segunda-feira, 8 de agosto de 2016

É FOGO QUE ARDE SEM SE VER.

                         O sol, esta tarde.

            Não se veem labaredas mas o fumo das fogueiras escondidas além das montanhas que formatam o extenso Vale do Lima, à direita e à esquerda, escondem quase por inteiro o azul do céu onde o sol a custo permanece incandescente como Mercúrio, o seu mais próximo vizinho. O ar respira-se como se fosse dentro de forno após a cozedura das peças de cerâmica (nunca passei da porta de entrada de um nem meti a cabeça no forno de cozer a broa apesar da pressa em saborear a bola quente de farinha de milho com chouriço que a mãe metia no forno da cozedura com a fornada), chove limalhas negras levantadas pela dinâmica das fogueiras adivinhadas, não bole uma folha da ramagem das árvores nem se houve o canto nem se sente o voo de pássaros inquietos entre os salgueiros das margens do Lima, hoje ainda mais dolente no seu deslizar, cansado, cinzento , esvaindo-se como chumbo derretido em caleira de ferro fundido.

         Sufoca-se. Ar limpo, é essencial à (boa) vida.

         Não, não é o fogo idílico que inspirou Camões , é o inferno bíblico da cremação de almas, é a realidade de um mundo absurdo, amoral, que se imola a si próprio num sacrifício sem causa nem sentido.

          Condição humana.


 
                                       OS MONTES



                                     O LIMA




Fotos: doLETHES
Remígio Costa

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