quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

SEJAM FELIZES, NÃO LEIAM AGORA!

           Está convencionado que hoje é dia de celebração festiva e, pelo menos uma parte da população portuguesa  prepara-se para a chegada do ano de 2010 e, formular, ao cair das doze badaladas do relógio do tempo, os votos que farão dele um ano venturoso e melhor do que aquele que agora termina. Como em todos os dias do ano, uns terão mais razões do que outros para festejar, condicionados que todos estamos às contingências das nossas vidas pessoal e familiar. Certo é que, hoje, uns estarão plenos de optimismo e o champanhe jorrará para as taças levantadas no ar, os beijos selarão os afectos familiares e de amigos doces como as passas que não se podem dispensar. A outros, vivendo momentos de preocupação e de dúvida, fenecerá a vontade para exteriorizar sentimentos de alegria e guardarão silenciosamente os votos que reservam para a concretização do que mais anseiam.
          Não querendo de modo algum contribuir para deteriorar o estado de espírito de ninguém e muito menos daqueles que, circunstancialmente, por aqui passarem, deixo a seguir a transcrição (parcial) de uma crónica de Miguel Sousa Tavares, publicada no jornal Expresso, com a renovação do pedido implícito no título que escolhi.

                                                                                                                                                                                    
 ..."Anteontem no Parlamento, embora o tom fosse excepcionalmente calmo, o conteúdo das intervenções do primeiro-ministro denunciou alguém que está tudo menos calmo. José Sócrates começa a ter reacções cada vez mais sintomáticas de quem se sente acossado. Acossado pela crise económica que dá apenas débeis sinais de poder inverter o seu curso em 2010, acossado pela derrapagem sem fim das contas do Estado, acossado pela oposição, à direita e à esquerda, e agora resolveu sentir-se também acossado pelo Presidente da República
....................................................
 No Parlamento, quando Manuela Ferreira Leite lhe perguntou pela décima quinta vez (e nunca serão de mais!) como vamos nós pagar as brincadeiras com comboios, aviões, pontes e auto-estradas, tudo o que Sócrates conseguiu responder-lhe foi que quem compromete as contas públicas é a oposição, ao aprovar a suspensão dos pagamentos especiais por conta do IRS e do IRC. Segundo ele, tal custará ao Estado 800 milhões de euros de receitas a menos (já foram 400, depois 600, agora o número vai em 800 e é provável que continue a subir, à medida que o desespero se vá instalando do lado das Finanças). A resposta revela três coisas: demagogia da parte de um Governo que tem permitido toda a espécie de contratos leoninos do Estado com os particulares, parcerias público-privadas feitas irresponsavelmente, operações ruinosas de salvação de bancos de vão de escada e contínuas injecções de capitais públicos em empresas públicas eterna e impunemente deficitárias, enfim, toda uma série de maus hábitos instalados na administração e cujos custos fazem os 800 milhões parecer uma gota de água num oceano de despesismo e incompetência absolutos; depois, a resposta esconde uma pequena mentira: a de que o Estado perderá assim uma receita, quando o que simplesmente se passa é que deixa de a antecipar, como até aqui; e, finalmente, mostra também a concepção que o PM tem do caminho para a salvação económica: tudo o que seja tirar dinheiro aos particulares e às empresas para dá-lo ao Estado, que depois o distribuirá pelos clientes dos grandes investimentos públicos, isso sim, é boa política.
...........................................................................

São crescentes os sinais de desorientação na maioria e na governação do país. Claramente, não há um rumo definido para enfrentar estes tempos tão complicados, excepto a fé cega nos TGV e auto-estradas adjudicadas de qualquer maneira e por qualquer preço. Desenterrar dossiês como o da regionalização (a última coisa que José Sócrates gostaria de ter de enfrentar nesta conjuntura) apenas serve para mostrar a desorientação que se apoderou do primeiro-ministro e o seu desespero de espingardear para todos os lados, criando uma tamanha confusão no campo de batalha que já ninguém saiba quais as ameaças, onde está o inimigo, que estratégia e que armas usar. Perdido de si mesmo, Sócrates ensaia o papel do guerrilheiro, cercado por todos os lados mas disposto a resistir, numa qualquer Sierra Maestra que os Lelos de serviço ao PS propagandeiem. E daí a sua última tentação: trazer o Presidente para o campo de batalha e dar-lhe a escolher, de pistola apontada, uma de duas opções: ou está do nosso lado ou é inimigo.
 .......................................................................
Esta sensação de desnorte atravessa todo o Governo, como um barco à deriva sem ninguém ao leme. Não se consegue enxergar um único ministro que pareça estar a governar, além da ministra da Educação, que tenta achar a meias com os sindicatos uma forma de governar a Educação. Mas já sabíamos (e nem era preciso esperar que o FMI viesse agora dizê-lo) que o falhanço das reformas tentadas pelo anterior e maioritário Governo de José Sócrates é a razão principal pela qual vamos ser o país de toda a zona euro que mais tarde e em pior situação irá sair da crise. Realmente, a história está contada de há muito e já só os farsantes é que podem fingir não saber: quando se tem oportunidade de mudar o que deve ser mudado e não se aproveita, a mudança só se fará depois à custa de muito sangue, suor e lágrimas. Até certo ponto, eu compreendo o desnorte de José Sócrates: quando quis mudar o que tinha de ser mudado enfrentou a oposição, a rua e todos os poderes corporativos instalados e depois desabou-lhe em cima uma crise financeira importada de fora e sem possibilidades de ser evitada; e agora, que já nada quer mudar mas apenas navegar à vista, acusam-no de nada fazer para enfrentar a tempestade que aí vem. Mas é justamente nestas alturas que os verdadeiros líderes se revelam... ou naufragam, sem honra nem glória.
2.

ISTO NÃO DEVE TER NADA A VER CONNOSCO. OU TERÁ?
"Está a chegar a Luanda o mais recente brinquedo do Presidente José Eduardo dos Santos: um iate de luxo, seguramente comprado com o seu salário, que ronda os 4000 euros, e cuja tripulação é recrutada em Portugal, com vistos passados em 24 horas. E, enquanto o Presidente se prepara para navegar nas tépidas águas do Mussulo, a sua filha, a elegantíssima empresária Isabel dos Santos, não pára de aumentar a sua fortuna nascida do nada. Com a anunciada compra esta semana de parte do capital da Zon, Isabel dos Santos tem já investidos dois mil milhões de euros em empresas portuguesas. É um excelente negócio para estas empresas, que não apenas recebem capitais frescos como também recebem de braços abertos um parceiro estratégico que lhes garante participação nos melhores e mais favorecidos negócios angolanos. Pena que não reservem uma pequena parte dos lucros para financiar próteses para as crianças vítimas da guerra civil angolana, para construir habitação social para os milhões de favelados de Luanda ou para criar esgotos e infra-estruturas básicas que dêem à imensa maioria da população miserável condições mínimas de dignidade. Porque, até prova em contrário, a riqueza de Angola pertence a todo o seu povo e não apenas aos que se passeiam em iates de luxo e vêm a Lisboa comprar roupas de marca, jóias ou empresas de telecomunicações. Nunca tão poucos tiraram tanto a tantos" 
Texto publicado na edição do Expresso de 24 de Dezembro de 2009

1 comentário:

  1. Pinto da Costa poderia ser a "figura do ano"? Aos 72 anos, o mais titulado dirigente do futebol português, confrontado com um conjunto de acusações resultantes de um pífio processo denominado Apito Dourado, contaminado até à medula por falhas processuais, mas também por uma grande vontade de o condenar sumariamente, como foi evidente por uma certa imprensa lisboeta que cavalgou a "onda Carolina Salgado", explorando-se - sob a égide comercial - o que tem de pior a rivalidade entre o Benfica e o FC Porto; sem querer fazer "juízos de caráter" nem tomar partido pela "clubitização da justiça" - qualquer coisa muito perto deste fenómeno de inaceitável contaminação da politização do meio judiciário, talvez se possa concluir que Pinto da Costa venceu o seu próprio sistema. É uma vitória de Pirro, perante o imperativo exigético da credibilidade, que cada qual toma e "domina" à sua maneira? Talvez seja. Mas é uma vitória.
    _Rui Santos (Record)

    Um presente de Natal atrasado.

    BOM ANO 2010

    Manuel de Lima.

    ResponderEliminar

NOVILHOS DA PÁSCOA DE PRODUÇÃO DOMÉSTICA

                  Foram selecionados os produtores dos novilhos donde sairão os "bifes da Páscoa" como é uso e costume na quadra p...