O Outono possui características peculiares que despertam em nós sensibilidades adormecidas noutras estações do ano, sentimentos e estados de alma que nos estimulam para o ambiente em que existimos e nos proporcionam uma visão que transcende a realidade material que nos envolve. A tonalidade das cores das árvores, os caminhos atapedos das folhas que delas caem, o chilrear de uma ave, os orientes de luz quando o sol se prepara para descer sobre o mar, a chuva a bater na vidraça a convidar à leitura, concedem à estação que atravessámos um encanto que nos acalma e seduz.
Não leio tanto quanto gostaria de o fazer. Hoje, tive algum tempo para rever títulos de autores clássicos da nossa literatura de quem possuo obras ainda não lidas ou que desejo reler um dia, estando neste caso o livro "Folhas Caídas", de Almeida Garrett, de que já nem consigo lembrar-me há quantos anos o li pela primeira vez, tendo respigado dele um dos lindíssimos poemas que o compõem para que me acompanhem no prazer de fruir de tanta beleza.
Destino
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?
Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai!, não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
Cores de Outono: Alameda 25 de Abril
e, Largo Capitão Gaspar de Castro.
Caro amigo e bloguista convitcto...ocorre-me dizer, depois de ler este post, ver as imagens e reler Almeida Garret; que por vezes somos impelidos a consumir literatura estrangeira, quando dentro de portas, teremos alguns dos melhores ecritores de todos os tempos a nível mundial! A literatura Portuguesa, para mim, será sempre, sempre, uma das melhores (senão a melhor) a nível mundial, uma pérola não explorada, no vazio que é e tem sido este modo de pensar e publicitar a cultura em Portugal e no mundo.
ResponderEliminarUm abraço caro Sr. Remígio
Sérgio