A participação da Ti'Amália nas atividades relacionadas com a cultura popular na comunidade
lanhesense, reportam, no tempo, à organização do Rancho Regional de
Lanheses promovida em meados da década dos anos quarenta por ação do
então professor do ensino primário Gabriel Gonçalves. Nos primeiros anos
da segunda metade do século vinte, o folclore passou para a alçada da
direção da Casa do Povo.
Desde aqueles tempos que a intervenção da Maria
Amália nas atividades culturais populares da freguesia se tornou notória
e útil, quer na qualidade de protagonista relevante, quer na prestação
de apoio logístico e de aconselhamento aos novos elementos que, por
tempo mais ou menos duradouro, eram sucessivamente integrados nos grupos
onde ela dava o seu valioso conhecimento empírico.
Foi assim na qualidade de atriz amadora na célebre opereta "A Bruxa",
de que ainda hoje se gaba a qualidade dos intérpretes e a
espetacularidade da peça, na participação efetiva no grupo folclórico
que representava anualmente a freguesia no cortejo das Festas d'Agonia,
com o célebre cântaro feito de barro a simbolizar uma área importante da
indústria de cerâmica de Lanheses, e posteriormente, no eficiente
trabalho de confeção e aconselhamento no uso
rigoroso do vestuário regional e no modo de comportamento dos
figurantes. Tinha também papel preponderante na escolha do diferentes
trajes regionais, adereços, dos versos e das músicas adequados a cada
fim, acompanhando de perto os ensaios, corrigindo e aconselhando o
melhor posicionamento dos dançadores e o rigor nos movimentos e nas
marcações.
A Ti'Amália, no
tratamento mais corrente e familiar, ganhou o respeito daqueles com
quem privou durante o longo percurso da sua vida sem tiques de
autoritarismo ou complexo de sabichona superior. Nem o facto de ser
filha do decano dos presidentes da Casa do Povo, Francisco Dias de
Carvalho, lhe alterou negativamente o modo de ser simples e prestável
que a identificava na sua personalidade. Agia com a competência e a
eficácia de quem trabalha nos bastidores da ribalta, e não se
posicionava na boca da cena para os primeiros planos da fotografia na pompa e na circunstância das celebrações.
Maria Amália Dias de Sousa, foi hoje quinta-feira 30 de julho, a
sepultar no cemitério da freguesia de Lanheses. Faleceu aos 93 anos por
motivo de golpe súbito de doença, na última terça-feira, dia 28, na
residência familiar. Deixa um legado de cultura popular, de dádiva
caridosa aos necessitados, de destacada e produtiva intervenção em favor
da comunidade em que se integrava.
Que Deus lhe reserve o lugar que merece. Paz à sua alma.
Obrigado, Ti'Amália.
Fotos: de cortesia.
Remígio Costa
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