quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

FIGURAS E FACTOS DA HISTÓRIA DO FUTEBOL LANHESENSE (3)




     Uma equipa do Grupo Desportivo da Casa do Povo de Lanheses do princípio dos anos cinquenta. Em pé, da esquerda: Xico do Vale (treinador), João Rocha (Lambranca), g.r., Remígio Costa, Artur Vale, Zé Campela, Ramiro Vale, João Latoeira, António Rocha (Melro), massagista.
à frente, da esquerda: Xico da Rua, Arouca (Janota), Domingos Gomes, Rogério Dantas e Adriano Lagoela. 
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FIGURAS E FACTOS DA HISTÓRIA DO FUTEBOL LANHESENSE (3)


   
      1.-IMPLANTAÇÃO E CRESCIMENTO DO FUTEBOL EM LANHESES

       
        1.1.-FUTEBOL DE RUA NOS ESPAÇOS DE LUGARES.

      Foi de curta duração a atividade do Lanheses F.C. mas ainda assim recheada de sucesso obtidos em confrontos realizados em competições particulares, em que participaram clubes como o Limarense e o Vasco da Gama, de Ponte de Lima, sendo um triunfo histórico pelo resultado de 2-1 sobre o SCVianense, num torneio relâmpago realizado em Viana do Castelo uma das conquistas mais relevante.


     Na equipa dessa época fizeram parte atletas de grande valor, tais como Santos Melo, Rodrigo Lima, Bibiano, Badana e Benjamim, alguns dos quais (pelo menos os três últimos mencionados que pessoalmente conheci) fazem parte dos vultos destacados da história do clube representativo da cidade de Viana do Castelo – o Sport Clube Vianense. (v.g. Voz de Lanheses. Ano II, n.º 1, fev.º 1959).


     Nesta resenha da evolução temporal do futebol em Lanheses não pode deixar de salientar-se a popularidade e a difusão da sua prática tanto entre adolescentes como adultos, bem como os locais e espaços mais imprevistos e bizarros onde frequentemente era praticado, antes, e mesmo depois, da criação do espaço próprio.


     No largo das Carvalheiras, do Lugar da Corredoura, onde cresci, todos os dias e sobretudo aos sábados e domingos bem como nos períodos das férias escolares, dezenas de rapazes acorriam ali para correr atrás de uma bola, quase todos descalços, num espaço reduzido com oliveiras velhas desalinhadas e com o terreno ondulado com altos e baixos e pedras à vista, para disputarem jogos intermináveis em tempo e número de golos, iniciados ao nascer do sol e que se prolongavam noite adentro na penumbra da luz da lua, ou até que a bola feita com farrapos de tecido dentro de uma meia de mulher se desfizesse completamente.


     Num reduzido espaço existente nos limites de Lanheses e a freguesia vizinha de Fontão, designado por arquinho, era utilizado principalmente para jogos a sério entre grupos rivais de outros lugares da freguesia, os quais, a maioria nem sempre acabava pacificamente...


    Além das estradas e caminhos pouco movimentados e em recantos baldios mais ou menos alargados existentes em diferentes lugares, o Largo da Feira era o local predileto de jovens e adultos para jogar à bola. Os espaços eram então de terra batida, razoavelmente amplos e lisos para  permitir em dois deles confrontos com seis ou sete elementos em cada equipa. Claro que, num palco tão apetecível, com espectadores encavalitados nos tubos da vedação então existente, jogavam sempre os mais velhos, e os principiantes ficavam felizes se os mandassem para o lugar de guarda-redes, que ninguém desejava; eu, jovem debutante de quinze anos e sem peso no grupo, fui muitas vezes o feliz escolhido mesmo que a vocação para ocupar o lugar fosse menos do que o da chama de candeia de azeite. 


   Jogar à bola no Largo da Feira era, por altura dos anos quarenta e início dos cinquenta, correr risco de infração ao estabelecido pela Junta de Freguesia. A prática do futebol de rua estava proibida no recinto, quiçá e pedido e pressão do responsável da escola primária local, o qual era radicalmente avesso ao futebol, e quem fosse identificado ou surpreendido em flagrante ficava sob a alçada da autoridade e sujeito a coima. E não foram poucos aqueles que foram sancionados, ou porque não se tinham escapulido a tempo dos agentes do posto da guarda local que surgiam à socapa ou haviam sido reconhecidos e a seguir denunciados aos membros da Junta ou da escola ficando a posteriori reféns do pagamento.

     
     1.2.-O “TREINADOR PLACA”

    Alguns dos mais habilidosos jogadores que atuaram em Lanheses, e que posteriormente fizeram carreira no futebol profissional, alguns em clubes de dimensão nacional, foram (individualmente) produto dos ensinamentos do “treinador placa”, designação evocada recorrentemente para se referir os locais onde decorriam os jogos, que ainda hoje traduz o bom aproveitamento da intensa e difícil aprendizagem empírica de cada um deles em condições absolutamente inadequadas para o exercício da modalidade, de que os irmãos “Meia-Noite” são a grande referência, e que impreterivelmente, aqui serão evocados em descrições futuras pelo contributo dado ao futebol lanhesense.


(Continua)


(Próxima abordagem: Tutela do futebol passa para a Casa do Povo de Lanheses. Filiação na F.N.A.T.)



Remígio Costa

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