela. A
formação Lanhesense jogava na “máxima
força”, expressão usada no futebol para dizer que alinhava com os melhores
elementos do plantel.
O jogo, como se aguardava, foi disputado “ao rubro” mas sem grandes quezílias entre
os jogadores com as equipas a darem tudo que tinham para levar de vencida o
opositor. Com o resultado ainda em branco, a multidão de assistentes postada ao
longo da marcação do campo encostada à frágil vedação de madeira, agitava-se e
protestava ruidosamente contra as decisões do árbitro, ameaçado a todo o
momento. A certa altura da segunda parte, aconteceu a previsível invasão do
campo por parte de um número muito elevado de público, dando originem a um
verdadeiro pandemónio, com os agentes da ordem e os jogadores envolvidos na
tentativa de evitar o linchamento dos elementos da arbitragem, com empurrões e
puxões de camisolas, numa confusão generalizada que não permitia ouvir vozes de
acalmia e adotar atitudes conciliadoras.
Como todos os meus companheiros
andava também envolvido na refrega tendo sido a certa altura confrontado com um
sargento da GNR que tinha sido meu condiscípulo como estudante, que estava a
assistir ao jogo e vestido à civil depois de ter participado com amigos numa
confraternização numa freguesia para os lados da Montaria, na Serra d’Arga, o
qual, me questionou com uma pistola em punho, furioso, porque ainda andava eu
ali e que fazia.
Com os árbitros metidos a custo no
balneário e guardados à vista pela brigada da GNR, o ambiente fora deles não
abrandou, pelo contrário subia de tom e de ameaças. Foi, pois, com enorme dificuldade
que a equipa de árbitros saiu do recinto dentro de um automóvel, sendo
perseguido alguns metros por um grupo indefinido de uma turba de furiosos, mas,
também, rodeados de outros que os acompanharam ao lado e mesmo no tejadilho da
viatura na tentativa de os proteger.
Ofício da FNAT a exigir reforço policial nos jogos a realizar em Lanheses
1.3.-FORÇA
DA GNR VINDA DE VIANA DO CASTELO OCUPA O LARGO DA FEIRA.
Cerca de duas horas mais tarde e já no
Largo Capitão Castro onde se encontrava um número muito escasso de pessoas e em
ambiente de normal tranquilidade, apareceram de supetão quatro jeeps de um
contingente da GNR do quartel de Viana do Castelo, colocando-se os seus
componentes de armas em punho estrategicamente distribuídos pelo recinto contra
ninguém porque eram muito poucas as pessoas que por ali se viam. Contudo,
presenciei uma cena que ainda hoje permanece viva na minha memória. Foi o caso ocorrido
em frente à casa de João Castanho Correia (vulgo, João da espanhola) em que um
Lanhesense com mais de oitenta anos, Damião Queirós, oleiro, com problemas de audição,
não tendo percebido a ordem de um agente para sair do local onde se encontrava
parado e de mãos nos bolsos, a olhar o que se passava, estendeu a cabeça e com
o corpo inclinado para ele quis saber o que o agente lhe tinha ordenado. Foi
então que, sem mais aviso, levou uma tremenda bofetada que até eu à distância
senti a dor do velhote Damião.
Não sei o que sucederia se o mesmo
tivesse acontecido com a presença no local tantas pessoas como as que estiveram
no jogo.
Resultou dos acontecimentos que um
jogador da equipa do Lanheses e três assistentes receberam ordem de prisão e
foram levados nesse dia para Viana. Depois de os terem submetido a
interrogatório, passados dois ou três dias regressaram a casa, o nosso
companheiro de equipa com sinais de pneumonia que veio a confirmar-se e o
reteve em casa por muito tempo.
Ao Delmiro Costa foi atribuído um
louvor “pela maneira correta e decidida
como protegeu a equipa de arbitragem na tentativa de agressão da multidão,
mostrando ter um alto grau de qualidades desportivas e cívicas”.
Ao jogador Janota foi aplicada a
sanção de dez jogos de suspensão por “insultos
e tentativa de agressão ao árbitro”, e ao GDCP de Lanheses foi aplicada a
pena de interdição do campo por seis jogos.
Como se saberá, no seguimento destes
relatos, os acontecimentos tiveram uma repercussão desastrosa para a
continuidade do futebol em Lanheses.
Os acontecimentos agora relatados
podem assinalar o fim de uma era da história do futebol em Lanheses.
Não disponho de registo fotográfico respeitante
à época aqui descrita. Na equipa inserida constam os jogadores até agora mais
citados
O que restou da época em curso está
descrito no capítulo anterior deste trabalho.
(Continua)
Remígio
Costa
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