Conclusão
O TESOURO DA MINA DE VOLFRÂMIO
(Parte dois)
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Juntaram a ferramenta no Quenhas & Filhos, Ldª e
retomaram o caminho de regresso a casa pelo mesmo percurso que os levara até ao
sonho.
Alto lá, não pensem que se desiste assim tão facilmente de
uma empreitada que tinha por fim achar uma mina de volfrâmio . No dia seguinte,
mal o sol apareceu e a malga de leite com broa de milho cozido no forno de casa
já repousava no reconfortado estômago dos dois rapazes, lá voltaram eles ao
empreendimento renovados na fé de poder alcançar o objectivo que tinham bem
consolidado na vontade e no empenho de a levar até ao sucesso.
Como previram, a
terra no local agora escolhido era bem mais permeável ao bico da picareta e, à
vez, escava e limpa, rapa e apruma, pausa para a bucha e endireitar o caniço, a
cova lá ia aprofundando e cobria já a cabeça do mais velho dos inexperientes
volframistas imberbes. Foi então que, num momento da escavação o bico da
picareta não perfurou a terra como até ali e, no impacto com algo mais duro,
ouviu-se um som diferente, algo parecido com o que é produzido no contacto de
ferro com uma pedra. Alarmados perante a
possibilidade de estar em perante novo malogro após o dispêndio de tanto
esforço, foi com algum desalento que o mais velho dos jovens mineiros tentou
alargar e aprofundar o lastro do poço aberto.
A espectativa começou a aumentar quando à primeira rocha
encontrada, outras foram aparecendo dispostas como alpondras nos cursos de água
a servir de passagem, separadas entre si por uma porção de saibro esbranquiçado
e solto. Com algum alvoroço e os batimentos do coração a aumentarem, juntaram
rapidamente uma gamela de terra e foram lestos para um pequeno regato que passava
nas imediações, pensando ir encontrar no
fundo da meia-lua da malga os reluzentes cristais do famoso mineral que trazia
tanta gente transtornada.
À medida que as lamas eram expelidas e a água cada vez mais
limpa, começaram a aparecer umas pedrinhas escuras que sobravam no fundo. -Eureka!, teriam dito
os dois irmãos caso conhecessem a expressão, descobrimos um filão de volfrâmio!
Passaram os dois dias seguintes ansiosos, de bico fechado
não fosse alguém conhecer-lhes o segredo e apoderar-se do tesouro, impacientes pela
demora do regresso dos pais a quem só a eles desejavam divulgar em primeira lugar o achamento do filão que
tinham descoberto e que nem aos restantes membros da família deram
a conhecer.
Quando, finalmente, os viram a surgir na estrada correram na
sua direcção e, antes ainda de entrarem em casa, exclamaram ao mesmo tempo, aos
saltos diante deles:
- Descobrimos um
filão, na bouça grande!
Obviamente que os pais dos rapazes sorriram e não levaram
logo a sério as palavras que ouviam apesar da convicção e espontaneidade com
que eles as pronunciavam. Mas, perante a determinação e insistência dos filhos,
o pai prometeu que no dia seguinte iria inteirar-se no local da validade da boa nova que tanto os
excitara.
Só na parte de tarde do outro dia é que o pai apesar do
cepticismo que votava à novidade que os filhos lhe deram, se decidiu a
deslocar-se até ao local indicado pelos seus descendentes. Lá chegado, após certificar-se da existência
de indícios que lhe pareceram credíveis
para poder ser ponderada a existência
naquele local de um filão, resolveu iniciar as diligências apropriadas para que
se procedesse à abertura de uma exploração adequada. Contratou alguns mineiros
experientes, aprofundou o poço e seguiu o curso do veio do estanho confirmando
estar em presença de um rico filão de minério de boa qualidade.
Durante vários meses, porventura anos , puderam-se extrair do fundo da terra centenas de quilos de
minério do generoso filão que os dois rapazes descobriram de forma ingénua e
absolutamente fortuita protagonizando
uma aventura digna da mais elaborada ficção.
Um pormenor singular que contribuiu para a improbabilidade
de ali existir uma quantidade tão valiosa de volfrâmio é que não foram
encontrados naquela propriedade, nem nas imediações, outras bolsas ou veios de
minério e a que ali foi explorada tinha reduzido perímetro e seguia até alguns
metros de profundidade.
Pensando melhor, parece haver alguma semelhança com o final
da aventura do jovem pastor andaluz
Santiago, descrita no maravilhoso romance saído da pena invulgar do escritor Paulo Coelho.
Remígio Costa.
Maio/2012.
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