sexta-feira, 18 de maio de 2018

EMERGE DA RUÍNA A MEMÓRIA DA FONTE DO CRELO

                                     FONTE D0 CRELO


 Observando o trabalho feito na designada "fonte do Crelo" , situada ao fundo da vertente nordeste do lugar da Corredoura, poder-se-ia comparar a alguém a quem cortaram o cabelo mas esqueceram de fazer a barba. No seguimento da limpeza do arvoredo e regularização do terreno particular no sopé do qual ela se situa, a fonte aparece despida do arvoredo e das silvas que a tapavam deixando à vista a frente granítica em arco com a designação de "Junta da Freguesia de Lanheses" gravada em baixo relevo, onde corre um fio de água pela abertura onde esteve uma torneira, tem ao lado a descoberto ainda igual ao que era o depósito de chafurdo, no patamar acima e à esquerda a abertura destapada da mina de captação, e em baixo e à frente o que resta de um tanque de lavar roupa à mão. Tudo isto, "em grosso", o que significa que, limpo o bosque que a escondia como às orelhas e ao pescoço até aos ombros o cabelo a um hippy, restaram depois dispersos uns pelozitos na face e no buço a desmerecer da competência do barbeiro. Que pena!



     Tristeza, porque a "fonte do Crelo" pela importância que teve para os habitantes do lugar até à chegada ao domicílio da água canalizada, foi o único local público de abastecimento de água potável para consumo doméstico. Todos os que não tinham poço próprio, e os que o possuíam quando no fim do estio secava, iam encher os cântaros de barro (ou barricas e pipas se tinham animais ou indústria para a consumir) cerca de trezentos metros abaixo do povoado, voltando com eles cheios à cabeça ou carro de bois, para despejar em outros maiores em casa e encher potes e panelas se não tivessem tropeçado num calhau solto ou escorregado na lama e os desfizessem em cacos. Era lá, também, que se levava o gado, bovino e ovino, principalmente, a dessedentar-se. E, lá vai uma inconfidência, "tirar duas" de um cigarrito às escondidas dos pais. Fiz isso algumas vezes.


     Entendo que ao sítio é devida a atenção que outros locais similares tiveram, e estão identificados (por agora...) e relacionados no roteiro do eco-museu da freguesia de Lanheses. A História que o sítio transporta dos tempos cuja memória já não tem quem humanamente a credibilize, é todavia grande e merece evocação como património imaterial da freguesia. Relembre-se, que a frente da pedra lavrada da fonte é parte (principal) da que esteve no então denominado Largo da Feira (com ela veio também uma pedra trabalhada para a colocação dos cântaros mas levou sumiço...), a qual tinha sido inaugurada festiva e oficialmente no início dos anos trinta vindo a ser desmantelada após a edificação do fontanário cilíndrico existente no espaço norte do Largo, onde correu a água da designada fonte da Rebiqueira, esta entretanto também fechada ao abastecimento público.  

                      Bebedouro de chafurdo


     Aceita-se que a fonte em si mesma não tenha atualmente relevância como bem de consumo público, mas também a não tinham as da Rebiqueira e de Gondizalves, as quais foram restauradas e valorizadas. Estão mais visíveis.

                      Fonte e bebedouro de animais

                      Boca da mina
                               
                                Conjunto

                       A Fonte

                                Chegada à Fonte do Crelo

    
                                Início da Rua da Fonte do Crelo
 

 Fotos: doLethes
Remígio Costa

     

  

      

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