ENTREVISTA COM EZEQUIEL VALE, PRESIDENTE DA JUNTA
DA FREGUESIA DE LANHESES.
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"- Lanheses, terá de ser capaz de
encontrar jovens que sejam atores, que construam o seu próprio futuro", diz
Ezequiel
Vale, professor na
Escola Secundária de Santa Maria Maior, casado, dois filhos, licenciado pelo
ISEF de Lisboa. Tem experiência associativa, foi fundador e presidente de
diversas associações. Exerceu cargos como o de Coordenador
Distrital do Desporto Escolar e foi o último Delegado Distrital do
Instituto do Desporto de Portugal.
Está no
segundo mandato como Presidente do executivo da Junta de Freguesia de Lanheses.
1. Muitas pessoas consideram que a sua chegada à
presidência da Junta rompeu com o modelo tradicional de gestão dos interesses
locais alargando a sua intervenção em áreas pouco ou nada até então
valorizadas. Concordando, ou não, peço-lhe que faça uma retrospetiva do que
alterou em relação ao passado.
Ao longo dos dois mandatos tentei ter sempre em conta o que
prometi aos lanhesenses: trabalho, dinâmica, imparcialidade, melhor
aproveitamento daquilo que temos, rigor administrativo e financeiro. As áreas
de maior intervenção têm a ver com aquilo que consideramos ser o nosso habitat
e a forma como dele cuidamos. Apostámos, por isso, numa freguesia atrativa
sobre o ponto de vista estético, cultural e económico.
2. Pode especificar essa ideia de freguesia atrativa, com
dados objetivos?
Embelezámos os nossos largos, avenidas e outros espaços;
valorizámos as tradições e cuidámos da nossa cultura; lutámos para manter todos
os nossos serviços públicos; projetámos e incentivámos a construção daquilo que
nos faltava para mantermos qualidade de vida.
3. Pode exemplificar que obras ou eventos foram
realizados nesse âmbito?
Requalificámos os Largos do Outeiro, Corredoura, Seara,
Forcada, a rotunda da ponte, a Avenida do Rio Lima, o parque da Estrada D.Maria
I, a marginal do Rio Lima e agora a estrada entre o centro escolar e a Igreja;
construímos o Parque Verde; incentivámos a reativação das festas de S.Antão ,
S.João e o Cabrito da Páscoa; criámos novos eventos como a Festa do Milheiral,
da sementeira, as jornadas culturais e da juventude, tertúlias, encontros
musicais, passeios de barco; construímos o barco-água arriba; construímos o
Ecomuseu; reaproveitámos a antiga escola primária construindo o Núcleo
Museológico, a biblioteca e o auditório; publicámos livros, brochuras, filmes.
Sem esquecer a requalificação de muitas ruas e a criação da toponímia da
freguesia.
4. Que outras grandes obras foram feitas em Lanheses,
nestes oito anos?
Muitas das grandes obras, como é evidente, não são
executadas diretamente pela Junta de Freguesia devido à escassez do seu
orçamento e dimensão. Apenas somos, muitas vezes, interlocutores das vontades
da população. Lanheses e as suas instituições, públicas ou privadas, ao longo
dos anos, têm lutado, junto de diferentes administrações, por várias
infraestruturas ou pelo melhoramento das existentes. Desde 2005, para além do
que já referi e das repavimentações de vias, também tivemos o prazer de ver
entrar em funcionamento, na Freguesia, o Centro Escolar, a ETAR, a rotunda da
ponte, o Centro Pastoral, o aumento do edifício da escola básica e secundária,
a requalificação do pavilhão da Casa do Povo, o relvado sintético do campo de
futebol, a legalização do Campo de Tiro e agora está a ser construído o Centro
Social com valências de Creche, Lar de Idosos, Centro de Dia e Apoio
Domiciliário. Também conseguimos mudar o posto da GNR para um local condigno.
Nisto tudo, de enaltecer a excelente cooperação e a atual união de todos,
individual ou coletiva, em volta destas vontades. Neste momento, isso torna-nos
muito fortes.
5. Referiu o Posto da GNR. É para continuar em Lanheses e
no lugar do Romão?
Penso que neste momento é o local mais indicado face à
sua dimensão. Está bem situado e a renda é muito inferior aos encargos mensais
da contratação de um soldado da GNR.
6. Outros problemas surgiram, e ainda pendentes, como o
antigo posto da Sacor e as “Fronteiras” com S. Pedro de Arcos.
O antigo posto da Sacor tem sido alvo de várias ações
judiciais. Todas nos têm sido favoráveis e apenas estamos dependentes de um
último recurso. Fico com muita pena de não nos ter sido dada oportunidade para
requalificar aquela zona do centro cívico, durante a minha presidência. Sobre a
questão com S.Pedro de Arcos existem limites legais superiormente cadastrados
pelo Instituto Geográfico Português ou bem definidos em tombos ainda do tempo
da monarquia. Mas sobretudo quero realçar que a população de Lanheses tem
ótimas relações com a de S.Pedro de Arcos. E isso é de louvar nos tempos atuais
que devem ser de união.
7. E o posto dos Correios? A estação irá mesmo
encerrar? Existe evolução no assunto ou há alternativa?
Penso que não estará previsto o posto encerrar a breve
prazo, apesar das regulares tentativas em retirá-lo daquele local. Até agora
sempre considerei que o posto se deveria manter tal e qual como está. Ainda são
muitas as pessoas com dificuldades em se deslocar ou em utilizar meios
eletrónicos. Tenho feito prevalecer esta ideia em todas as reuniões com os
administradores dos CTT. Mas poderemos dizer que tudo tem uma evolução. E
também tudo tem o seu momento certo.
8. Voltando ao Museu, gostaria que dissesse algo sobre as
pirogas monóxilas datadas com cerca de 2200 a 2300 anos. Poderão um dia ser
fixadas aqui em Lanheses?
Já muito foi feito nesse sentido. Fui várias vezes a
Lisboa e tenho acompanhado de perto o assunto. E até já ouvi muitos disparates,
de figuras públicas, sobre as pirogas. Mas a resolução prioritária de outros
problemas da freguesia não nos permitiram ir mais longe. O seu regresso seria
um orgulho e uma mais-valia turística e económica para a nossa área geográfica,
mas continuo a verificar pouca visão estratégica sobre o aproveitamento do rio
lima e tudo que lhe está associado. Muito vai depender da vontade do próximo
presidente da junta e de um bom plano para o assunto.
9. Falando em rio, o que quer dizer sobre a erosão da
margem direita?
Existe um plano para Lanheses, espero que seja
concretizado em breve. Trata-se de um experiência com uma solução mais natural
e económica, que passa também pela valorização do espaço, tornando-o mais
atrativo para a sua utilização na área do lazer e da recreação. Seria a
continuação do Parque Verde. Mas a proteção terá de passar obrigatoriamente por
uma intervenção mais alargada e profunda, para além de Lanheses, que diminua o
trajeto em zig-zag do caudal. Temos discutido o assunto com responsáveis do
Ministério do Ambiente e será preciso muita vontade política e algum dinheiro
para o efeito. Existem várias soluções, mas continuamos a correr o risco da
atual margem desaparecer.
10. E o Parque Verde? Estão previstos mais equipamentos
ou o aproveitamento das suas valências?
O Parque Verde é um espaço aberto, na natureza,
fotograficamente espetacular, com um conjunto muito alargado de
potencialidades. Não deve ser estragado, mas poderão ser sempre acrescentados
alguns pormenores ou equipamentos. Para já está prevista a colocação de um
hangar para a guarda de canoas e um quadro elétrico que possibilite o
abastecimento de energia para eventos. Também estamos a plantar macieiras
agrais e videiras tipicamente locais, a colocar alguns elementos decorativos e
a criar pequenos espaços expositivos e interpretativos, da natureza e de
tradições, como por exemplo do ciclo do milho, entre outros. É possível ainda
fazer mais para melhorar a sua utilização coletiva e individual.
11. O água-arriba e a sua ligação ao Parque.
O barco água-arriba enquadra-se no projeto do Ecomuseu no
qual, e passo a citar, “o visitante é convidado a usufruir de um conjunto
variado de marcas do passado, tradições e atividades humanas que importa
potenciar”. Concordo, se me disser, que deve ser mais “explorado”. Mas é um
projeto que mais ninguém teve coragem para o concretizar. Também teremos sempre
de estar agradecidos ao Caninhas (Manuel João Castro Franco Rocha).
12. Do que tem sido falado até agora, até pode parecer
que não executaram obras tipicamente associadas às tradicionais funções das
Juntas de Freguesia.
Não é verdade. Também fizemos e muito, quer a nível de
pavimentações, quer na aplicação de infraestruturas de águas pluviais. Herdámos
uma situação de vias muito deterioradas com a construção do saneamento e
tivemos de lutar para que fossem dignamente repavimentadas sete estradas. Ainda
cumprimos um princípio de pavimentar todas as ruas em falta e de acesso a
habitações, nove no total. E ultimamente temos tido o cuidado de alargar e/ou
melhorar o pavimento de outras vias, num total de dez.
13. Acha que a feira-quinzenal pode ser valorizada? O que
a pode tornar mais visível e rentável? Porque não regressa ao Largo Capitão
Gaspar de Castro?
Confesso que gostava dela no Largo Capitão Gaspar de
Castro, mas com outra organização. Mas isso não depende só de nós. O
regulamento de polícia e a autorização de ocupação de espaço público é da
responsabilidade da Câmara Municipal e neste caso a feira também interferiria
com o trânsito numa estrada nacional, o que aumentaria os problemas de
segurança. A conseguir, teria de se optar por ter menos feirantes. Por isso,
considero que o projeto para os terrenos a poente da Casa do Povo, junto à
estrada nacional, com grande visibilidade e junto ao centro cívico, seria uma
boa opção.
14. E o que tem a dizer sobre a Zona Industrial?
Estamos preocupados e temos tido o cuidado de o declarar
sempre que temos tido essa oportunidade. No passado recente quisemos uma zona
industrial para podermos instalar as nossas empresas, para criar riqueza,
aumentar emprego e se possível fixar ou aumentar a população. Em resposta
foi-nos prometido um Parque Empresarial, com um conjunto significativo de
infraestruturas que seriam benéficas para Lanheses, com empresas não poluentes.
Mas o parque que temos não tem correspondido. Temos algumas empresas de
excelência, em tempo de crise, como por exemplo a Enercon. Mas também temos
queixas e preocupações com o ambiente. Por isso, mais esta nova revolta com a
possibilidade de se instalar uma unidade fabril de cimento. Nós nascemos ou
vivemos cá. Sonhamos com esta terra para viver em ambiente saudável, para cá
morrer e se possível deixar os nossos descendentes. Ninguém tem o direito de
nos retirar esse direito.
15. A médio prazo, qual, ou quais, os equipamentos que
mais interessaria a Lanheses adquirir ou obras a projetar?
Tenho a noção que corro o risco de já estar a impor
critérios viciados mas penso que existem algumas situações que serão
inevitavelmente motivo de intervenção no futuro próximo. Em primeiro, o
cemitério que começa a ficar completamente lotado e sem condições. Em segundo,
aumentar a cobertura de saneamento básico até 75%. Outros projetos já foram
referidos: localização da feira quinzenal; requalificação de parte do centro
cívico onde está instalado o antigo posto da Sacor; regresso das pirogas;
terminar a requalificação da zona envolvente ao campo de futebol. A piscina
será um projeto mais lá para a frente e deverá ser construída com novas
tecnologias para que o aquecimento das águas seja economicamente rentável.
16-E que obras ainda serão realizadas este ano?
Terminar o Parque da N. Sra. da Esperança (se possível
com parque infantil), passeios e estacionamentos na Estrada da Igreja, o
alargamento da Rua do Estádio, a construção do hangar, pintura exterior da
antiga escola e beneficiação de vias no Seixô. E esperemos que o governo
execute a beneficiação ma margem do Lima.
17-O que mais o desiludiu, ou o que menos foi conseguido
durante os seus mandatos?
Talvez a taxa de cobertura de saneamento básico. Apenas
estamos a cerca de 50% e temos regularmente solicitado aos SMSBVC, mas
infelizmente pouco acolhimento temos tido. Este é um mal na generalidade do
concelho. E as freguesias ao lado, até Serreleis, Nogueira ou Amonde, essas
nada têm.
18-O que mais o preocupa?
O desemprego crescente e a possibilidade de existirem
unidades fabris poluentes no nosso parque empresarial. Lanheses terá de se
preocupar com a monitorização ambiental, sem dúvida.
19. A crise económica tem prejudicado os seus planos para
a freguesia?
Sem dúvida que teríamos aproveitado e realizado muito
mais se estivéssemos no “tempo das vacas gordas”.
20. Vai no segundo mandato à frente da Junta? Vai
continuar? Como conjuga a sua vida profissional com a de Presidente da Junta?
Não vou continuar, primeiro porque sempre defendi até
dois mandatos. E na política, como na vida, temos de ser coerentes com aquilo
que defendemos quando nos candidatámos. Não devemos ceder às pressões ou aos
diferentes interesses. Manter a coerência, a autenticidade e o respeito é
fundamental para a credibilidade da classe política e acreditarmos na renovação
do futuro. Em segundo, porque são necessárias pausas para nos tornarmos
observadores, reaprendermos e renovar ideias se quisermos conseguir novamente
provocar mudanças adequadas aos novos momentos. Que agora surgem no tempo muito
mais rapidamente. Por isso, os paradigmas tendem a ficar desajustados muito
depressa. Por outro lado, tenho urgentemente de “arrumar” a minha vida privada
e profissional. Lanheses terá de ser capaz de encontrar jovens que sejam
atores, que construam o seu próprio futuro.
21. Tem ambições políticas? Como reagiria se fosse
convidado para outros cargos?
Em coerência com o que referi anteriormente, neste
momento não aceitaria.
22. Qual foi o melhoramento, ou equipamento, mais
importante que se verificou nos seus mandatos?
Pessoas ou instituições diferentes têm diferentes
interesses. Por isso, diferentes melhoramentos assumem diferente importância
para diferentes pessoas. Assim, considero que o melhor melhoramento que se
verificou foi termos conseguido aquilo que já referi: a boa relação e a união
entre todos, situação que possibilitou “obra para todos os gostos”.
Esta, foi a entrevista possível, há muito esperada, do Presidente da Junta de
Freguesia de Lanheses, um autarca pragmático, eficiente e
extremamente empenhado e empreendedor, devotado à freguesia onde nasceu e
reside com espírito de missão, primeiro responsável pela introdução de uma
administração moderna e atenta às reais necessidades e exigências da
população lanhesense.
O texto segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.
Reservados os direitos de autor. Todas as citações ou transcrições e fotografias desta entrevista devem fazer referência ao autor e ao blogue.
Li com atenção e gostei muito. Parabéns LANHESES.
ResponderEliminar1ª Nota…
ResponderEliminarTudo o que se fez de bom em Lanheses, foi mérito da Junta de Freguesia: Centro Escolar, Centro Pastoral, Centro Social, legalização do Campo de Tiro, relvado sintético, etc… etc… etc…
A “sociedade civil” de Lanheses, tem revelado mais dinâmica que os órgãos autárquicos. Foi devido ao empenho e ao trabalho das “instituições” estranhas à Junta, que se conseguiram um conjunto de grandes melhoramentos, como os acima indicados, entre muitos outros.
2ª Nota…
A não satisfação de necessidades prementes da freguesia, não é da responsabilidade do executivo, mas sim de outros poderes.
Lanheses não tem sido capaz de ser tratada por esses “poderes”, com a dimensão e amplitude proporcional à grandeza de Lanheses.
Os mandatos do Prof. Ezequiel poderão ser avalizados positivamente, para o que muito contribuiu a energia manifestada pela “sociedade civil” no desenvolvimento de Lanheses.
"19. A crise económica tem prejudicado os seus planos para a freguesia?
ResponderEliminarSem dúvida que teríamos aproveitado e realizado muito mais se estivéssemos no “tempo das vacas gordas”.
A principal fonte de financiamento da Junta de Freguesia provem da Câmara Municipal. Nestes anos o orçamento da Câmara para as freguesias, nunca diminuiu, pelo contrário, sempre cresceu.
Lanheses, não terá sido capaz de reclamar para Lanheses o percentual desse orçamento a que, pela sua dimensão e grandeza, tem direito. Outras freguesias, muitas outras freguesias d menor dimensão, levaram muitissimo mais dinheiro que a freguesia de Lanheses
Com esta entrevista, o Prof. Ezequiel revela sabedoria, maturidade política, eficácia e uma honestidade à qual não estamos habituados. É como se de uma aula se tratasse. Ficará na memória de muitos. Teremos saudades de o ver trabalhar por aí fora... E Lanheses irá recordar este homem como um dos melhores presidentes de junta que teve. Obrigado.
ResponderEliminartudo o que tem feito è com amor a lanhezes
ResponderEliminarfaz bem em sair pelo próprio pé
ResponderEliminarnao sei porque igual nao temos
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