Gostava tanto de comer um guarda-chuva de chocolate da "A Vianense" como hoje sabe aos meus netos com a idade que eu tinha lamber um gelado e ficar com vontade de repetir. Havia outros de que também muito gostava, mas o pequeno cone revestido a papel de prata colorido com a bengala espetada na base era uma tentação quase pecaminosa a que não desejava resistir. Antes de ter adquirido a autonomia de escolha, o consumo de chocolate ficava pelos quadradinhos das pastas maiores, em número de dois, entalados num trigo para servir de lanche no intervalo das refeições, depois de chegar a casa da escola. De longe a longe, porque além da broa e fruta da época, os lanches não eram tão regulares e assegurados como a vontade que os requeria.
Fachada actual.
Durante os anos de crescimento dos meus filhos e depois dos netos, o pinheirinho de Natal que sempre se erguia, e continua, junto ao presépio na sala maior da casa, havia de conter figurinhas de chocolate comprados na "A Vianense". Eram distribuídos um a um pelos galhos do pinheirinho cortado no monte, mas havia o propósito de só iniciar o consumo depois do nascimento do Menino Jesus. Regra dura de cumprir pelo que, sem explicação à vista, sempre haveria de notar-se diferença entre o número inicial e o que resultava da contagem final na presença dos interessados.
Lado norte - poente.
Passados os anos, os costumes alteram-se. Multiplicou.-se a variedade dos chocolates e a proveniência do fabrico. Refinou-se a qualidade, apresentação, o leque das opções de consumo, a publicidade. -"Ambrósio, apetecia-me um Ferrer Rocher" -Pois, não senhora!"- Coisa fina, elegante, mesmo de amarelo dourado o vestido e o chapéu da dama sendo o chocolate castanho, por natureza.
Lado poente
Sob a marca consagrada "A Vianense" o chocolate está acessível em qualquer supermercado longe de si (longe, para os com menos posses, perto para alguns), mas Viana não é a sua origem. Há vários anos desactivada, a Fábrica de Chocolate "A Vianense" virou Hotel chique, com muitas estrelas a exibir a sua condição de elite, sendo que a verdadeira, a mais brilhante e sedutora, é ter sido um local doce, de sabores intensos, e ter feito muita gente feliz.
Pormenor da entrada poente.
O antigo prédio desenhado por José Fernandes Martins em 1922, em estilo de art-deco, conserva apenas vestígios da sua fachada primitiva. Tem agora acoplada uma parte com desenho e arquitectura modernos, da cor do chocolate, onde se destinou um parte a Museu para preservar a memória de Fábrica extinta. Cá fora, mostram-se três peças que poderão ser os moinhos e misturadoras onde se diluía a variedade dos produtos que constituía o excelente produto final: -o chocolate vianense.
Lado norte.
´ O conjunto cumpre em parte as condições mínimas da preservação da memória visual da fábrica de chocolate de Viana do Castelo que o Museu ajudará a reconstituir. O que jamais poderá sentir-se na cidade onde Fábrica laborou quase um século e o inconfundível cheiro adocicado do chocolate que as seus profissionais manualmente fabricavam.
Máquinas expostas no exterior
F I M
Fotos: do Lethes
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