sábado, 10 de agosto de 2019

BOMBA DESATIVADA (AINDA) NÃO DESMANTELADA.

     


       Depois de avanços e recuos nas instâncias judiciais, e um imensurável caudal de comentários díspares e propostas de solução mirabolantes para resolver o assunto, chegou finalmente ao fim o processo de litigância com os últimos concessionários do antigo posto de abastecimento de combustível, há anos desativado, situado no lado ocidental do Largo Capitão Gaspar de Castro, em Lanheses, e a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Viana do Castelo.  

      Sucessivamente incumprida, e impacientemente aguardada pela população local que ansiava ver terminada a suspensa requalificação do centro cívico da Freguesia, principiaram, não sem alguma incrédula expetativa, na última quinta-feira, dia 08 de agosto corrente, os trabalhos de demolição do pitoresco e singular posto de abastecimento de combustíveis nele existente.

     Por agora, estão já removidos os dois volumosos tanques subterrâneos de armazenamento de combustíveis, e ao que constava nas conversas avulsas entre os muitos mirones que presenciavam o afã da escavadora e a perícia do manobrador, seguir-se-à a demolição da castiça e algo original estrutura à superfície, isto, se e quando estiver neutralizado pelos técnicos dos Serviços Municipalizados de Viana do Castelo o sistema elétrico montado no local, o que poderá vir a prorrogar a limpeza total do espaço envolvente por tempo indeterminado.


   O então designado posto da Sacor, cujo início de construção reporta ao ano de 1957 a expensas da empresa monopolista nacional com aquele nome, foi concessionado à extinta Sociedade Vianense de Petróleos, e a exploração concedida, em parceria, ao industrial e comerciante lanhesense José Martins Agra, passando depois para os herdeiros deste, e ultimamente propriedade de uma empresa sediada em Braga ainda em laboração, e que agora viu negado judicialmente o direito de superfície que reclamava, em benefício da Junta de Freguesia de Lanheses.

   As suas reduzidas dimensões e a arquitetura simples e leve conferiam-lhe identidade distinta da maioria das construções então existentes no país destinadas ao mesmo fim, havendo apenas no território nacional um único posto com idêntico perfil.


  O posto de gasolina de Lanheses foi durante muitos anos o único existente na estrada nacional 202, entre Viana do Castelo e Ponte de Lima. Prestou um serviço valioso às empresas de transportes rodoviários e à lavoura regional, e por mais de uma vez foi ponto de abastecimento do rali de Portugal. Também foi banca de venda de jornais durante alguns anos e agente de uma marca de gás doméstico.

  Com idade sexagenária tinha o posto adquirido como que uma referência local de ex-libris, identificativa da paisagem do recinto, e notável pela condição de monumento em deterioração física e pelas inúmeras e bizarras estórias que por ali se desenrolaram cujos protagonistas, ou quem as conheceu de perto, ainda conseguem lembrar; pessoalmente, retenho a oportunidade de ter deparado e contatado,  ainda que por breves momentos, um famoso Cardeal americano dos anos oitenta, cujo nome se me apagou do acervo da memória, o poeta, compositor e intérprete Tozé Brito, e o futebolista internacional do FC do Porto, o habilidoso ponta direita Carlos Duarte.  Contudo, o que permaneceu nítido e bem presente até hoje na minha memória, é a imagem da vala aberta dos alicerces da estrutura quando aguardava, manhã cedo, na paragem em frente, a camioneta da Auto Viação Cura para ir apresentar-me no quartel militar da Póvoa de Varzim para iniciar o cumprimento do serviço militar obrigatório.



  Finalmente, o assunto fértil e abusado da  "demolição do posto de abastecimento de gasolina" do Largo da Feira parece esgotado de vez. Contudo, não é despicienda a presunção de que venha ainda a ser tema para insidiosas conotações, sejam elas políticas ou mera "conversa fiada".

  








            Fotos doLethes 
 Remígio Costa


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