sábado, 22 de fevereiro de 2020

FISCO (TAMBÉM) COME LAMPREIA.

    

Ser pescador amador de lampreias não é (nunca terá sido) uma ocupação assim tão compensadora quanto parece para quem a exerce. Ao contrário do que se possa crer, e salvo exceções que sempre confirmam a regra, a atividade da pesca artesanal do famoso peixe sazonal é um exercício de extrema exigência legal, complexo, dispendioso e sujeito a fiscalização implacável, persistente e bem apetrechada de meios técnicos sofisticados de fazer frente a traficantes de droga.

    Ter um barco no rio para exercer a pesca implica, além do custo da embarcação e de um motor fora da borda, de registo e da competente licença passada pela autoridade marítima. Não pode iniciar funções sem inspeção de uma equipa técnica e será "chumbado" se não cumprir todas as várias exigências de apetrechamento de meios de navegação, como coletes de uso obrigatório, meios de sinalização, inscrição no casco do número do registo, documentos à vista, etc. Apanhado em falta, a punição é irreversível.
     
     Ao pescador é exigida "carta" de navegação e pagamento anual de licença de uso.

     A atividade da pesca da lampreia está sujeita a regras quanto à época em que está autorizada, às horas do dia em que é permitida e nos dias em que não pode ser praticada, como o domingo. 



     Certa, constante e imprevista, que todos os pescadores têm em mente, é a pressão dos agentes legais das brigadas da fiscalização sobre eles exercida. Têm de se manter tão atentos aos movimentos dos agentes como às lampreias que passam entre os ramos no leito do rio. Infração cometida, avaliada a amplitude e a gravidade, coima e...tribunal para a decisão judicial. 
     
      Se o Banco de Portugal seguisse o método, acabaria com o crédito mal parado...

      Paga, (Zé) pescador. O fisco come, à farta.

      Amanhã, bem cedo, volta ao rio. Está um frio de rachar, é certo, a chover  não seria melhor. Não está lá o motor? Raios partam a gatunagem, anda tudo à balda, só se preocupam com inspeções e aplicar multas. O barco tem água? Da chuva ou alguma aresta nas tábuas? Vai precisar de restauro, antes do inverno.

     Hoje, não vi uma (lampreia). A água está turva não se vê o peixe nem os ramos. Este ano corre melhor do que no último quanto ao número de pescado, ontem tive mais sorte, tirei cinco! Gordas, com tamanho e vista. Mais logo, volto ao rio, talvez haja mais alguma em descanso na subida a não ser que a zona tenha sido invadida por um concorrente menos escrupuloso. 

Também acontece.

Como a brigada móvel dos fiscais.

    


Fotos: doLethes 
Remígio Costa 


   

    

1 comentário:

ESQUELETO DE REDODENDRO TEM FOLHAS SEM FLORES

                        O que resta do rododendro de que venho a dar anualmente notícias da sua progressiva degradação física, produziu aind...