O momento do içar da vela
Volvidas mais de cinco décadas após terem desaparecido do Rio Lima, o barco cuja denominação mais comum entre os barqueiros de Lanheses era a de
"Água-Arriba", voltou hoje a sulcar o lendário
Lethes ou rio do esquecimento, ao iniciar a sua primeira viagem oficial no lugar da Passagem perante os aplausos de uma pequena multidão que compareceu no local para testemunhar o acto.
A vela a chegar ao topo do mastro.
A embarcação de cerca de treze metros de comprimento e mastro de quatro, tem uma vela do tipo
quadrada redonda e é uma cópia fiel dos antigos barcos que transportavam pessoas e bens entre Ponte da Barca, a montante, e Viana do Castelo e juzante servindo ainda para acesso dos habitantes entre as duas margens.
Tripulantes e convidados prontos para a viagem inaugural.
A sua construção obedeceu a um rigoroso cumprimento dos processos artesanais usados pelos artífices doutros tempos sendo levada a cabo por um amante da pesca e do rio desta freguesia com a alcunha de
CANINHAS, que herdou do seu pai e orgulhosamente mantém, cujo nome de baptismo é
Manuel João Castro Franco da Rocha, levada a cabo com o apoio da Junta de Freguesia e o patrocínio da Câmara Municipal de Viana do Castelo.
O LANHEZES a afastar-se da margem.
Após um moroso, exigente e complexo processo de legalização pelas entidades oficiais o
Água-Arriba pôde finalmente voltar ao seu ambiente natural após uma breve cerimónia de inauguração onde foram feitas curtas intervenções das autoridades administrativas presentes, designadamente o presidente da Junta de Freguesia, prof.
Ezequiel Vale, bem como do presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, engenheiro
José Maria Costa, que não poupou nos elogios à iniciativa e ao artesão da obra louvando ainda o interesse histórico e turístico do empreendimento, lançando um incentivo a Ezequiel Vale para, tratando-se de um local onde no passado se fazia a cabotagem de pessoas e bens entre as populações limítrofes, se criasse um evento que celebrasse esse costume perdido.
Pelas 14H3O, a vela confeccionada por
João Baptista, um especialista na construção e recuperação de embarcações antigas, da Associação de Barcos do Norte, subia ao cimo do mastro do
LANHEZES (denominação oficial) e, com os convidados a bordo -a lotação aprovada é de 19 tripulantes- iniciou a viagem inaugural até Ponte de Lima, aproveitando o vento da maré em baixo, sob o eco das palmas e vivas do numeroso público ali presente.
Ao sabor do vento.
O LANHEZES vai proporcionar a todos os que o pretendam fazer, passeios gratuitos entre Viana e Ponte de Lima,
mediante inscrição prévia na sede da Junta de Freguesia estando apenas condicionadas à disponibilidade do "patrão "CANINHAS a quem compete a sua condução e guarda.
Ao fundo, a Passagem.
Para encerrar a descrição acima fui ao
"Cancioneiro Temático da Ribeira Lima", do
prof. Gabriel Gonçalves, buscar esta quadra alusiva aos barcos do rio e à sua função também romântica para além das outras, porventura mais prosaicas e materialistas.
Hei-de fazer um barquinho
Da folha da ortelã
Pra passar os meus amores
De Lanheses pra Deão.
O Baptista, na âncora.
Da esquerda para a direita: Ezequiel Vale, Padre Daniel Silva, José Maria Costa e António Grenho.
O Presidente da Câmara, José Maria Costa, no uso da palavra,
tendo à sua direita Ezequiel Vale e António Grenho e, à esquerda,
o artesão Caninhas.
Público atento e um fotógrafo amador recolhendo
imagens para memória futura.
Caninhas, à conversa com os presidentes.