O OLIVAL
O desperdício
Fazem parte do meu passado como habitante de Lanheses os seguintes lagares de azeite: o do "Tinoco", localizado na fronteira entre o Seixô e a freguesia de Meixedo, o do "Bacela", cerca da Zona Industrial, o que foi de Domingos da Rocha Santos e agora é propriedade dos herdeiros de Manuel João Gonçalves (Aviador) e, finalmente, o último a ser construído, de quem José Martins Agra foi dono. Do "Moínho do Reiro", que laborou a norte de Salvaterra, já estava em ruínas na minha infância e, dele, só algumas das peças restam no Largo da Seara como património público.
Era o "Moinho do Tinoco"
Já todos desapareceram. O do "Tinoco", onde além de azeite se moía o grão e serrava madeira, acabou em fábrica de manilhas de cimento e blocos para construção. Está presentemente "sepultado" num bosque de silvas e arbustos, quase invisível aos passantes; o do "Bacela", onde a água chegava em sulco cavado em pedras de granito para accionar a grande roda de madeira que fazia girar a mó do moinho e alimentava a serpentina do alambique onde corria a aguardente de bagaço de uva, abriga hoje no alpendre, envoltas em teias de aranha e cobertas de pó as serras e os carris onde os troncos eram cortados, em agonia lenta e irreversível; ali perto, o do "Aviador", já só a estrutura resta para recordar o lagar que já foi para ser, hoje, serração e depósito de lenha; e, em Casal Maior, o último a ser construído e, porventura, o que menos tempo manteve a laboração, passou, após a cessação de actividade e após várias transformações para servir fins de outras necessidades económicas, a ser nesta altura, utilizado como mercado de produtos alimentares.
Foi o do "Bacela". Desactivado.
Então acabou em Lanheses a cultura da azeitona? Não é bem assim, mas quase.
Primeiro, terá sido causa da diminuição crescente do interesse pela produção de azeite por estas bandas, o êxodo da mão de obra barata e desqualificada iniciada na década de sessenta, que deu começo ao abandono dos campos e abriu caminho, com a entrada de Portugal na CEE, à invasão catastrófica de fundos para desinvestir na agricultura e à fixação de cotas de produção que facilitaram a invasão de importação de produtos a custos mais acessíveis. A qualidade não é para aqui chamada...A explosão do acesso ao ensino veio criar outras expectativas de vida para o mundo rural, pois, quer os que concluíam os cursos que estudaram quer os que abandonavam a escola sem os terminar, jamais recuperavam o interesse pela actividade da lavoura.
Lagar do "Aviador". Serração de madeiras, agora.
Reduziu a população jovem activa, ficaram os idosos e os que se ligaram à terra desde a infância e não tiveram coragem, ou não puderam, abandonar a lavoura por tradição familiar ou afectiva.. O custo do trabalho inflacionou, as remessas de divisas e os salários cresciam, o preço do produto estrangeiro nas grandes superfícies e a facilidade do crédito eram tentadores e, consequentemente, o azeite ficava na terra com a azeitona a cair das oliveiras. Milhões de hectolitros a regar a terra... Foram impostas novas regras legais de funcionamento dos lagares de azeite, impondo-se-lhes exigências de modernização em material e saneamento, com custos insuportáveis que levaram ao seu encerramento da grande maioria deles. Vila Mou, tentou durante alguns anos resistir, porém, há já alguns anos que o edifício onde funcionou o lagar está à venda.
Foi lagar de azeite, do "Agra". Funciona lá um mini-mercado.
Há ainda quem entre nós se preocupe, e ocupe, na apanha da azeitona. Creio que são, a cada ano que passa, cada vez menos. É fácil encontrar por aí muitos olivais onde a azeitona, madura, pinta de negro o chão ao redor da árvore bíblica e os caminhos por onde o transeunte passa e esmaga com os pés, indiferente. A insensibilidade perante uma árvore tão cheia de simbolismo cristão, ancestralmente respeitada e venerada, que dá alimento e luz, amiga, bela, e, de uma utilidade tão evidente para o homem, é, hoje, pecaminosamente, objecto de adorno (!) de jardins particulares e até públicos, requintada e caprichosamente moldada num gesto de humilhação e martírio gratuitos.
Sem comentário.
Portugal produz, felizmente, ainda assim, um dos melhores azeites do Mundo. Frequentemente, produtores de várias regiões do país, como Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo expõem em certames de feiras estrangeiras e vêm de lá laureados com primeiros prémios. É bom para Portugal e para os produtores organizados que merecem a atenção e apoio das instituições responsáveis pela agricultura.
Verde foi meu nascimento
e de luto me vesti;
Para dar a luz ao Mundo
mil tormentos padeci.
Esta linda quadra popular que aprendemos, ainda criança, a recitar no decorrer das tarefas que envolvem a época sazonal da azeitona, encerra em si toda a magia de um fruto amigo da humanidade, porque nasceu para dar vida, padeceu e morreu para se fazer luz.
Que ela (a luz) chegue a todos.
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E agora, onde estao os comentadores deste extraordinario blog! Esses Srs.
ResponderEliminarcomentadores que estao sempre prontos a opinar, por dar ca aquela pailha, nao vem agora comentar, todos estes artigos que o Remigio Costa vem tambem expor sobre o presente e o futuro da vida da nossa Terra! Deitar abaixo, atacar pessoas, denegrir imagens, dizer mal,nao estar de acordo so para dizer que e "polido" nao chega...Vamos apoiar estas iniciativas onde esta de facto a origem do abandono e o clamar pelas origens. Onde ele tambem descreve o passado saudoso mas proveitoso e, onde nos conta um presente triste a espera de coragem para voltarmos as honrosas origens!!!
Parabens e obrigado pelo tempo que perdes-te para nos dar a saber o que tudo vai bem e o que tudo vai mal, por Lanheses.
a luz com a azeitona da nossa terra vai_sse apagar
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