O TESOURO DA MINA DE VOLFRÂMIO
(Parte Um)
Esta, podia ser uma aventura igual às que são próprias dos
sonhos ou uma vez na adolescência lemos
numa revista da banda desenhada; porém, apesar de já terem decorrido muitos
anos sobre o tempo em que ela aconteceu, ainda agora vive quem possa confirmar
a veracidade da história que aqui se pretende contar.
Era uma vez…
Não, só as histórias imaginadas começam assim. Esta é
verdadeira e, como tal, deve ser contada como se tivesse sido eu um dos
protagonistas dos sucessos em verdade
acontecidos. Vou, primeiro, dar a conhecer os heróis , se assim os posso
considerar, da aventura que viveram e refazer, tanto quanto a memória mo
permitir, o ambiente da época atribulada em que ela se desenrolou e eu a
conheci e entendi.
Era tempo de Verão pleno. Com as actividades lectivas suspensas
alargavam-se os dias em que as crianças que não eram obrigadas a trabalhar no
campo a ajudar os pais na vida dura da agricultura ou a apascentar o gado pelos
prados e montes, ocupavam o seu tempo a executar pequenas tarefas domésticas e
a fazer recados e, na maior parte do dia tão longo naquela estação, divertiam-se
em brincadeiras na estrada de macadame em frente de casa ou nos largos onde se
pudesse correr atrás de um arco, de uma bola de trapos ou no jogo ao pião.
Nessa altura a febre do negócio da exploração do volfrâmio
que endoidou uma grande parte das gentes das aldeias do norte do país, embora
tivesse conhecido níveis muito elevados já se tinha em parte diluído passados
que estavam alguns anos sobre a capitulação do nazismo hitleriano que pôs fim á
hecatombe da II Grande Guerra , diminuindo o uso do
tungsténio com a consequente descida de
cotação do preço da matéria prima donde
era extraído . A exploração mineira continuava porém bastante activa por estas
bandas e ocupava grande parte da
população masculina e feminina na recolha e comércio do minério, em prejuízo
dos interesses da agricultura de subsistência que agonizava, abandonada.
Os dois irmãos heróis desta aventura não tinham mais de catorze
anos o menos jovem e pouco mais de doze o benjamim. Naturalmente, que a
envolvência no negócio da compra e venda do estanho de alguns membros da sua família e as conversas sobre a exploração mineira e
todo o subsequente tratamento processado nas lavarias, bem como a visualização dos
locais e o modo como era extraído da terra, não podiam deixar de estimular e
influenciar o espírito de aventura que germinava a todo o vapor no ânimo dos
dois jovens.
Aproveitando uma ausência ocasional dos seus progenitores
que tiraram um curto período de férias
para tratamento num estância termal nas Taipas , os dois rapazes decidiram
imitar os adultos e, como eles, dedicarem-se à exploração do minério sedutor. E
prepararam-se logo para isso, munindo-se dos utensílios e da ferramenta
apropriados que tinham disponível em casa para aquele fim: um carrinho de mão recém-construído
feito em madeira onde desenharam numa parte lateral o nome de uma imaginária
companhia mineira –Quenhas & Filhos
Ldª-, (o Quenhas era alcunha de um “pilha”
muito conhecido nessa época pelos seus processos nada ortodoxos de obter o
estanho…sem cavar em mina própria), uma picareta, uma pá e uma gamela talhada
numa peça de madeira de amieiro que era usada para a lavagem manual da terra
que continha as pepitas escuras do minério.
Nos bolsos dos calções pelos joelhos com tiradeiras (alças) cruzadas a segurá-los, uns bons nacos de broa
de milho (o mais novo sempre andava com os bolsos repletos deles, a parte mais
dura), um troço de chouriço picante do fumeiro caseiro e maçãs quantas neles coubessem.
Rum, rum, rum, ora um ora outro a pegar nas mangas do
transporte, lá seguiram para o monte até um bouça de mato e pinheiros
pertencente à família onde tencionavam escavar o buraco e esperavam achar o tesouro (a saga pode sugerir
a odisseia de Santiago, do Alquimista, de Paulo Coelho, mas tem pouco a ver com
ela porque o caminho a percorrer era muito mais curto e sem obstáculos a vencer
como os que o jovem de Andaluzia teve que enfrentar), localizada no perímetro onde decorria intensa exploração mas algumas
centenas de metros dela afastada e que nunca fora
objecto de prospecção mineira.
Lá chegados e escolhido o local foi dado início à escavação.
Ao fim de pouco tempo e quando nem um palmo de cova tinha sido conseguido
abrir, os manos começaram a pensar que a empresa não seria coisa fácil se
continuassem a tentar furar a piçarra da cor e consistência do ferro que se
lhes deparou uns centímetros abaixo do mato e da carqueja. Abandonaram a parte
alta onde começaram a exploração e desceram para o centro da bouça onde a
estrutura terráquea parecia mais acessível ao bico da picareta e proporcional à
força dos pouco calejados escavadores. A tarde já ia diminuindo quando a
vontade de regressar era já um apelo difícil de não ouvir e o ar dos pinheiros
embora saudável ocupava já boa parte da bolsa
do estômago. Juntaram a ferramenta no Quenhas & Filhos, Ldª e retomaram o
caminho de regresso a casa pelo mesmo percurso que os levar até ao sonho.
(Continua)
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