(8)FIGURAS E FACTOS DA HISTÓRIA DO
FUTEBOL LANHESENSE
Uma das primeiras equipas do GDCPL - Em cima, da esquerda: Barrocas, g,r,, Adolfo, Neu do Augusto, Abel Rocha (Caninhas), Delmiro Costa e David da Elvira. Em baixo, na mesma ordem: Rogério Agra, (NN?) Domingos Gomes, Alfredo Arouca (Janota) e Rogério Dantas. Em pé, à direita: o espanhol Salvador Donenech.
1.1. OS “VELHOS” E OS “NOVOS”
ATLETAS
À data do início da utilização do
novo campo e, depois, durante algum tempo, faziam ainda regularmente parte de
equipa jogadores naturais de Lanheses já veteranos, como o Zé da Dantas, o Neu do Augusto, o Abel Caninhas, o Tone
Bacela (Pote), o Chico Campela (pai
dos quatro irmãos que mais tarde viriam a formar o célebre grupo dos Meia-Noite).
Entretanto, e por força da
inscrição do Grupo Desportivo da Casa do Povo nos campeonatos da F.N.A.T., onde
participavam equipas mais experientes, houve necessidade de reforçar o plantel com
atletas mais traquejados em disputar competições, tendo sido contratados jogadores
na vila de Ponte de Lima entre os quais o guarda-redes Barrocas, que se viria a
revelar muito competente, o defesa central Adolfo, José Russo, José Pereira e
Ilídio, este um médio ofensivo com excelente visão de jogo e precisão de passe de
quem fui particular admirador dada a sua forma elegante de atuar e a facilidade
em jogar em equipa.
Aos jogadores vindos de fora era
devida a importância de 25$00 por cada jogo para custear despesas de deslocação
em transporte público e o treinador tinha direito ao dobro daquela quantia.
Despesas relacionadas com a segurança a cargo de quatro praças da GNR (Guarda
Nacional Republicana) tinha então um custo total de 62$40, por cada partida.
Nos dois primeiros anos da criação
do Grupo Desportivo da Casa do Povo de Lanheses (G.D.C.P.L), foi presidente
Francisco Dias de Carvalho, auxiliado por Manuel de Brito Rodrigues Rio e
Rogério Pimenta Agra, conforme assinaturas constantes do livro-caixa”.
Rogério Dantas, ainda bastante jovem
1.2.-ATLETAS LANHESENSES DA “PLACA” PARA OS “CUTARELOS”
As “placas” do Largo da Feira constituíram um verdadeiro alfobre
produtivo de jogadores habilidosos do qual veio a beneficiar em qualidade e
quantidade a primeira equipa organizada de futebol de Lanheses. Por muito tempo
se ouvia falar do “treinador placa”
quando surgia algum jovem a mostrar qualidade acima da média que tivesse
passado pelos “treinos diários” na
Praça principal da urbe lanhensense. Foi daí que saíram numa primeira geração a
rondar entre os vinte e os vinte e quatro anos, Rogério Agra, Domingos Casimiro
Gomes, Alfredo Arouca (Janota), Rogério Dantas, todos avançados, o médio todo o terreno Delmiro Costa, com um
folgo inesgotável que lhe permitia entrar em duas partidas no mesmo dia, David
da Elvira sempre pródigo na distribuição de “amabilidades”
para despachar a bola e esquecer as reclamações dos adversários, vindo logo a
seguir alguns ainda com idade de júnior mas ansiosos por uma vaguinha de sorte
que lhes trouxesse a oportunidade de mostrar o que valiam, como o Adriano
Lagoela, o Chico da Rua, o Viga, o Fernando Canivete, o Artur Vale, os irmãos
Correia Pinto, Zé Manel e Horácio, embora ambos com carreira curta por força de
frequência do ensino superior universitário, bem como o irmão mais novo, o
Pedro, embora este só mais tarde viesse a seguir idêntico percurso, e, eu
próprio porque não ficaria a nomeação completa se não me incluísse já que fiz
parte dos aspirantes ao grupo, nesta fase, com uma história própria para
contar.
1.2.3.-PRINCIPAIS CARATERÍSTICAS DOS
JOGADORES MAIS RELEVANTES, NESTA FASE.
Rogério Agra, já no campo dos Cutarelos
Rogério
Agra, extremo direito. Velocidade, drible em corrida, remate potente de pé
direito. Fazia bastantes golos. Motivador, dava-se ao jogo com garra e nunca desistia de uma
jogada.
Domingos
Casimiro Gomes, avançado-centro: bom jogo de pés, excelente sentido de
colocação e remate característico em “moinho”, à Artur Jorge.
Delmiro Costa, médio ofensivo "todo o terreno", (box-to-box), com uma resistência fantástica ao cansaço apesar da atividade desenvolvida em todo o tempo de jogo, chegando a entrar em duas partidas no mesmo dia, no período da manhã, como júnior e no da tarde como sénior. Jogou depois nos "Os Limianos", em Ponte de Lima «, no SC Vianense e participou em alguns jogos no SC Braga.
Alfredo
Arouca (Janota), interior esquerdo (n,º 10) habilidade inata
com ou sem bola, poder excecional de brible curto, não desperdiçava uma boa
oportunidade de marcar fosse com a cabeça, embora de baixa estatura, ou com os
pés, de preferência o direito; gozava com
os colegas e adversários de princípio ao fim da partida sobretudo com os menos
habilidosos, dando-lhes uma alcunha que os marcava; moía
o juízo a um colega quando ele desperdiçava uma oportunidade de golo
cantado. Formava com o Rogério Dantas, uma das melhores alas esquerdas de
sempre do futebol em Lanheses. Brilhou mais tarde a jogar no “Os Limianos”, em
Ponte de Lima, durante alguns anos onde deixou cartaz, tendo como companheiro Gaio, jogador da Académica. Esteve prestes a assinar
pelo Boavista FC, do Porto, mas desistiu por não aceitar treinar à experiência.
Rogério
Dantas, ponta esquerda, um tanto franzino de corpo. Imparável quando lançado em corrida. Possuía um
portentoso remate com o pé esquerdo que usava de forma própria: descia em
velocidade pelo flanco lateral e no alinhamento da grande área, levantada a
bola para executar um remate como se fosse uma granada de canhão com o peito do
pé esquerdo, dirigido ao ângulo superior do poste contrário! Vi vários assim, a
guarda-redes de nome. Não teve quem o imitasse, até hoje.
Os jovens Rogério Dantas e Rogério Agra
1.3.-TREINADORES
Não será muito rigoroso qualificar
como treinadores as pessoas responsáveis pelos treinos e pelas convocatórias
para escalar a equipa nos jogos a realizar porque não possuíam carteira própria
a não ser experiência enquanto jogadores. Os responsáveis era escolhidos
normalmente entre aqueles que tinham prestado uma carreira saliente como
futebolistas ou demonstravam qualidade de liderança, recordando alguns como o
República, o Chico do Vale, e designadamente, o Manuel Dantas Rio, este o
primeiro a autorizar-me aos 16 anos, num treino, a escolher umas botas ou o que
delas restava num monte avulso, para treinar “no meio dos grandes”.
Não se deparou
a oportunidade de o ter como treinador mas recordo daquele tempo como uma
figura com qualidade de liderança e conhecedor no que respeita à técnica do
treino. Era de nacionalidade espanhola e chamava-se SALVADOR DOMENECH. Sabia de
bola, o homem, e ensinava com conhecimento movimentações coletivas. Mas a
“malta” não estava habituada à disciplina de treino, aborrecia repetições de
ensaios de jogadas, apenas estava interessada em ter a bola, driblar, driblar, correr
com ela nos pés, chutar à baliza, fazer golos, tal como estava habituado a
jogar com uma bola de trapos. O espanhol bem podia insistir: -non filigranas, non quiero filigranas (dribles), pasa, ripasa, recupera. Pois, sim.
Despediu-se em 29 de abril de 1953
escrevendo numa carta dirigida à Direção: “no
sábado último notara alguma indiferença por parte de alguns jogadores e depois
de insistir para realizar um ligeiro treino, como seja chutes à baliza, etc.,
declararam-se pouco dispostos, de forma que, em virtude da atitude de alguns
jogadores não se realizou o treino. Como no domingo passado observara certas
indiferenças, vejo-me obrigado a abster-me de futuro a continuar as minhas
funções como treinador do grupo”.
Nunca mais se ouviu falar dele.
ABEL ROCHA (Caninhas), na despedida. Campo dos Cutarelos.
Remígio Costa
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