quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

AMANHÃ, HÁ LAMPREIA.

    


      Abre amanhã, quinta feira dia dez, a época legal da pesca da lampreia com recurso ao uso do bicheiro, circunscrita ao troço do rio Lima a montante da ponte de Lanheses. Daí, o título escolhido para abordar um tema com forte impacto local como atividade de lazer a par do significativo interesse económico, que agora aqui se volta a realçar sabendo-se da relevância que ela atinge noutras zonas do país, designadamente a norte do rio Mondego até à fronteira delimitada pelo rio Minho.

     A pesca da lampreia em Lanheses é uma arte enraizada nos costumes da comunidade, provavelmente desde sempre, sendo que pessoalmente a conheça desde os anos da infância. De memória, posso recordar alguns daqueles que, para além de outras tarefas e serviços com que completavam a vida vivida dentro dos barcos água-arriba, pescavam livremente o sazonal peixe para consumo e venda porta-a-porta: Ti'Augusto, T'Rochinha, Ti'Badalheiro, T'Carolino, Zé do Rego, aqueles que de momento me ocorrem e que depois tiveram continuidade através dos filhos e outros familiares.



     Atualmente, exercem a pesca artesanal da lampreia-marinha (são pelos menos cinco as espécies do peixe conhecidas) na zona da margem direita no sítio da Passagem a partir da ponte de Lanheses, cerca de um dúzia de pescadores amadores, sendo que um a pratica também em sociedade legalmente constituída a jusante e com recurso a redes em locais demarcados.

       Na margem esquerda, 
 em frente, é constatável a movimentação de pelo menos duas embarcações envolvidas na atividade.


      A pesca dura em geral até Abril, o último mês com "r" em que o peixe mantém as qualidades originais ou perdeu mercado para a maioria de consumidores. Até lá, os pescadores não têm descanso na fase em que a visibilidade da corrente permite detetar o esguio e viscoso animal em descanso a recuperar do esforço de subir o rio conta a corrente. Aí, entra a perícia do pescador aplicando com destreza e precisão a ponta do bicheiro (em forma de anzol) no bojo da lampreia retirando-a para dentro do barco. Com chuva e o consequente aumento do caudal do rio, não há pesca.



      Não se imagine que a vida do pescador de lampreias é (sempre) fácil e relaxante. Quem à modalidade se dedica fá-lo naturalmente pelo rendimento que obtém na alienação (fácil) do produto, mas, essencialmente, também por paixão. Muita paixão, posso afirmar. Só assim se explica o tempo que despende  na preparação da atividade e nos  cuidados com a embarcação, bem como no valor da  aquisição, nos gastos que faz na compra do motor fora de borda que utiliza e não raro acontece ser furtado, nas licenças para manter o barco no rio e para a prática da pesca, nas inspeções obrigatórias, nos apetrechos legais e mesmo no vestuário adequado às condições meteorológicas e para a segurança, a enfrentar as condições anormais do estado do tempo, sem horário nem rotina para o cumprir. E a frustração de horas perdidas a perscrutar a areia do fundo do rio com o peixe a não passar ou a escapar à frieza do golpe fatal.



      A lampreia está obrigatoriamente na ementa dos restaurantes locais no decorrer da época, preparada de diferentes maneiras para gáudio dos apreciadores. Como pode ser congelada, aqueles que por viverem no estrangeiro a não degustam nesta fase de tempo frio quando ela é regularmente consumida, podem fazê-lo em qualquer outra altura do ano. Talvez porque assim me acostumei desde criança, gosto dela com arroz "a fugir" no prato. Uma, ou duas vezes, por época para que o prazer gustativo não relaxe com o uso.



    

      Nos últimos anos e como é corrente em muitas outras localidades, sobretudo no litoral e com cursos de água férteis em produto, também em Lanheses se vem cumprindo uma "festa da lampreia". Habitualmente, o local escolhido é o centro cívico onde as lampreias são preparadas à vista em assadores apropriados ou cozinhadas a gosto nos restaurantes e cafés existentes no Largo, sendo consumidas nas mesas comuns ao som de música gravada e danças folclóricas regionais e atuação de conjuntos convidados. 

Sim, amanhã (e depois, certamente) a lampreia será o prato real da dieta dos comensais apreciadores.

   

      
Foto: doLethes
Remígio Costa 

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