sábado, 21 de abril de 2018

SANTO ANTÃO: FALTAM À FESTA OS ANIMAIS DOMÉSTICOS MAS MANTEM-SE A TRADIÇÃO.



           Celebrada quarenta dias depois da Páscoa na quinta feira da Ascensão, a festa que homenageia Santo Antão, o orago protetor dos animais domésticos que é venerado na pequena ermida no alto do outeiro do lugar com o mesmo nome da freguesia de Lanheses, concelho de Viana do Castelo, é agora e desde há já alguns anos por opção da entidade eclesiástica que tutela e regula o  calendário destas ocorrências, celebrada no domingo imediatamente seguinte. A evocação mantém nos atos o carácter cerimonial religioso cristão consentidos pela Igreja, mas perdeu radicalmente o principal objeto da sua promoção pela ausência quase total de animais domésticos, os seus principais protagonistas.

        A partir da segunda metade do século passado, e por razões explicáveis que não é necessário agora justificar, foi reduzindo gradativa e drasticamente a apresentação no recinto de animais utilizados na lavoura, de consumo e companhia domésticos, designadamente da raça bovina, ovina, equina e de aves de capoeira, e outros de guarda e estimação que viviam (e vivem) no espaço familiar, os quais eram levados em romaria pelos respetivos donos vindos dos diferentes lugares da freguesia e das que se encontram na sua periferia, com o objetivo de beneficiarem de uma benção especial durante a celebração da Missa campal que decorria em frente à capela, após ter chegado a procissão vinda da Igreja paroquial, e de ouvirem um pregador convidado proferir um sermão ajustado à especificidade da celebração. Ficou famosa na forma e no estilo a eloquente oratória do padre Armando, pároco residente da confrontante freguesia de S. Pedro de Arcos, orador consagrado convidado durante vários anos. 

        O evento continha as características próprias das manifestações populares da época, de que atualmente se recalcam hábitos e costumes em desfile das mordomias e na arrematação dos tabuleiros, que elas próprias compunham com bens de produção familiar, presunto e chouriços de fumeiro, galináceos vivos ou prontos para comer, pão de milho de fabrico caseiro, coelhos manso ou bravo ou aves de caça, bolos e doces artesanais, azeite, fruta da época, e que decorria no coreto da banda de música construído por varas de pinheiro ornamentadas com buxo e flores pelos grupos de mordomos e mordomas dos santos durante a semana anterior à festa, quase sempre licitados pelo namorado ou membro da família para consumir no local à sombra das frondosas árvores do local ou nos cobertos das habitações próximas.

       Uma característica desta festa antiga de Santo Antão e que se converteu numa tradição arreigada e com popularidade florescente, é a do cabrito à moda da Tia Nina, e correspondente sarapatel, uma iguaria confecionada  a partir de alguns dos órgãos internos do animal onde o molho picante e a contextura da composição a tornam, para os apreciadores, verdadeiramente apetecível, ainda mais se complementada com um verde tinto carrascão da região bebido por uma generosa tigela de barro vermelho.

       Como inicialmente foi referido, a festa a Santo Antão Abade tem cariz e prática profundamente religiosas, os quais têm vindo a ser escrupulosamente cumpridos com a participação alargada da população local e forasteira. 

       O programa da festa do ano corrente é o que, a seguir, está inserido.

       
Remígio Costa

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