ARQUITETA DE FORMAÇÃO, LUTADORA POR OPÇÃO.
Conheço a Vera há muito pouco
tempo e o relacionamento entre nós resulta do facto de ela atender ao balcão,
aos domingos, numa das pastelarias onde cavaqueio e consulto os jornais do dia,
manhã cedo. Simpatizei com ela ao primeiro olhar: sorridente, maneirinha no
tamanho, delicadeza no trato, leveza e graciosidade de movimentos à imagem de
uma avoila saltitante na relva de um canteiro de jardim.
- É arquiteta, diz-me um amigo sentado a meu lado depois de
retirar dos lábios a chávena do café, na continuidade de uma elogiosa
referência que antes lhe tinha feito agradado pelo modo simpático e diligente
como ela atendia os clientes que chegavam.
Estava concentrado na leitura
do JN pelo que decorreu algum tempo antes de ter noção do que ouvira. – Arquiteta?
Brincas, Luís, –Não, é verdade, retorquiu. - Queres ver?
Vera, vem cá, por favor.
A moça (é ainda bastante jovem)
veio até junto de nós, solícita e de sorriso aberto, pronta a atender-nos. - És, ou não,
formada em arquitetura? Aqui o meu amigo parece surpreendido que seja verdade.
A Vera confirmou, de modo
desafetado e tom de voz controlado. Concluiu, vai já a caminho de dez anos, na
Universidade do Porto, o curso superior de arquitetura. Desde então tem arduamente
procurado exercer atividade compatível como as habilitações académicas que
adquiriu, sem sucesso. A crise que deflagrou a partir de 2008 no Mundo teve impacto
de calamidade trágica para a juventude portuguesa, sobretudo para os jovens universitários
recém-licenciados.
Quis saber mais, porque senti
estar em presença de uma vencedora inata, alguém que tem uma história de vida que merece
ser conhecida e relevada. A Vera, de início, pareceu algo desconfortável, tímida
mesmo; não sabia o suficiente a meu respeito para partilhar dados pessoais,
mas, perante a minha insistência e pelo que da minha postura social já pôde
avaliar, foi-se abrindo. É natural de e vive na Correlhã, uma progressiva freguesia
perto da vila de Ponte de Lima, da margem esquerda do rio Lima, onde completou o
nível secundário de estudos. Tem duas irmãs e todas vivem com a mãe, viúva de
alguns anos. Enquanto folga da árdua busca a desbravar o caminho que gostaria
fosse o da vida para o qual afincadamente se preparou, junta-se às irmãs e à
mãe na criação de animais domésticos e de aves de capoeira e na exploração de
uma pequena horta familiar cavando, semeando, plantando e colhendo produtos que
vai depois vender com elas na feira quinzenal de Ponte de Lima.
Depois do êxito da
Universidade não era aquele o rumo certo que esperava a sua vida tomasse.
Porém, não desistiu de encarar a realidade do momento e foi para a luta
disposta a transpor as barreiras que se opusessem à concretização do seu
primeiro objetivo por maiores e imprevistas que elas fossem.
Decorrido todo um tempo de
incertezas e também de algumas frustrações pelo caminho parece, finalmente,
abrir-se para a Vera uma janela de oportunidade com a perspetiva de vir a
confirmar-se a promessa recente de trabalho que lhe oferecem na área do enoturismo,
que a enche de esperança de vir a cumprir o maior dos seus sonhos: exercer atividade
afim do curso para que se preparou. Não adiantou pormenores nem pedi que o
fizesse. Pensei para mim que a aplicação, a abnegação, a fidelidade aos afetos
e princípios de solidariedade familiar e a crença em si própria a levariam a
encontrar o caminho certo para a realização pessoal que soube conquistar.
Avaliei isso desde que a vi pela primeira vez. A Vera merece-o e vai consegui-lo.
É uma vencedora.
Remígio Costa.
Amigo :
ResponderEliminarPelo que dizes a Vera é um exemplo a seguir por muito boa gente !
Abraço
Voces nao vivem neste planeta. a VERA nao e um exemplo . A Vera e mais uma de tantos neste pais que voces construirao.tantos elogios porque nao tem conhecimento do pais onde vivem.
ResponderEliminarAnónimo 01:50
ResponderEliminarNão, não vivo. Sou de Marte e estou cá de passagem. Pelo que parece o amigo tem feito muito pelo nosso (seu?) pais...