segunda-feira, 12 de outubro de 2015

SANTA JUSTA, SÃO PEDRO DE ARCOS, PONTE DE LIMA.



      
                                      Santa Justa
          SANTA JUSTA (SÃO PEDRO DE ARCOS)

            Estando na Silvareira, em São Pedro de Arcos (Ponte de Lima), subimos para norte por um caminho florestal estreito, com piso irregular a serpentear entre giestas e mato de carqueja com flor roxa, ao encontro da ligação que vem pelo sopé da Serra d’Arga desde São Lourenço da Montaria e vai dar ao Monte de Santa Justa. Percurso de rali, ao que julgo. Alarga-se o caminho e melhora o piso quase sem sulcos cavados formados pelas correntes que descem furiosas pela encosta da serra na época das chuvas e, a vista alonga-se ao sul sobre os relevos das montanhas até uma enorme extensão do Vale do Lima e povoações situadas nas suas margens, envoltas num véu de neblina fina que o efeito da luz solar dilui e branqueia. Seguindo na encosta para nascente sem incómodo ou demora, estamos no início do monte de Santa Justa, ainda sem que a capela que lá existe se possa avistar. Com o monte do Castelo à vista despido de vegetação por causa do incêndio que sofreu recentemente, entrámos na estrada bem tratada que sai do Lugar de Terrafeita, em São Pedro de Arcos  e avançamos, agora a subir em cota alta, pelo lado da freguesia de Estorãos, ao fundo, para chegar ao topo onde se levanta a Capela de Santa Justa.

                                                 Capela

             A pequena Capela está dentro de um espaço quadrangular murado em pedra de xisto com a altura de dois metros ou aproximadamente. No lado sul, no alinhamento do muro, a antiga casa de abrigo e arrecadação de artefactos e de animais foi objeto de obras de requalificação (como todo o conjunto) no ano que decorre sendo, agora, um edifício para turismo de habitação (TH) de qualidade super, ainda por estrear (*O documentário é extraordinário e vem provar que temos cá dentro coisas maravilhosas que nem uma grande parte dos locais conhece. Aproveito para informar de que a Romaria de Santa Justa não se realiza em Junho, mas sim e sempre no terceiro Domingo ou fim de semana de Julho. Também o Cerquido não é freguesia mas sim um lugar da freguesia de Estorãos. A requalificação dos Quarteis não será de englobar no TH, mas o nome correto é CENTRO DE INTERPRETAÇÃO E VIVÊNCIA ATIVA DA NATUREZA-Quartéis de Santa Justa, composto por 2 quartos duplos e uma Camarata com capacidade para uma dezena de pessoas e a sua gestão está a carga do Município de Ponte de Lima, através da Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro Arcos e através de reserva., Espero ter acrescentado algo ao seu trabalho e continue a divulgar a beleza que nos rodeia. Cumprimentos Custódio Fernandes). No espaço interior foram preservados um forno, que mudou de local, e um pequeno palco, ou palanque, em pedra onde atuavam tocadores de concertina e decorriam outras manifestações populares típicas da festa que ali decorre no mês de Junho de cada ano. O acesso ao pequeno templo onde se encontra a imagem de Santa Justa é feito por duas portas laterais, a nascente e a poente existindo aqui, no exterior, uma fonte onde sai água pura e fresca que dá prazer beber. Dentro, à direita da entrada principal, uma avantajada placa em pedra assinala os nomes das entidades oficiais a quem coube a inauguração das instalações.

                                   Albergue transformado em TH

             Envolto no silêncio granítico do relevo quase despido de árvores e com alguma vegetação rasteira, o local tem vista privilegiada praticamente em 360º. Dali avistam-se o templo da Senhora do Minho no topo nascente da Serra d’Arga, as freguesias do Cerquido e Estorãos, de São Pedro de Arcos e outras mais do Vale do Lima, formando um panorama grandioso de rara beleza que José Sócrates e Jorge Sampaio já desfrutaram há alguns anos atrás, em visita oficial. A festa anual que ali decorre atrai uma multidão de festeiros que acampam, às vezes por dias, no espaço envolvente ou sobem o monte a cavalo chegando a atingir várias dezenas, como aconteceu recentemente.

            Santa Justa já foi uma excelente zona de caça mas as espécies têm vindo a desaparecer por escassez de comida e por excesso de predadores naturais e encartados, sendo difícil o repovoamento pela galopante desertificação com origem nos incêndios. Por via disso, já é muito raro ver cavalos selvagens a pastar em manadas significativas. Gado caprino ou bovino, nem réstias.

                                                Paisagem

             A gente de Lanheses teve, noutros tempos, uma relação muito estreita com Santa Justa, que não tinha como pretexto apenas a festa. Era por ali que as mulheres iam cortar a carqueja que, depois, traziam em grandes feixes na cabeça para vender aos padeiros que a utilizavam para aquecer os fornos onde coziam pão de trigo ou milho. O percurso de alguns quilómetros era feito através de carreiros abertos por entre o mato denso e agreste e pedras soltas, assiduamente utilizado por muitas pessoas visando tirar um magro pecúlio de tão ingrata tarefa. 


                            Recanto o interior com a Serra d'Arga ao fundo

             Em caminhadas solitárias ou organizadas, numa bicicleta vulgar ou BTT, a cavalo ou de automóvel, compensa subir ao Monte de Santa Justa, seja festa ou não, quiçá subir pela íngreme encosta nascente da Serra d’Arga até à Senhor do Minho, até à Chã com o mesmo nome, descer ao Cerquido, visitar Estorãos ou voltar a casa por São Lourenço da Montaria, é uma aventura que compensa experimentar.

2015.10.12

Fotos: doLethes

Remígio Costa.
*INFORMAÇÃO  recebida de Custódio Fernandes em comentário inserido no post anterior relativo à Silvareira. REGATO DA SILVAREIRA.



                 Alçado interior do prédio pata TH. O amigo António Rocha que teve papel relevante na consecução do projeto de requalificação.




                         O monte do Castelo devastado pelo incêndio do ano que decorre.


                                            Lado nascente da Serra d'Arga

                                                    Água pura da montanha

                                          Para a posteridade, o autor.
   

                           A pose do António Rocha, com excelente aparência e boa disposição


                                           A selfie bem sucedida de dois velhos amigos.

                         Represa de água límpida com cerca de dois metros de profundidade onde, no ano transacto, um cavalo se atirou e obrigou a romper parte do muro para poder sair.

RC.

5 comentários:

  1. Excelente,sr Remigio...
    Santa Justa,é de facto um lugar ímpar nas fraldas da serra d'Arga.Além de um local panorámico por excelência,como diz,foi e é desde tempos longínquos,local de culto,onde romeiros de todo lado,não faltam no dia da romaria,para agradecer ou pedir à Santa,a cura das suas moléstias.Abraço

    André

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  2. Este local e o seu culto é largamente referido por Alexandre Herculano na sua obra "A Casa Grande de Romarigães"...ou estarei enganada???

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  3. 13 de abril de 2021

    Desculpe, mas o autor do livro "A Casa Grande de Romarigães" é Aquilino Ribeiro. Li a obra, conheço a Casa e a região à volta da qual se desenrola a ação, mas, em boa verdade, não recordo uma referência explicita à Capela de Santa Justa. Contudo, admito que consta do romance.
    Cumprimentos.
    Remígio Costa

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  4. Trata-se do capítulo VIII quando Joana Angélica não consegue engravidar e é aconselhada a ir em peregrinação.
    Eduardo Ricardo

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