O folclore organizado em Lanheses tem o ano de 1946 como referência quando o professor Gabriel Gonçalves fundou, sob a égide da Casa do Povo, o Rancho Regional de Lanheses. Contudo, é provável que antes daquela data houvesse já atividade pontual de representações folclóricas avulsas, atendendo a que a que a Casa do Povo tinha sido criada em 1936.
O Rancho Regional então lançado não se restringia a uma formação de pessoas vestindo trajes regionais da época, sendo composto por grupos de lavradeiras, cortadoras de erva, de sacha do milho, de grupos que exemplificavam as múltiplas fases e operações na cultura e preparação do linho e roçadores de mato. Havia sempre um casal de noivos que encabeçava o rancho em desfiles, vestidos com fatos pretos do século XIX, ela de sombrinha e ele de guarda-chuva preto sendo acompanhados com uma tocata onde predominavam a concertina, harmónios, flautas, violas, cavaquinhos e pandeiretas.
Uma característica própria que distinguia o Rancho Regional de Lanheses dos demais, e que se mantém na atualidade, é um diálogo que ocorre no decorrer da exibição, protagonizado por um homem e uma mulher que precede uma inédita dança designada saracu a qual executam aninhados sobre os joelhos acompanhados pelos demais membros do Rancho.
O Rancho Regional passou em 1979-1980 a designar-se Rancho Folclórico da Casa do Povo de Lanheses (GFCPL), já com a sede no novo edifício construído de raiz, sendo então responsáveis Rogério Dantas Rio e Rogério Pimenta Agra, o qual viria a ser o grande impulsionador da projeção nacional do folclore lanhesense, com a criação dos festivais internacionais cujo êxito firmou definitivamente o valor do Rancho, não só no país como no estrangeiro, bem como a inscrição no órgão nacional que superintende o folclore.
O folclore de Lanheses tem vindo desde sempre a integrar o certame incluído no programa da Romaria de Nossa Senhora d’Agonia, designadamente no cortejo etnográfico. Nos primeiros anos em que participou, os componentes eram genuinamente homens e mulheres do campo, trabalhadores rurais e de artes e ofícios oferecendo uma imagem de autenticidade e ruralidade natural. Participar no Rancho era um privilégio porque dava oportunidade de viver a Romaria e de receber uma pequena quantia em dinheiro (dez escudos, por componente) que a organização da festa concedia e com viagem gratuita em autocarro da Auto Viação Cura. No desfile, as raparigas vestidas com o fato regional levavam nas mãos uma cantarinha de barro, o qual, posteriormente, haveria de ser ampliado por um enorme cântaro quando o percurso passou a ser feito numa viatura automóvel. Para além do desfile pelas ruas da cidade, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Lanheses exibe-se executando o seu reportório de danças e cantares inéditos nos coretos do jardim público antes da serenata.
Para além da representação folclórica através da participação dos Ranchos, Lanheses teve, outrora, um relevante contributo na ilustração do jardim público, de que foi encarregado durante anos o nosso conterrâneo Almeno Cachada, com a colocação de centenas de lamparinas nos canteiros floridos e candeeiros de papel com velas pendurados nos ramos das árvores, mas, o que verdadeiramente chamava a atenção eram as numerosas armações forradas a papel configurando aves e animais doméstico, as quais, iluminadas com tigelinhas de cera, conferiam ao jardim um ar de autêntico arraial festivo.
Era costume nos anos quarenta, por alturas da realização das festas, algumas famílias alugarem uma das pequenas casas ainda existentes no Campo da Agonia pelo período de um mês, tendo em vista não apenas a viver de perto a grandiosa romaria anual, mas com o fim de “ir a banhos”, o que significava levantar do colchão colocado no soalho antes do nascer do sol e ir apanhar banho de espuma das ondas detrás dos penedos na praia norte, onde ainda os estaleiros não chegavam.
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