quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

POLÍCIAS DE FAZ DE CONTA

           Vamos brincar aos polícias e ladrões? Sim? Então, em sou o ladrão e tu o polícia. Para mim um telemóvel topo de gama, uma caçadeira de canos serrados, pistola automática de funcionamento garantido, uma metralhadora de repetição automática, meia dúzia de granadas de fragmentação, colete garantidamente à prova de bala e viatura de alta cilindrada, não fazendo distinção entre BMW, Audi, Mercedes e outros bólides em stock, que as operações car jacking são eficazes e criteriosas na selecção. Para ti, polícia, podes usar esta Mauser , com perfomance comprovada desde a II Guerra Mundial, esta pistola  recentemente chegada de um prestigiado país da Europa solidária, que custou à fazenda pública os olhos da cara mas valeu a pena, à qual terá sido já corrigida a minudência de perder o carregador sempre que era usada, um colete à prova de nada (talvez do frio dos arrepios de medo numa operação de risco) a não ser que o compres na feira da ladra (na província não aparece com tanta frequência, o mercado é escasso...) a expensas tuas, ainda podes levar algemas o que é uma vantagem acrescida, o cassetete pode ficar, avisadamente, na esquadra (há sempre o risco de cair nas mãos do marginal e não vá ele lembrar-se de o utilizar para  fins menos ortodoxos..), esta excelente viatura com as inspecções em dia e, ah!, uma bisnaga de gás hilariante, mostarda ou pimenta há essas opções, sobrante do contingente que actuou no Euro2004, uma verdadeira e inesperada surpresa que qualquer delinquente com curriculo só equacionaria encontrar num arsenal digno de um RAMBO, e que ele muito apreciará se for utilizada, pela sensação da frescura da água por ela expelida na sua face.
              Como atrás fica descrito, em termos de potencial bélico as forças equivalem-se, não concordam? Reza, polícia, antes de entrar no jogo, para que nada corra mal. Se for o caso não te apoquentes. Podes ter a fortuna de encontrar no tribunal um juiz compreensivo e não vás dentro ou não sejas suspenso de funções, até aposentado compulsivamente, se o teu advogado, indicado pelo sindicato, mostrar a competência necessária que se lhe exige.
               No que me diz respeita, se algo não correr tão bem como o previsto ( hipótese só de considerar academicamente, como é óbvio), circunstância que, sejamos honestos, não é muito provável, há sempre a possibilidade de recorrer a um mediático jurista, bem cotado e conotado social e politicamente, patrono de prestigiadíssimo escritório de advogados, perito em deslindar a engenharia esotérica da lei cozinhada na magna assembleia sempre infalível e isenta, que conseguirá prorrogar até às calendas gregas, o mesmo é dizer até à prescrição, a execução da sentença e não deixará, isto é garantido, de propor acção de reparação de dolo moral e patrimonial causado à boa reputação e imagem conferidas ao delinquente. Na prisão é que não me apanham! Olaré! Não que as notícias que dali me chegam de alguns pensionistas colegas de profissão sejam intimidadoras, antes pelo contrário: bom trato, cama e mesa, televisão, droga e seringas descartáveis grátis, visitas de namoradas, legítimas ou não tanto faz, descanso, para não falar das saídas precárias e pulseiras electrónicas para uso doméstico.
               É melhor ficar por aqui. Não sinto qualquer prazer em desmoralizar quem se dedica a fazer de polícia numa sociedade anestesiada, abúlica, que, cada vez mais, co-existe com a subida da ilegalidade ao poder em todos os níveis da hierarquia em que ela está estruturada. Se, actualmente, é reconhecido estar a economia mundial em 20% nas mãos do crime organizado, gozando em alguns casos de cobertura institucional dos governos do próprio país, quanto tempo faltará para a legalidade ter de passar à situação de clandestinidade?
       

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