OTELO
OTELO SARAIVA DE CARVALHO, o comandante operacional do 25 de Abril de 1974, esteve esta tarde de sábado, 26 de Abril, em Vila Franca do Lima, para uma sessão integrada nas comemorações daquela data levadas a cabo pela Junta de Freguesia local.
Otelo falou sem interrupção durante cerca de duas horas para uma plateia de algumas dezenas de ouvintes, maioritariamente constituída por pessoas nascidas antes da revolução, sendo sensivelmente equiparado o número de homens e mulheres. Alguns dos presentes conheciam Otelo do tempo em que prestaram serviço militar.
O Presidente da Junta, prof. Arnaldo exibe o documento que assinala a passagem de Otelo por Vila Franca.
O primeiro responsável pela queda do governo de Marcelo Caetano, sucessor de Oliveira Salazar, foi apresentado pelo presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca, professor Arnaldo, que conhece Otelo há mais de dez anos e participou com ele em sessões políticas em Paris. Antes da intervenção do convidado, houve um momento musical tendo sido executados dois números com flauta por Margarida Castro, seguindo-se uma homenagem à Associação Vicentina centenária local.
OTELO
Num jeito muito próprio e desenvolto e contínuo movimento gestual, salpicado aqui e ali com uma pitada de bom humor, Otelo Saraiva de Carvalho descreveu na primeira pessoa todo o desenvolvimento pormenorizado da semente da revolução, tendo evocado a figura de Salazar e a natureza do regime iniciado em 1932 inspirado no modelo fascista italiano de Mussollini, o início da politica de descolonização pelos países europeus como a Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Itália, etc. a partir de 1945 -fim da segunda grande guerra- da resistência que Salazar encetou para manter as colónias contra os ventos da história, o início da formação da resistência à colonização portuguesa pelos povos de Angola, Guiné e Moçambique, dos líderes dos movimentos da independência Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Mangalane, da UPA e FNL e Frelimo, do início da guerra em Angola em 1961, o protagonismo tido pelo general do monóculo António de Spínola, do livro que vendeu mais de 100000 ex. "Portugal e o Futuro", e, desde as primeiras tentativas abortadas até ao sucesso de 25 de Abril de 1974, toda a sequência do Movimento das Forças Armadas, as figuras mais importantes e os quartéis aderentes, as peripécias e os momentos de tensão vividos que terminariam com a rendição no quartel do Carmo do governo de Marcelo Caetano perante o General Spínola, revelando os pormenores do tratamento dado ao chefe do governo deposto e aos seus ministros após a rendição no Carmo até ao seu embarque em avião para a Ilha da Madeira na companhia do Presidente da República Américo Tomás, o qual mereceu do ilustre deportado para o exílio referências elogiosas pela forma digna como havia sido tratado.
Otelo, autografando o livro "O Dia Inicial", da sua autoria.
Otelo daria ainda pormenores sobre senhas usadas revelando a que a dele era "Tigre" e "Coelho" a de Marcelo Caetano e a transformação dos cravos vermelhos em símbolo do 25 de Abril, os quais estavam destinados a enfeitar um restaurante da Rua Castilho, que iria festejar o aniversário do início do seu funcionamento, mas, tendo acontecido o movimento militar nesse dia foi encerrado tendo o patrão dado ordem a uma sua empregada da limpeza, de nome Celeste Caeiro, para que os levasse e lhes desse destino. Já no Rossio, um soldado que seguia numa chaimite pediu-lhe um cigarro, mas, como não ela fumava, deu-lhe um cravo que, ele, de imediato meteu no cano da espingarda. Todos os outros colegas quiseram imitá-lo e os cravos da Celeste desapareceram num ápice enfeitando as armas dos militares.
O pai do prof. Paulo conheceu Otelo durante do serviço militar.
A terminar, Otelo Saraiva de Carvalho, no pouco tempo que lhe restava para ir a Braga tomar o comboio de regresso a Lisboa com a sua companheira Filomena, autografou alguns exemplares do livro da sua autoria "O DIA FINAL".
Filomena, uma das companheiras de Otelo.
Vivi, quase minuto a minuto, o Movimento das Forças Armadas de 25 de Abril de 1974 (ouvi, sem imaginar que era a senha que confirmava a acção programada para aquela noite) o "Depois do Adeus", na voz de Paulo de Carvalho, no momento em que me deitava. No dia seguinte, 25 de Abril, ao ligar a rádio ouvi marchas marciais e um locutor transmitia os comunicados do MFA recomendando às pessoas que permanecessem em casa. Fui, normalmente, para a Escola Frei Bartolomeu dos Mártires onde exercia funções administrativas. Só os funcionários estavam nos seus lugares de trabalho. Professores e alunos andavam pelos corredores, agitados, sem saber como reagir. Pouco depois, iniciavam-se as reuniões, primeiro só com professores, depois com todos os outros funcionários. Algum pânico se apoderou de alguns e deixou de haver condições para manter abertos os serviços. Regressei a Lanheses. A Revolução estava na televisão e na rádio e foi assim durante alguns anos.
Foi bom conhecê-la, hoje, um pouco melhor e real no testemunho presencial do seu mentor e primeiro operacional, OTELO SARAIVA DE CARVALHO.
O livro com a dedicatória de Otelo.
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