sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

AS "ALMINHAS"

     


    As alminhas representam uma tradição religiosa cristã católica exclusiva de Portugal, nascidas do Concílio de Trento no século XVI. Existem em quase todas as regiões do nosso país e são muito comuns no norte, designadamente no Alto Minho. São normalmente construções simples de menor dimensão, erigidas perto das bermas das estradas e caminhos, rotas rurais de peregrinos, de passantes com itinerário escolhido para alcançar um destino pré-concebido, mas também perto de cruzeiros e embutidas na frontaria de capelas, junto a igrejas ou outros templos de raiz religiosa. 

    As alminhas visavam, sumariamente, proporcionar aos viajantes momentos de oração e evocação dos entes queridos falecidos, bênçãos e perdão de pecados cometidos, cumprimento de rituais comuns na evocação das almas do Purgatório e ofertas de agradecimento pelas graças obtidas. Todas guardavam um retábulo configurando uma determinada imagem ou figuras religiosas ou um fundo com painel de cenas bíblicas, nomeadamente, do Purgatório. 

    Da preservação e manutenção permanente destes pequenos templos cuidava tradicionalmente uma família ou pessoa a quem era confiado esse cuidado. Além dos arranjos de pintura e embelezamento geral, havia que manter acesas permanentemente as velas e a luz dos candeeiros, sem esquecer a colocação e rega de remos de flores.

    O desaparecimento das alminhas está a acontecer em ritmo vertiginoso. É cada vez maior o número das que se encontram abandonadas e degradadas, desativadas ou pouco cuidadas. O facto explica-se pelo crescente alheamento coletivo das comunidades pela preservação das tradições e hábitos religiosos, sendo contudo a mais relevante a que advém da falta de cuidadores para assumir o lugar dos tratadores que vão desaparecendo.

    As entidades locais, designadamente as autarquias, não têm demonstrado a devida preocupação para assumir a preservação deste património cultural das comunidades que tutelam.

    Em Lanheses estão referenciadas cerca de meia dúzia destas simbólicas capelinhas, incluindo um retábulo aberto na parede de uma moradia. Há anos, identifiquei-as todas e escrevi sobre elas neste blogue. Não fiz agora a via sacra para a confirmação, mas, não alimento a convicção de que todos estejam vivas, isto é, cuidadas e notadas. A representada no retrato acima, a que ainda aparenta ter alguém a prolongar-lhe piedosamente o estertor da morte próxima, está no Campelo, junto à estrada municipal 202, ao lado da residência que foi da sua última zelosa cuidadora.

Foto: doLethes   
   

    

    

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