quarta-feira, 23 de maio de 2012

CONTO SEM PONTO


O TESOURO DA MINA DE VOLFRÂMIO

                                         (Parte Um)

              Esta, podia ser uma aventura igual às que são próprias dos sonhos ou uma vez na adolescência lemos numa revista da banda desenhada; porém, apesar de já terem decorrido muitos anos sobre o tempo em que ela aconteceu, ainda agora vive quem possa confirmar a veracidade da história que aqui se pretende contar.


Era uma vez…

Não, só as histórias imaginadas começam assim. Esta é verdadeira e, como tal, deve ser contada como se tivesse sido eu um dos protagonistas dos sucessos em  verdade acontecidos. Vou, primeiro, dar a conhecer os heróis , se assim os posso considerar, da aventura que viveram e refazer, tanto quanto a memória mo permitir, o ambiente da época atribulada em que ela se desenrolou e eu a conheci e entendi.

                Era tempo de Verão pleno. Com as actividades lectivas suspensas alargavam-se os dias em que as crianças que não eram obrigadas a trabalhar no campo a ajudar os pais na vida dura da agricultura ou a apascentar o gado pelos prados e montes, ocupavam o seu tempo a executar pequenas tarefas domésticas e a fazer recados e, na maior parte do dia tão longo naquela estação, divertiam-se em brincadeiras na estrada de macadame em frente de casa ou nos largos onde se pudesse correr atrás de um arco, de uma bola de trapos ou no jogo ao pião.

               Nessa altura a febre do negócio da exploração do volfrâmio que endoidou uma grande parte das gentes das aldeias do norte do país, embora tivesse conhecido níveis muito elevados já se tinha em parte diluído passados que estavam alguns anos sobre a capitulação do nazismo hitleriano que pôs fim á hecatombe  da  II Grande Guerra , diminuindo o uso do tungsténio  com a consequente descida de cotação  do preço da matéria prima donde era extraído . A exploração mineira continuava porém bastante activa por estas bandas  e ocupava grande parte da população masculina e feminina na recolha e comércio do minério, em prejuízo dos interesses da agricultura de subsistência que agonizava, abandonada.

               Os dois irmãos heróis desta aventura não tinham mais de catorze anos o menos jovem e pouco mais de doze o benjamim. Naturalmente, que a envolvência no negócio da compra e venda do estanho de  alguns membros da sua família  e as conversas sobre a exploração mineira e todo o subsequente   tratamento processado  nas lavarias, bem como a visualização dos locais e o modo como era extraído da terra, não podiam deixar de estimular e influenciar o espírito de aventura que germinava a todo o vapor no ânimo dos dois jovens.

               Aproveitando uma ausência ocasional dos seus progenitores que tiraram  um curto período de férias para tratamento num estância termal nas Taipas , os dois rapazes decidiram imitar os adultos e, como eles, dedicarem-se à exploração do minério sedutor. E prepararam-se logo para isso, munindo-se dos utensílios e da ferramenta apropriados que tinham disponível em casa para aquele fim: um carrinho de mão recém-construído feito em madeira onde desenharam numa parte lateral o nome de uma imaginária companhia mineira –Quenhas  & Filhos Ldª-, (o Quenhas era alcunha de um “pilha” muito conhecido nessa época pelos seus processos nada ortodoxos de obter o estanho…sem cavar em mina própria), uma picareta, uma pá e uma gamela talhada numa peça de madeira de amieiro que era usada para a lavagem manual da terra que continha as pepitas escuras do minério.  Nos bolsos dos calções pelos joelhos com tiradeiras  (alças)  cruzadas a segurá-los, uns bons nacos de broa de milho (o mais novo sempre andava com os bolsos repletos deles, a parte mais dura), um troço de chouriço picante do fumeiro caseiro  e maçãs quantas neles coubessem.

                Rum, rum, rum, ora um ora outro a pegar nas mangas do transporte, lá seguiram para o monte até um bouça de mato e pinheiros pertencente à família onde tencionavam escavar o buraco e  esperavam achar o tesouro (a saga pode sugerir a odisseia de Santiago, do Alquimista, de Paulo Coelho, mas tem pouco a ver com ela porque o caminho a percorrer era muito mais curto e sem obstáculos a vencer como os que o jovem de Andaluzia teve que enfrentar), localizada no perímetro  onde decorria intensa exploração mas algumas centenas de metros dela afastada  e que  nunca fora  objecto de prospecção mineira.  

              Lá chegados e escolhido o local foi dado início à escavação. Ao fim de pouco tempo e quando nem um palmo de cova tinha sido conseguido abrir, os manos começaram a pensar que a empresa não seria coisa fácil se continuassem a tentar furar a piçarra da cor e consistência do ferro que se lhes deparou uns centímetros abaixo do mato e da carqueja. Abandonaram a parte alta onde começaram a exploração e desceram para o centro da bouça onde a estrutura terráquea parecia mais acessível ao bico da picareta e proporcional à força dos pouco calejados escavadores. A tarde já ia diminuindo quando a vontade de regressar era já um apelo difícil de não ouvir e o ar dos pinheiros embora saudável ocupava já boa parte  da bolsa do estômago. Juntaram a ferramenta no Quenhas & Filhos, Ldª e retomaram o caminho de regresso a casa pelo mesmo percurso que os levar até ao sonho.

                                                                                      (Continua)

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