quarta-feira, 8 de maio de 2013

AI, MEU LINDO SANTO ANTÃO!

            


               Devo dizer que não sou muito dado a festas. Nada tenho, porém, contra elas e aplaudo o esforço daqueles que as levam a cabo mantendo tradições e costumes que vêm de um passado de muitos anos e fazem parte da identidade de um terra, de um povo.


              Das que ocorrem em Lanheses a de Santo Antão, que vai iniciar-se amanhã, quinta-feira, é uma das mais genuínas sob o ponto de vista dos costumes e tradições locais, mau grado algumas delas terem caído em desuso por força das alterações introduzidas nos hábitos de vida das famílias principalmente nas que se dedicavam à lavoura minifundiária e recolectora. Na actualidade, já não há arados nos campos a lavrar a terra e os animais que os puxavam já não medram nas cortes nem fazem parelha na canga à frente do carro de fueiros e caniças de madeira carregados com o estrume por eles produzido com  que fertilizavam as terras. 



             Sem animais, Santo Antão, esvazia-se da sua componente tradicional mais representativa por já não ser possível reconstituir a afluência ao local, em número significativo e em variedade de espécies, o momento alto das celebrações no recinto da capela que era o sermão por um sacerdote convidado, o "orador sacro" conforme se fazia anunciar no programa (os do padre Armando Pereira, pároco de S. Pedro de Arcos, tinham um carisma e tal convicção que comoviam até às lágrimas os mais incrédulos...) e que concluía com a benção dos animais. Noutros tempos, vindos de todos os lugares da freguesia e terras vizinhas, engalanados com flores, fitas e verdes folhas, fartos, escovados e luzidios,  conduzidos por moças em traje de lavradeira ou homens em fato de lavoura, grupos de concertinas e cantares populares, os animais que ali se reuniam tornavam pequeno o recinto da festa.



            O carácter religioso da festa de Santo Antão e a vertente profana, esta com algumas inovações originadas pelas condições actuais de vida, mantêm-se praticamente iguais ao passado. A agenda religiosa começou a cumprir-se na última semana com a realização da via sacra entre a Igreja e a capela de Santo Antão, prossegue com a procissão de velas amanhã, quinta-feira  e a missa no recinto, a realização da Hora , a solene procissão no domingo, com início na Igreja até ao lugar de Santo Antão.




            A vertente popular dos festejos contempla o conjunto de música e a amplificação sonora no recinto, fogo de artifício e leilão de oferendas.

           Típico e muita apreciado é o cabrito "à Santo Antão Abade", uma tradição que começou no início do século passado pela Tia Nina, que o cozinhava na sua casa junto à capela e se cumpre actualmente em condições em tudo semelhantes às de outros tempos com a diferença de que é, agora, preparado e servido num espaço rústico improvisado, onde se aglomera um número considerável de apreciadores indefectíveis, alguns vindos expressamente do estrangeiro onde exercem a sua actividade profissional, acompanhado com um verde tinto da região em tigela de barro.

          Ligam-me a Santo Antão laços indeléveis dos meus primeiros anos de vida. Nasci perto da capelinha numa casa que já não existe e, muitas vezes, já mais crescido, ouvia a música dos altifalantes, ali perto, em cima de uma cerejeira comendo o fruto maduro que pendiam, em cachos, dos seus ramos. Quem dera, o tempo voltasse para trás...
              

1 comentário:

  1. pois è assim, um dia sarapetel e vinho, no outro cabrito e vinho, com moderaçao David

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