BALADA DO CAIXÃO,
DO POETA ANTÓNIO NOBRE, OBRA sob o título "SÓ".
"...O LIVRO MAIS TRISTE QUE HÁ EM PORTUGAL"
(Único do poeta)
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BALADA DO CAIXÃO,
O meu vizinho é carpinteiro,
Algibebe de Dona Morte,
Ponteia e coze, o dia inteiro,
Fatos de pau de toda a sorte:
Mogno, debruados de veludo,
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai aborrecer,
Fui-me lá ontem (era Entrudo),
Havia imenso que fazer...):
-Olá, bom homem! quero um fato,
Tem que me sirva? -Vamos ver...
Olhou, mexeu, na casa toda.
-Eis aqui um e bem barato.
-Está na moda? -Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda...)
-Quando posso mandar buscá-lo?
-Ao pôr do Sol. Vou dá-lo a ferro.
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)
Ó meus amigos! salvo erro,
Juro-o pela alma, pelo Céu:
nenhum de vós, ao meu enterro,
irá mais dândi! olhai! do que eu!
Paris, 1891
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ESTES (versinhos) SÃO MEUS
O que me havia de dar
Hoje, que é São João:
Um poema divulgar
Oposto à diversão.
Se o poeta pudesse
Agora ressuscitar,
Antes que a noite viesse
Punha-se logo a dançar.
Desvestiu o capote,
Foi comprar um alho-porro
Para dar com ele, à sorte,
Como faria um tolo.
Meu caro António Nobre,
O divertir requer hora,
E libertares-te da morte
É ato fora de moda.
Veste de novo o capote,
Pois até te fica bem;
Faz as pazes com a morte
que melhor vida já tens.
Remígio Costa
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