sexta-feira, 25 de maio de 2012

CONTO SEM PONTO


 Conclusão

               O TESOURO DA MINA DE VOLFRÂMIO 

                                                                                       (Parte dois)

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          Juntaram a ferramenta no Quenhas & Filhos, Ldª e retomaram o caminho de regresso a casa pelo mesmo percurso que os levara até ao sonho.

          Alto lá, não pensem que se desiste assim tão facilmente de uma empreitada que tinha por fim achar uma mina de volfrâmio . No dia seguinte, mal o sol apareceu e a malga de leite com broa de milho cozido no forno de casa já repousava no reconfortado estômago dos dois rapazes, lá voltaram eles ao empreendimento renovados na fé de poder alcançar o objectivo que tinham bem consolidado na vontade e no empenho de a levar até ao sucesso.

          Como previram, a terra no local agora escolhido era bem mais permeável ao bico da picareta e, à vez, escava e limpa, rapa e apruma, pausa para a bucha e endireitar o caniço, a cova lá ia aprofundando e cobria já a cabeça do mais velho dos inexperientes volframistas imberbes. Foi então que, num momento da escavação o bico da picareta não perfurou a terra como até ali e, no impacto com algo mais duro, ouviu-se um som diferente, algo parecido com o que é produzido no contacto de ferro com uma pedra.  Alarmados perante a possibilidade de estar em perante novo malogro após o dispêndio de tanto esforço, foi com algum desalento que o mais velho dos jovens mineiros tentou alargar e aprofundar o lastro do poço aberto.

          A espectativa começou a aumentar quando à primeira rocha encontrada, outras foram aparecendo dispostas como alpondras nos cursos de água a servir de passagem, separadas entre si por uma porção de saibro esbranquiçado e solto. Com algum alvoroço e os batimentos do coração a aumentarem, juntaram rapidamente uma gamela de terra e foram lestos para um pequeno regato que passava nas imediações, pensando ir  encontrar no fundo da meia-lua da malga os reluzentes cristais do famoso mineral que trazia tanta gente transtornada.

          À medida que as lamas eram expelidas e a água cada vez mais limpa, começaram a aparecer umas pedrinhas escuras  que sobravam no fundo. -Eureka!, teriam dito os dois irmãos caso conhecessem a expressão, descobrimos um filão de volfrâmio! 

          Passaram os dois dias seguintes ansiosos, de bico fechado não fosse alguém conhecer-lhes o segredo  e apoderar-se do tesouro, impacientes pela demora do regresso dos pais a quem só a eles desejavam divulgar em  primeira lugar o achamento do filão que tinham descoberto  e  que nem aos restantes membros da família deram a conhecer.

          Quando, finalmente, os viram a surgir na estrada correram na sua direcção e, antes ainda de entrarem em casa, exclamaram ao mesmo tempo, aos saltos diante deles:

            - Descobrimos um filão, na bouça grande!

          Obviamente que os pais dos rapazes sorriram e não levaram logo a sério as palavras que ouviam apesar da convicção e espontaneidade com que eles as pronunciavam. Mas, perante a determinação e insistência dos filhos, o pai prometeu que no dia seguinte iria  inteirar-se  no local da validade da boa nova que tanto os excitara.

          Só na parte de tarde do outro dia é que o pai apesar do cepticismo que votava à novidade que os filhos lhe deram, se decidiu a deslocar-se até ao local indicado pelos seus descendentes.  Lá chegado, após certificar-se da existência de indícios que lhe pareceram  credíveis para poder ser ponderada  a existência naquele local de um filão, resolveu iniciar as diligências apropriadas para que se procedesse à abertura de uma exploração adequada. Contratou alguns mineiros experientes, aprofundou o poço e seguiu o curso do veio do estanho confirmando estar em presença de um rico filão de minério de boa qualidade.

           Durante vários meses, porventura  anos , puderam-se  extrair do fundo da terra centenas de quilos de minério do generoso filão que os dois rapazes descobriram de forma ingénua e absolutamente fortuita protagonizando  uma aventura digna da mais elaborada ficção.

           Um pormenor singular que contribuiu para a improbabilidade de ali existir uma quantidade tão valiosa de volfrâmio é que não foram encontrados naquela propriedade, nem nas imediações, outras bolsas ou veios de minério e a que ali foi explorada tinha reduzido perímetro e seguia até alguns metros de profundidade.

           Pensando melhor, parece haver alguma semelhança com o final da aventura do jovem pastor andaluz  Santiago, descrita no maravilhoso romance saído da  pena invulgar do escritor Paulo Coelho.

Remígio Costa.
Maio/2012.





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