Santa Justa
SANTA
JUSTA (SÃO PEDRO DE ARCOS)
Estando na Silvareira, em São Pedro
de Arcos (Ponte de Lima), subimos para norte por um caminho florestal estreito,
com piso irregular a serpentear entre giestas e mato de carqueja com flor roxa,
ao encontro da ligação que vem pelo sopé da Serra d’Arga desde São Lourenço da
Montaria e vai dar ao Monte de Santa Justa. Percurso de rali, ao que julgo. Alarga-se
o caminho e melhora o piso quase sem sulcos cavados formados pelas correntes
que descem furiosas pela encosta da serra na época das chuvas e, a vista
alonga-se ao sul sobre os relevos das montanhas até uma enorme extensão do Vale
do Lima e povoações situadas nas suas margens, envoltas num véu de neblina fina
que o efeito da luz solar dilui e branqueia. Seguindo na encosta para nascente sem
incómodo ou demora, estamos no início do monte de Santa Justa, ainda sem que a
capela que lá existe se possa avistar. Com o monte do Castelo à vista despido
de vegetação por causa do incêndio que sofreu recentemente, entrámos na estrada
bem tratada que sai do Lugar de Terrafeita, em São Pedro de Arcos e avançamos, agora a subir em cota alta, pelo
lado da freguesia de Estorãos, ao fundo, para chegar ao topo onde se levanta a
Capela de Santa Justa.
Capela
A pequena Capela está dentro de um
espaço quadrangular murado em pedra de xisto com a altura de dois metros ou
aproximadamente. No lado sul, no alinhamento do muro, a antiga casa de abrigo e
arrecadação de artefactos e de animais foi objeto de obras de requalificação
(como todo o conjunto) no ano que decorre sendo, agora, um edifício para
turismo de habitação (TH) de qualidade super, ainda por estrear (*O documentário é extraordinário e vem provar que temos cá dentro coisas
maravilhosas que nem uma grande parte dos locais conhece.
Aproveito para informar de que a Romaria de Santa Justa não se realiza
em Junho, mas sim e sempre no terceiro Domingo ou fim de semana de
Julho. Também o Cerquido não é freguesia mas sim um lugar da freguesia
de Estorãos. A requalificação dos Quarteis não será de englobar no TH,
mas o nome correto é CENTRO DE INTERPRETAÇÃO E VIVÊNCIA ATIVA DA
NATUREZA-Quartéis de Santa Justa, composto por 2 quartos duplos e uma
Camarata com capacidade para uma dezena de pessoas e a sua gestão está a
carga do Município de Ponte de Lima, através da Área Protegida das
Lagoas de Bertiandos e São Pedro Arcos e através de reserva.,
Espero ter acrescentado algo ao seu trabalho e continue a divulgar a
beleza que nos rodeia.
Cumprimentos
Custódio Fernandes). No espaço
interior foram preservados um forno, que mudou de local, e um pequeno palco, ou
palanque, em pedra onde atuavam tocadores de concertina e decorriam outras
manifestações populares típicas da festa que ali decorre no mês de Junho de
cada ano. O acesso ao pequeno templo onde se encontra a imagem de Santa Justa é
feito por duas portas laterais, a nascente e a poente existindo aqui, no
exterior, uma fonte onde sai água pura e fresca que dá prazer beber. Dentro, à
direita da entrada principal, uma avantajada placa em pedra assinala os nomes
das entidades oficiais a quem coube a inauguração das instalações.
Albergue transformado em TH
Envolto no silêncio granítico do
relevo quase despido de árvores e com alguma vegetação rasteira, o local tem
vista privilegiada praticamente em 360º. Dali avistam-se o templo da Senhora do
Minho no topo nascente da Serra d’Arga, as freguesias do Cerquido e Estorãos,
de São Pedro de Arcos e outras mais do Vale do Lima, formando um panorama grandioso
de rara beleza que José Sócrates e Jorge Sampaio já desfrutaram há alguns anos
atrás, em visita oficial. A festa anual que ali decorre atrai uma multidão de
festeiros que acampam, às vezes por dias, no espaço envolvente ou sobem o monte
a cavalo chegando a atingir várias dezenas, como aconteceu recentemente.
Santa Justa já foi uma excelente
zona de caça mas as espécies têm vindo a desaparecer por escassez de comida e
por excesso de predadores naturais e encartados, sendo difícil o repovoamento
pela galopante desertificação com origem nos incêndios. Por via disso, já é
muito raro ver cavalos selvagens a pastar em manadas significativas. Gado
caprino ou bovino, nem réstias.
Paisagem
A gente de Lanheses teve, noutros
tempos, uma relação muito estreita com Santa Justa, que não tinha como pretexto
apenas a festa. Era por ali que as mulheres iam cortar a carqueja que, depois,
traziam em grandes feixes na cabeça para vender aos padeiros que a utilizavam
para aquecer os fornos onde coziam pão de trigo ou milho. O percurso de alguns
quilómetros era feito através de carreiros abertos por entre o mato denso e
agreste e pedras soltas, assiduamente utilizado por muitas pessoas visando
tirar um magro pecúlio de tão ingrata tarefa.
Recanto o interior com a Serra d'Arga ao fundo
Em caminhadas solitárias ou
organizadas, numa bicicleta vulgar ou BTT, a cavalo ou de automóvel, compensa
subir ao Monte de Santa Justa, seja festa ou não, quiçá subir pela íngreme
encosta nascente da Serra d’Arga até à Senhor do Minho, até à Chã com o mesmo
nome, descer ao Cerquido, visitar Estorãos ou voltar a casa por São Lourenço da
Montaria, é uma aventura que compensa experimentar.
2015.10.12
Fotos: doLethes
Remígio Costa.
*INFORMAÇÃO recebida de Custódio Fernandes em comentário inserido no post anterior relativo à Silvareira. REGATO DA SILVAREIRA.
Alçado interior do prédio pata TH. O amigo António Rocha que teve papel relevante na consecução do projeto de requalificação.
O monte do Castelo devastado pelo incêndio do ano que decorre.
Lado nascente da Serra d'Arga
Água pura da montanha
Para a posteridade, o autor.
A pose do António Rocha, com excelente aparência e boa disposição
A selfie bem sucedida de dois velhos amigos.
Represa de água límpida com cerca de dois metros de profundidade onde, no ano transacto, um cavalo se atirou e obrigou a romper parte do muro para poder sair.
RC.
Excelente,sr Remigio...
ResponderEliminarSanta Justa,é de facto um lugar ímpar nas fraldas da serra d'Arga.Além de um local panorámico por excelência,como diz,foi e é desde tempos longínquos,local de culto,onde romeiros de todo lado,não faltam no dia da romaria,para agradecer ou pedir à Santa,a cura das suas moléstias.Abraço
André
André.
EliminarMuito grato.
Remígio.
Este local e o seu culto é largamente referido por Alexandre Herculano na sua obra "A Casa Grande de Romarigães"...ou estarei enganada???
ResponderEliminar13 de abril de 2021
ResponderEliminarDesculpe, mas o autor do livro "A Casa Grande de Romarigães" é Aquilino Ribeiro. Li a obra, conheço a Casa e a região à volta da qual se desenrola a ação, mas, em boa verdade, não recordo uma referência explicita à Capela de Santa Justa. Contudo, admito que consta do romance.
Cumprimentos.
Remígio Costa
Trata-se do capítulo VIII quando Joana Angélica não consegue engravidar e é aconselhada a ir em peregrinação.
ResponderEliminarEduardo Ricardo