sexta-feira, 27 de maio de 2011

O MANGUITO DE BORDALO.

Zé Povinho, a famosa criação de Rafael Bordalo Pinheiro.

              O meu amigo Sérgio Moreira acaba de revelar no blogue "Something Special do Vale da Serra d'Arga" de que é autor, mais um dos muitos encantos e virtudes com que Lanheses o vem surpreendendo não poupando nos encómios para manifestar quanto lhe agrada e torna feliz esta terra que escolheu para viver. Então, dizia ele, no seu último post que, muito mais agradável do que passear com os seus cães pelas margens luxuriantes do rio Lima, ouvir nos ramos verdes das árvores o cantarolar dos melros ou o coaxar da rãs e gaios a acordar a manhã que o Sol faz ou o rumor  das asas a bater na água de um bando de patos a levantar voo,  é ouvir a melodiosa música móvel vertida dos auto-falantes dos veículos que anunciam a boa nova da chegada dos virtuosos iluminados que hão-de fazer todos muito felizes e, deste mundo, o Paraíso mais parecido com o céu.

             Muito atarefados e prenhes de fervor altruísta e patriótica militância aí estão eles clamando pelo éter  os seus propósitos de se empenharem sem descanso no bem comum, no firme propósito de mudar o velho pelo novo, de fazer "o que ainda não foi feito", como canta Abrunhosa, naquela tão bem conseguida metáfora de obter a chave e aceder ao cofre, ainda que seja a última a moeda que lá se possa, ainda, encontrar.

             É bem certo, meu caro Sérgio, ( nós sabemo-lo porque em todo o lado e ouvimos dizer), que a música vai mudar, que outro maestro já tomou  a condução da orquestra desafinada, muitos dos exímios manipuladores dos instrumentos de sopro e de cordas vão continuar a fazer parte dela, a pauta das velhas músicas voltará a ser escrita por novos compositores que a aprenderam das mesmas sebentas , os instrumentos serão substituídos por outros ainda mais pesados, só os bombos e as caixas é que vão continuar a ser os de sempre. É a sina do "burro de carga", que de tão acostumado, tanto se lhe dá que o saco que transporta sobre o dorso seja o milho que não come, como se pedras fossem o justo preço do seu labor e sacrifício e ter que amargar o pão que lhe tiram.

            Se o romper do dia é tão alegre e motivador o que verdadeiramente adoro é, como  preparação para uma noite sem pesadelos, visitar a nossa "querida televisão". Tão interessante como divertido é um regalo tomar conhecimento do que vai sendo feito por este lindo país, do afã de tanta gente a trabalhar fora dos confortáveis gabinetes onde deveriam estar a atender as assessoras e os chefes de repartição, a usar os cartões sem limite de gastos, a labuta do degustar de ementas em mesas de toalha e guardanapo ou no churrasco foleiro do pé rapado apreciador do folclore pimba e da viagem lowcost a Caniçais de Fora. E um cidadão vai para a cama, feliz e, descansando molemente no travesseiro a cabeça cheia de tantas emoções, vai adormecendo e sonhando como é bom fazer parte de um povo onde abundam tantos homens e mulheres peritos insuperáveis nas políticas de interesse social dos desfavorecidos, cada um dizendo-se melhor que o outro, só tendo uns elogios para o que fizeram ou virão a fazer,  proclamando com veemência que jamais lhe será cometida a responsabilidade do que não deveria ter sido feito, pois a culpa há-de morrer solteira e, outros, que é neles que reside a salvação.

            Ouvem-se e comentam-se mutuamente, mandam recados e não se preocupam com o recato e comedimento dos termos que utilizam, chamam a terreiro os reservistas da velha guarda libertando-os, para breves intervenções no campo das refregas de oratória militante, dos intermináveis  processos judiciais que os envolvem e vão ocupando mediáticos ( e bem pagos) causídicos forenses.

            Já nem sei se estava acordado ou se foi  a sonhar que me veio à lembrança a criação de Bordalo Pinheiro que imortalizou  a figura do "Zé Povinho" no seu manguito que diz tudo o que, nem o local ou o decoro permitem reproduzir na língua de Camões.




             
  


            

         

2 comentários:

  1. Grande Bordalo, se fosse vivo acho que nestes tempos que vivemos passaria 24h a desenhar...Vi com agrado que entendeu a mensagem que eu queria passar nesse post, Sr. Remígio e, não me lembrei mas a imagem que escolheu, seria uma das que utilizaria para ilustrar o post que fiz, ao invés preferi publicar um pequeno poema. Vou falar muito portuguêsmente: DEUS ME LIVRE OU ME CONDENE, SE UM DIA TROCAR A BELEZA DA NOSSA QUERIDA LANHESES POR QUALQUER MILITÂNCIA ESTAPAFURDIA...AINDA POR CIMA CONDUZIDA POR UM BANDO DE...(mais vale não dizer isto que ia dizer)

    Aquele Abraço

    Permita-me com todo o respeito uma correcção, mas o meu blogue é só "SOMETHING SPECIAL DO VALE DA SERRA D´ARGA" e não do Lima e Arga, como afirmou.

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  2. Obrigado por ter corrigido.

    Abraço.

    Sérgio

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