sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

"VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA"


                    Se, no dia de hoje, andou preocupado com assuntos que nada têm a ver com a realidade do seu dia a dia, então, não serei eu a vir para aqui recordar-lhe aqueles que nos respeitam directamente e nos afectam de forma compulsiva na vida real de todos os dias. Muito menos nas vésperas da chegada da quadra natalícia, que convoca as pessoas para a solidariedade, tolerância e perdão, qualidades que, por vezes, deixamos adormecidas a maior parte do ano nas nossas relações com os outros.

          Esta trégua, chamemos-lhe assim, na verbalização do descontentamento que alastra como nódoa de azeite em toalha de linho entre os cidadãos mais desamparados e fragilizados fisicamente, que são os velhos e o idosos, perante um cenário já não de ameaças, mas, de confirmados atentados aos direitos e garantias de muitos portugueses, não vai calar a voz de protesto e de revolta que cresce dentro de cada um dos atingidos até ao momento em que ele deverá manifestar-se com a razão que assiste ao injustiçados e maltratados.

                      Por agora, acompanho Manuel Bandeira, com a esperança de que em Pasárgada encontre um lugar de homens de palavra, fiáveis e estadistas capazes de assumirem a condução dos destinos dos cidadãos que lhes confiam a segurança das suas vidas.



“Vou-me embora pra Pasárgada”, um poema de Manuel Bandeira


Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

4 comentários:

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    2-.Thank you....

    Pedido do autor:

    O "meu" conhecimento actual de inglês não chega para entender o verdadeiro sentido dos comentários aqui divulgados.

    Haverá alguém entre os meus visitantes que queira ajudar-me traduzi-los para português?

    Agradecido, desde já.

    Remígio Costa.

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  3. Muito obrigado por outro grande artigo. Onde e que alguem pode encontrar uma infromacao deste genero tao bem escrita? Eu tenho uma apresentacao na proxima semana e eu estou a procura de tal informacao. Meu Site e>What is addiction.

    Eu tenho a certeza que este Post tocou toda a gente na Internete,isto e muito, muito bom Post para criar um nove "Weblog" A Minha "Wepage" bacalao (Bacalhau?)
    Um abraco

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