quarta-feira, 28 de julho de 2010

E O BURRO SOU EU, É, É,!?

      
   
Não faço qualquer ideia por que é conhecido por burro o rectângulo de barro compacto de cor avermelhada que até há poucos anos era cozido nos fornos das cerâmicas de Lanheses. Tal como os simpatiquíssinos e prestáveis equídeos homónimos, a quem, aliás, já foi concedido o estatuto de espécie a proteger para se evitar a sua extinção, também aquele útil produto utilizado na construção indiferenciada e adorno atravessa uma fase de menor emprego e aplicação.


         No entanto, são ainda, felizmente muito abundantes entre nós exemplos da preferência que já teve no passado, podendo ser encontrado em colunas, arcos de entradas, muros, chaminés, lareiras  e fornos antigos, dadas as suas características ímpares de refracção e resistência térmica.


         O tijolo burro fabricado pela antiga cerâmica de Lanheses, dada a excelente contextura da matéria prima que se extraía do amplo subsolo em que assenta quase toda a freguesia, era de excelente qualidade e tinha muita procura. Actualmente, pode ser visto aplicado no edifício que foi a Casa do Povo, ao Largo Capitão Gaspar de Castro, na antiga Escola Primária, na serração de madeiras (que já foi lagar de azeite) no Lugar da Rocha (Salvaterra) e na que foi a última fábrica da transformação do barro em Lanheses, da propriedade do falecido José Martins Agra, para só referir os mais significativos e acessíveis ao público. Também, no Largo acima referido, as colunas que suportavam os tubos de delimitação entre o espaço de lazer e a via de circulação de trânsito, a norte, eram construídos em tijolo burro. Desgraçadamente, no projecto de requalificação a que o espaço foi sujeito há poucos anos, não lhe foi reconhecido interesse e acabaram abatidos.



        Atentas as qualidades, estéticas e funcionais, que as múltiplas aplicações dele permite extrair, não se entende muito bem a razão do seu quase apagamento como produto de qualidade. É caso para concluir, com o desabafo do Scolari, a propósito das críticas de que era alvo:

        -E o burro sou eu, é, é?

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