terça-feira, 13 de junho de 2017

"LAGAR DO BACELA" , EM RUÍNA, EM VIAS DE DESAPARECER.

     

      A fazer fé no que vem sendo propalado em conversas informais, o que resta do velho "Lagar do Bacela", localizado no sítio de Salvaterra, a norte de Lanheses, está em vias de desaparecer para facilitar a expansão da zona industrial, em curso. A consumar-se a demolição da decrépita estrutura acaba para sempre com o que terá sido o primeiro lagar de azeite desta freguesia.



       Recuperar em detalhe a história do antigo engenho primitivamente movido a água não é objetivo fácil de conseguir. Já não existem ou são escassas e frágeis as memórias capazes de represtinar pormenores dos tempos idos. Contudo, assumo o risco de eventuais imprecisões nos relatos que escutei circunscritos ao tempo da instalação primitiva do antigo lagar de azeite.

       O nome deriva do primeiro dono, Manuel Afonso Alves, o tio Bacela, e a construção deverá reportar-se aos últimos anos do século dezanove. Por herança, o lagar passou para a posse do genro, João Sousa do Vale, a partir dos anos quarenta quando este regressou do Brasil para onde tinha emigrado. Mais tarde, João do Vale deu sociedade aos filhos Albino e Artur que o mantiveram em atividade até à partilha dos bens da família, tendo sido depois vendido a José Oliveira, de Vilar de Murteda, e após a morte deste, foi herdado pela filha única, a qual  detêm, atualmente, com o marido a sua posse.

      Primitivamente destinado à obtenção de azeite, o lagar possuía um sistema de tratamento do linho, montou moinho para moer grão de milho, um alambique para destilar aguardente, e criou um charriô para serração de madeira. Quando por lá andei em visitas esporádicas por volta dos anos cinquenta, não me recordo de ter visto o engenho do tratamento do linho. Recordo que, para ativar o funcionamento dos aparelhos antes de haver energia elétrica e depois, em parte, recorrendo a ela vinda de Covas, Paredes de Coura, o lagar dispunha de um sistema de abastecimento hidráulico cuja corrente era captada no monte, a norte, e terminava numa conduta em pedra para movimentar, por gravidade, uma grande roda de madeira, acionando a serra para cortar os troncos de árvores para obter tábuas. Cessou a atividade há alguns anos atrás com a serração.


     Desconheço quantas e quais as máquinas e utensílios ainda existentes dentro das instalações. Soube que estão ainda lá prensas, pias e caldeiras do antigo lagar. No coberto exterior, desativadas e aparentemente em estado irrecuperável, estão visíveis duas serras verticais mecânicas elétricas. Envolto em silvas e mato, a ruína do que foi o "Lagar do Bacela", o primeiro de Lanheses.









Fotos: doLethes
Remígio Costa 

2 comentários:

  1. Sr Remígio,
    Uma retificação da história do antigo engenho :
    O engenho pertencia efetivamente ao Sr Manuel Afonso Alves, conhecido por Tio Bacela.
    Após seu falecimento, a herança foi naturalmente aos filhos.
    Francisco de Castro Alves (um dos filhos) deu tornas aos outros irmãos e ficaram então sócios o Sr. Francisco de Castro Alves e o Sr. João Sousa do Vale. Este último, era genro e não neto do Sr. Manuel Afonso Alves, pois casou com a Tia Inês, que era filha.
    Ficaram então sócios o Sr Francisco de Castro Alves e o cunhado o Sr. João Sousa do Vale.

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    1. Sr. anónimo das 14:40, de 15 de junho:

      A troca de neto por genro é um erro de distração meu, que retifico.

      Os pertinentes pormenores da herança do Lagar que tem a amabilidade de dar a conhecer, não me foram divulgados do mesmo modo. O esclarecimento melhora a verdade do que está escrito no texto.

      Fico-lhe grato pela disponibilidade para contribuir para o desejável rigor que procuro nas divulgações que faço.

      Remígio Costa

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