domingo, 23 de junho de 2024

BALADA DO CAIXÃO, do poeta ANTÓNIO NOBRE

 


 BALADA DO CAIXÃO, 

DO POETA ANTÓNIO NOBRE, OBRA sob o título "SÓ". 

"...O LIVRO MAIS TRISTE QUE HÁ EM PORTUGAL"

(Único do poeta)

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  BALADA DO CAIXÃO,

O meu vizinho é carpinteiro,

Algibebe de Dona Morte, 

Ponteia e coze, o dia inteiro,

Fatos de pau de toda a sorte:

Mogno, debruados de veludo,

Flandres gentil, pinho do Norte...

Ora eu que trago um sobretudo 

Que já me vai aborrecer,

Fui-me lá ontem (era Entrudo),

Havia imenso que fazer...):

-Olá, bom homem! quero um fato,

Tem que me sirva? -Vamos ver...

Olhou, mexeu, na casa toda.

-Eis aqui um e bem barato.

-Está na moda? -Está na moda.

(Gostei e nem quis apreçá-lo:

Muito justinho, pouca roda...)

-Quando posso mandar buscá-lo?

-Ao pôr do Sol. Vou dá-lo a ferro.

(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)


Ó meus amigos! salvo erro,

Juro-o pela alma, pelo Céu:

nenhum de vós, ao meu enterro,

irá mais dândi! olhai! do que eu!


Paris, 1891

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ESTES (versinhos) SÃO MEUS 

 

O que me havia de dar

Hoje, que é São João:

Um poema divulgar 

Oposto à diversão.

 

Se o poeta pudesse

Agora ressuscitar,

Antes que a noite viesse

Punha-se logo a dançar.

 

Desvestiu o capote,

Foi comprar um alho-porro  

Para dar com ele, à sorte,

Como faria um tolo.

 

Meu caro António Nobre,

O divertir requer hora,

E libertares-te da morte

É ato fora de moda.

 

Veste de novo o capote,

Pois até te fica bem;

Faz as pazes com a morte

que melhor vida já tens.


Remígio Costa

 


 


 



 

 



 


 

 


            

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