O ritual católico da celebração pascal em Lanheses não sofreu alterações de vulto desde meados do século passado, mantendo os atos bíblicos prescritos e a solenidade que lhes era devida. Assim, no domingo que antecede o Dia de Páscoa, Domingo de Ramos, decorre na linda e histórica Capela do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades a cerimónia da benção das palmas pelo pároco da paróquia, donde sai depois em procissão para a Igreja local ao lado, à frente da qual vai o Mordomo da Cruz com a belíssima Cruz da Confraria do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades, seguido do pároco residente e dos fiéis presentes na cerimónia cada qual levando folhas de palmeira antes benzidas, onde decorrerá a Eucaristia dominical pascal.
Na Missa da manhã do domingo de Páscoa decorre no altar-mor da Igreja o ato da entrega da Cruz ao novo Mordomo pelo que exerceu as mesmas funções no ano anterior.
Finda a missa sai de Igreja o Compasso assinalado pelo toque dos sinos da torre e o estrondo de foguetes, composto pelo pároco residente ou substituto autorizado, o mordomo do ano em curso com a Cruz ao ombro, um elemento encarregado de levantar envelopes expostos na mesa ornamentada com possíveis dádivas em dinheiro, um para o representante paroquial e outro para o mordomo, que pode ser desempenhado por elemento feminino vestida com fato "à lavradeira", ou masculino, um jovem com a missão de recolher possível esmola do dono da casa, outro a quem compete levar a caldeira da água benta com que é abençoado lar visitado, e o moço da campainha para assinalar a chegada e a partida do séquito pascal. Todos de capa e luvas brancas.
É dada a Cruz a beijar em primeiro lugar aos donos da casa, após o decurso do ritual católico, e seguidamente a todos os presentes. Com mais ou menos tempo de confraternização e cânticos alusivos à Ressurreição de Jesus Cristo, o Compasso sai ao som frenético da campainha, sendo agora maior a demora do tempo da visita do que no passado.
Num período confinado aos anos mais recentes as receções pascais converteram-se em algumas casas (poucas) em abastados festins ou bodas de casamentos, apresentadas com recheadas e variadas ementas servidas sem restrições ou seleção de visitantes. Provavelmente, serão já ainda menos aquelas que repetem o atrativo cardápio posto à disposição de amigos e outros que aparecem sem convite ou conhecimento pessoal da família visitada.
A cerimónia pascal repete-se em cada uma das casas que "abra a porta" ao Compasso, o que, segundo o que tem vindo a constatar-se no decorrer dos anos, são cada vez menos desde os meados do século XX, com tendência para continuar a descer. Em tempos relativamente recentes, no fim das visitas de cada dia, o povo acompanhava em procissão o Compasso até à Igreja para participar na cerimónia especial da recolha do Compasso, sendo que, atualmente, são cada vez menos aqueles que integram a procissão a pé pelo facto do uso generalizado do automóvel que reduziu radicalmente o número e o hábito ancestral dos seguidores do ritual popular da Páscoa na freguesia.
A visita Pascal em Lanheses decorre em dois dias: no domingo, na parte a norte e segunda-feira a sul. Este ritual permanece apesar da diminuição das visitas que são efetivadas. No domingo o Mordomo da Cruz oferece o almoço da Páscoa, sendo que no neste ano irá decorrer no gimnodesportivo da Casa do Povo local, sujeito a convite e comparticipação voluntária como tem sido no passado.
A descrição do ato Pascal na freguesia de Lanheses , que acima é construída em síntese, tem em vista realçar a decadência gradual do número de domicílios que já não recebem o Compasso. Como consequência são praticamente inexistentes os acompanhantes que seguem a Cruz a pé, em numerosos grupos com raparigas e rapazes a cantarem e a divertirem-se, sendo que atualmente as estradas por onda segue a comitiva estacionam automóveis em filas contínuas em grande parte das vias, quando não optam por outros eventos nacionais ou estrangeiros.
A celebração da Ressurreição de Cristo, a Romaria do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades, e a comemoração do nascimento do Menino Jesus, constituem a tríade das festividades mais aguardadas e comparticipadas da comunidade lanhesense; outras mais, que se celebram ao longo do ano por iniciativas espontâneas de equipas de voluntários, têm sempre raiz tendencialmente católica com uma parte tradicionalmente profana.
Tenham todos uma excelente celebração pascal.
Fotos (2012) e texto: Remígio Costa
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