quarta-feira, 9 de abril de 2025

CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA TRADICIONAL

(Em 2012)




         As cerimónias da Páscoa têm início no Domingo de Ramos, anterior ao Dia de Páscoa, em que decorre o ato da benção das palmas e ramos adequados; são iniciadas na Capela do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades, saindo depois em procissão para a Igreja paroquial que está ao lado.
    
         No que aos aspetos da tradição religiosa diz respeito, o ritual da Páscoa não mudou significativamente em relação ao passado: mantém-se a composição do séquito que percorre a freguesia integrando o pároco (se não houver impedimento, caso em que será substituído por um leigo, de preferência estudante no seminário), o mordomo que carrega a cruz, o rapaz da caldeira da água benta, mais um outro jovem encarregado da campainha que anuncia a marcha, uma pessoa que recolhe donativo em dinheiro (quase sempre em moedas) do dono da casa destinado aos pobres e, por último, um responsável pela recolha dos dois sobrescritos com as comparticipações confidenciais pecuniárias, um a favor do pároco e, outro, para o mordomo da cruz.
      
       
        Se, no figurino atual, as diferenças com o passado não são relevantes, há alterações que foram introduzidas para se ajustarem à evolução da própria sociedade. Assim, apareceram os sobrescritos (obrigação implantada no costume pelo falecido pároco da freguesia Manuel Araújo Franco de Castro nos anos sessenta) que visaram substituir a oferta em espécie até então em uso, a qual era feita em ovos e doces brancos de gema, em número de meia dúzia, quatro para o prior, recolhidos por duas moças vestidas à lavradeira, de cestos de vime à ilharga ou na cabeça e mais tarde postos  no mercado em lojas da especialidade.
           
        É no comportamento social onde as diferenças em relação ao passado mais se fazem sentir  O acesso fácil ao automóvel levou a que as famílias, ao contrário do que acontecia no passado, deixassem de dar ao percurso do Compasso o ar de romaria, porque o não fazem atualmente a pé mas dentro das suas viaturas, estacionando ao longo do trajeto previsto, em sucessivos ajustes de posições, e dormitando ou conversando dentro delas. É um "para arranca" no entupimento do trânsito monótono e de estupor acentuado, longe da alegria de outrora que emanava da procissão já ao cair do sol em direção à Igreja para a benção final, altura em que os moços ganhavam coragem para acompanhar a rapariga que tiveram debaixo de olho durante a tarde inteira, senão nos dias e semanas que precederam a Páscoa, iniciando um namoro muitas vezes levado até ao altar.

           Também já não é possível estabelecer qualquer semelhança com o passado no que é oferecido, em muitas casas, pelos visitados aos familiares, amigos ou qualquer outro cidadão que apareça e, afoito e descontraído, assuma o papel de "penetra" . Em alguns domicílios são autênticos banquetes, pelo que se conhece, em abundância e variedade de iguarias, que vão do marisco ao caviar, passando pela lampreia e o cabrito assado, doces de fabrico caseiro, queijos variados, pão de ló, chouriço e presunto, para gáudio de uma pequena multidão de participantes muitas vezes ocasionais, antecipadamente convidados outros, onde se come "à tripa forra" e bebe à descrição do "bom e do melhor", toda a espécie de bebidas incluindo do fino champanhe francês. Não será de excluir nesta atitude desproporcionada e dificilmente sustentada durante muitos anos seguidos, a existência de um surdo sentimento de competição e capricho entre famílias que julgam encontrar, deste modo, maneira de fazer constar a sua solidez económica  esperando, com isso, ver diluída no tempo a memória de um passado recente bem menos fácil de assumir.
          Quem se lembra já, da mesinha de toalha  estendida de linho branco rendada com os pratos dos ovos e doces brancos de gema entremeados com alguns amarelos, das bolachas à míngua, dos rebuçados e beijinhos atirados a esmo para o meio do grupo de crianças que seguiam de casa em casa o séquito pascal, da garrafa de vinho do porto "Três Velhotes"  com os dois pequenos cálices alinhados ao lado para obsequiar, em primeiro lugar, o "senhor abade" e o "senhor mordomo", da caneca de vinho tinto com o guardanapo a prevenir o derrame indevido no chão lavado na véspera, do beija mão das crianças ao senhor padre?
         
       
          A visita do compasso decorre em dois dias; no primeiro, o domingo, é preenchido na metade norte da freguesia (a parte alta) e, o segundo, na segunda-feira, desenrola-se na metade a sul, mais próxima do rio Lima. A cargo do Mordomo da Cruz, decorre o "jantar da Páscoa" no primeiro dia, cerca das 13:0 horas. Atualmente, é um ato festivo com um número muito elevado de familiares e convidados que ocupa o salão de uma estância apropriada de grandes dimensões.

          Desde há já alguns anos a visita pascal na agora Vila Histórica de Lanheses termina na Casa do Povo. Aí se festeja com um coro de cânticos e manifestações de alegria o termo da ronda Pascal, para, no princípio da noite, seguir em romaria para a Igreja paroquial onde decorre e é cumprido o ritual religioso apropriado e as palavras de despedida do Mordomo da Cruz e de saudação do Pároco residente que a incorporou o Compasso.

         Tocam os sinos da Igreja a avisar da saída do Compasso, no ar foguetes estouram, pela primeira vez agita o moço a campainha e começa a visita pascal. Criou-se, ainda, o hábito de contratar uma charanga com bombos e instrumentos musicais que, seguindo o percurso do Compasso, despertam e dão sinal à população de que a Páscoa chegou.

 

Remígio Costa 

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