Uma equipa do Grupo Desportivo da Casa do Povo de Lanheses do princípio dos anos cinquenta. Em pé, da esquerda: Xico do Vale (treinador), João Rocha (Lambranca), g.r., Remígio Costa, Artur Vale, Zé Campela, Ramiro Vale, João Latoeira, António Rocha (Melro), massagista.
à frente, da esquerda: Xico da Rua, Arouca (Janota), Domingos Gomes, Rogério Dantas e Adriano Lagoela.
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FIGURAS E FACTOS DA HISTÓRIA DO FUTEBOL LANHESENSE (3)
1.-IMPLANTAÇÃO E CRESCIMENTO DO FUTEBOL EM LANHESES
1.1.-FUTEBOL DE RUA NOS ESPAÇOS DE
LUGARES.
Foi de curta duração a atividade do Lanheses
F.C. mas ainda assim recheada de sucesso obtidos em confrontos realizados em
competições particulares, em que participaram clubes como o Limarense e o Vasco
da Gama, de Ponte de Lima, sendo um triunfo histórico pelo resultado de 2-1
sobre o SCVianense, num torneio relâmpago realizado em Viana do Castelo uma das
conquistas mais relevante.
Na equipa dessa época fizeram parte
atletas de grande valor, tais como Santos Melo, Rodrigo Lima, Bibiano, Badana e
Benjamim, alguns dos quais (pelo menos os
três últimos mencionados que pessoalmente conheci) fazem parte dos vultos destacados
da história do clube representativo da cidade de Viana do Castelo – o Sport
Clube Vianense. (v.g. Voz de Lanheses. Ano II, n.º 1,
fev.º 1959).
Nesta resenha da evolução temporal do
futebol em Lanheses não pode deixar de salientar-se a popularidade e a difusão
da sua prática tanto entre adolescentes como adultos, bem como os locais e
espaços mais imprevistos e bizarros onde frequentemente era praticado, antes, e
mesmo depois, da criação do espaço próprio.
No largo das Carvalheiras, do Lugar da Corredoura,
onde cresci, todos os dias e sobretudo aos sábados e domingos bem como nos
períodos das férias escolares, dezenas de rapazes acorriam ali para correr
atrás de uma bola, quase todos descalços, num espaço reduzido com oliveiras
velhas desalinhadas e com o terreno ondulado com altos e baixos e pedras à
vista, para disputarem jogos intermináveis em tempo e número de golos, iniciados
ao nascer do sol e que se prolongavam noite adentro na penumbra da luz da lua,
ou até que a bola feita com farrapos de tecido dentro de uma meia de mulher se
desfizesse completamente.
Num reduzido espaço existente nos limites
de Lanheses e a freguesia vizinha de Fontão, designado por arquinho, era utilizado principalmente para jogos a sério entre grupos rivais de outros
lugares da freguesia, os quais, a maioria nem sempre acabava pacificamente...
Além das estradas e caminhos pouco
movimentados e em recantos baldios mais ou menos alargados existentes em
diferentes lugares, o Largo da Feira era o local predileto de jovens e adultos
para jogar à bola. Os espaços eram
então de terra batida, razoavelmente amplos e lisos para permitir em dois deles confrontos com seis ou
sete elementos em cada equipa. Claro
que, num palco tão apetecível, com espectadores encavalitados nos tubos da
vedação então existente, jogavam sempre os mais velhos, e os principiantes ficavam
felizes se os mandassem para o lugar de guarda-redes, que ninguém desejava; eu,
jovem debutante de quinze anos e sem peso no grupo, fui muitas vezes o feliz
escolhido mesmo que a vocação para ocupar o lugar fosse menos do que o da chama
de candeia de azeite.
Jogar à bola no Largo da Feira era, por
altura dos anos quarenta e início dos cinquenta, correr risco de infração ao
estabelecido pela Junta de Freguesia. A prática do futebol de rua estava
proibida no recinto, quiçá e pedido e pressão do responsável da escola primária
local, o qual era radicalmente avesso ao futebol, e quem fosse identificado ou
surpreendido em flagrante ficava sob a alçada da autoridade e sujeito a coima.
E não foram poucos aqueles que foram sancionados, ou porque não se tinham
escapulido a tempo dos agentes do posto da guarda local que surgiam à socapa ou
haviam sido reconhecidos e a seguir denunciados aos membros da Junta ou da
escola ficando a posteriori reféns do
pagamento.
1.2.-O “TREINADOR PLACA”
Alguns dos mais habilidosos jogadores que
atuaram em Lanheses, e que posteriormente fizeram carreira no futebol
profissional, alguns em clubes de dimensão nacional, foram (individualmente)
produto dos ensinamentos do “treinador placa”, designação evocada
recorrentemente para se referir os locais onde decorriam os jogos, que ainda
hoje traduz o bom aproveitamento da intensa e difícil aprendizagem empírica de
cada um deles em condições absolutamente inadequadas para o exercício da
modalidade, de que os irmãos “Meia-Noite”
são a grande referência, e que impreterivelmente, aqui serão evocados em descrições futuras pelo
contributo dado ao futebol lanhesense.
(Continua)
(Próxima abordagem: Tutela do futebol
passa para a Casa do Povo de Lanheses. Filiação na F.N.A.T.)
Remígio
Costa
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