À DESCOBERTA DE UM TESOURO EM AVENTURA AO ESTILO DE "INDIANA JONES."
Convento de S. Francisco do Monte
(ruínas), em Viana do Castelo.
Já ouvia
falar do Convento de S. Francisco do Monte no tempo da minha breve e mal
sucedida passagem pelos bancos do liceu no final dos anos quarenta do século
passado, mas não tenho a certeza de então lá ter estado integrado numa eventual
visita de estudo. As referências que depois fui conhecendo ao longo dos anos
sobre a existência de um convento escondido algures na encosta arborizada do
Monte de Santa Luzia a norte da cidade de Viana do Castelo, fez nascer em mim
um mito que alimentei e cresceu ao longo dos anos e que ansiava conhecer e
desvendar.
O estímulo
irrecusável veio de uma reportagem publicada no semanário vianense a “A
Aurora do Lima”, decano dos jornais portugueses editados no continente,
em 22 de Outubro findo e, a decisão de ir ao encontro de uma fascinante
aventura em busca do misterioso tesouro escondido como nos filmes de Indiana
Jones, fez com que calasse em mim os avisados conselhos da prudência pelo risco
que continha em fazê-lo sozinho e parti para a descoberta do antigo abrigo dos
frades franciscanos.
Iniciei a
subida pela encosta nascente da montanha a partir do estádio com o nome da
maratonista campeã Manuela Machado, localizado na freguesia da Meadela, numa
esplendorosa manhã de sol brilhante com o céu limpo e azul de anil. Guiado pela
intuição, porque não tinha referências exactas sobre a localização do mosteiro,
caminhei entre pinheiros bravos e penedos a esmo da encosta em declive escassas
centenas de metros até chegar a um caminho rural. Alguns metros andados, entrei
numa espessa vereda feita de ramos das árvores baixas e de chão atapetado de
folhas e, um pouco à frente, decidi voltar à esquerda num carreiro ainda mais
apertado; logo ali, estava a ver um cruzeiro levantado ao lado de um caminho
feito em calçada românica, referências que me tranquilizaram quanto à incerteza
de ter seguido a boa rota. Expectante, percorri um troço escasso sobre as
pedras irregulares da via empedrada, para, após ter contornado mais à frente um
ligeiro desvio à esquerda avistei, ao alcance de um olhar ávido de novidade, o
pórtico da entrada do Convento de S. Francisco do Monte.
Junto ao
portão com grade de vergas de aço demorei alguns instantes na avaliação da
estrutura, a qual, ao contrário do que em seguida pude constatar no interior,
possui ainda um grau animador de recuperação. Não muito, mas ainda
incentivante. A ladear o arco de volta perfeita da entrada, duas colunas de
fustes lisos e com capitéis clássicos de linhas simétricas, suportam um remate
com três estátuas estando ao centro, em plano mais elevado, a imagem de S.
Francisco tendo, do seu lado esquerdo, S. Pedro de Alcântara com o globo
terrestre (?) e, à sua direita, Santo António com uma figura de menino nos
braços, e, por baixo, a cabeça de um anjo. À vista desarmada, as figuras não aparentam degradação acentuada, com
excepção da de São Francisco, com ambos os braços decepadas pelo cotovelo.
Um leigo como
eu em matéria de conhecimento arqueológico, mesmo que curioso e interessado, dificilmente
saberá reconstituir a estrutura original do Convento se o não tiver conhecido
localmente até meados do século passado, momento a partir do qual a degradação
se acelerou e atingiu um estado de quase completa destruição. Restam as paredes
cobertas de silvas, eras e musgo, nichos com indícios de painéis com imagens
pintadas, mísulas e duas lajes de sepultura com gravações diluídas, símbolos em
pedra incrustrados nas paredes, pias de
utilidade doméstica. Pelo chão, algum lixo de garrafas e papéis e indícios de
cinzas de fogueiras. Ervas daninhas e mais silvas.
O claustro é
de pequenas dimensões, todavia, bastante atraente. Tem ainda quase todas as
colunas em pé e não extremamente deterioradas. O edifício principal à entrada
era apenas de um piso embora no local, onde julgo ter sido a capela exista, em
plano superior, um espaço que terá sido o coro ao qual se acedia por uma escada
em pedra. Tem, à vista, parte das vigas que suportavam o chão.
A cozinha
reconhece-se sem esforço pela lareira e chaminé que dela sai e por outros mais
pormenores relativos ao seu funcionamento. Tem saída para o logradouro e espaço
envolvente cultivável, com algumas árvores de fruto e, segundo o registo de
alguns, se criavam também ervas com qualidades terapêuticas. No exterior e do lado
oriental, conserva-se ainda um nicho embutido no muro da cerca que não soube
identificar. Todo o cenário do local reúne condições suficientes para inspirar
um cineasta em cenas de um filme de mistério ou saga de actos esotéricos de
seitas com rituais extravagantes e cheios de mistério.
Embora com
cinco séculos de existência, foi edificado em 1392, o Convento de São Francisco
do Monte é desconhecido para boa parte da população vianense não obstante estar
à curta distância de menos de uma légua do centro da cidade, logo a seguir à
Abelheira quando começa a mata florestal de Santa Maria Maior, na montanha de
Santa Luzia. Há referências que o apontam como o primeiro edifício conventual
da região alto-minhota sendo o terceiro fundado em Portugal pela Ordem
Franciscana. No ano de 1580, foi saqueado por soldados que andavam no encalço
de D. António Prior do Crato, fugitivo que se alojou numa casa situada no caroço
do velho burgo vianês, na rua com aquele nome. Na sequência da Convenção de
Évora Monte e da reestruturação das Ordens religiosas iniciada no reinado de D.
José I pelo ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, o
ministro da Justiça Joaquim António da Aguiar fez publicar em 30.05.1834 um
decreto declarando extintos os conventos e mosteiros e fez reverter para a
Fazenda Pública a sua posse do Convento de São Francisco, passando os frades,
em 1625, para o Convento de Santo António dos Capuchos, em Viana do Castelo.
A Igreja do
Convento foi erigida em 1736 a mando de Sebastião Pinto Robim Sotto Maior. Em
1834, após derrotados os miguelistas, os liberais esvaziaram-no do seu recheio,
expropiaram-no e colocaram-no à venda em hasta pública, passando a pertencer ao
visconde da Carreira, antepassado do cineasta Abi Feijó, com vista a criar uma
exploração agrícola. Em 1837 deixou de ter ocupação permanente. A degradação
acentuou-se a partir da segunda metade do século XX tendo acabado também nessa
época a realização de quaisquer actos religiosos.
Em 2002, foi
aberto no Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arquiológico um
processo com vista à sua classificação como monumento de interesse público, o
qual viria a ser declarado improcedente em 2013, justificado pela acentuada
degradação que apresentava.
Estando na
posse de Rui Feijó, último proprietário civil do Convento, foi por ele doado à
Santa Casa de Misericórdia de Viana do Castelo, que, por sua lado o viria a
vender em 2001 pela quantia de duzentos e cinquenta mil euros e,
posteriormente, mais cinquenta mil, pela aquisição de pequenas parcelas
adjacentes a outros confrontantes, ao Instituto Politécnico de Viana do Castelo
(IPVC).
O custo total
de requalificação deverá ultrapassar os dez milhões de euros, a qual se
tornaria viável executar mais rapidamente com fundos europeus, muito difíceis
de conseguir. O presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Dr.
Rui Teixeira, à guarda de quem está parte do espólio encontrado em escavações
não concluídas, tem em vista a criação no local de estruturas destinadas à
formação científica dos estudantes do ensino politécnico e alojamento, mas não
é a única sugestão existente. Um delas, o aproveitamento turístico a acionar a
curto prazo. A sociedade civil está a mobilizar-se tendo sido criado um
movimento liderado pelo advogado Paulo Vilaverde, com a sigla “Vamos
Recuperar o Convento de São Francisco do Monte”, que reúne já mais de um milhar de aderentes, para, em conjunto
com a edilidade vianense e o Instituto Politécnico, promover e despertar a
atenção para o valor histórico e patrimonial do antigo Convento e, bem assim, provar
a relevância e consequentes efeitos benéficos para esta região que constituiria
a sua reabilitação nas vertentes cultural, económica e também turística.
São cinco
séculos de História a preservar. Nenhum povo sobrevive se desprezar a sua
cultura e o património próprio que a atesta e a não garante às gerações
futuras. Viana do Castelo, a nossa Região, precisam do Convento de São
Francisco do Monte. Não devemos (não podemos) abandoná-lo.
2015,
Dezembro.
Fotos doLethes
Fotos doLethes
Remígio Costa
(Consultados
a Wikipédia e o jornal a “A Aurora do Lima)
PORMENORES DO CONVENTO EM REGISTO FOTOGRÁFICO
PORMENORES DO CONVENTO EM REGISTO FOTOGRÁFICO
Incrivel o estado em que se encontra o convento.Felizmente o caesso é muito difícil e não permite veículos automóveis, caso contrario já tudo teria desaparecido.
ResponderEliminarBoa noite Sr. Remígio Costa. Sou de Avintes (VN Gaia) e gosto bastante de Viana do Castelo. Apesar de nunca ter visitado este local, já é para mim de visita obrigatória, e hei-de lá ir de bicicleta! Dói ver algo assim tão importante, que, como sublinhou, tem 5 séculos, abandonado e às mãos do vandalismo comum. Não quero nem pensar no que seria se um coleccionador privado se lembrasse de roubar o convento de certas coisas valiosas que lá tem. Esta foi, até agora a melhor descrição do local que já li. Obrigado!
ResponderEliminarO Convento pertence atualmente ao Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), o qual tem projeto para futura requalificação como centro de estudo e investigação. A recuperação importa em alguns milhões dado o estado em que se encontra e o que foi roubado não é recuperável. É lamentável que não se reúnam vontades (e entidades) para reerguer um jóia desaproveitada, num local magnífico no sopé da montanha de Santa Luzia perto do burgo citadino. E que, entretanto, não seja aberto ao público mesmo no atual estado com vivitas devidamente controladas. Já lá voltei com os meus filhos e netos para que conheçam toda a História da terra onde nasceram.
ResponderEliminarRemígio Costa
caros Senhores de Viana do castelo?
ResponderEliminarÉ com muita tristeza que eu tenho e ser vianense,e o porquê,Viana só tem inteligências desfalecidas nem uma primeira revisão quantos outros concelhos tem duas eu três 1 divisões isto em futebol!Viana dorme;gastou-se milhões de euros para votar um predio novo abaixo porque o dono era mais rico de que o senhor presidente da camara e como ele já pensava em ser o futuro presidente da republica não queria ali o prédio,Senhor esse que teve menos votação que outro concorrente com a 4-classe belo presidente ia ser ia arranjar de botar a assembleia a baixo era capaz de não gostar de alguns companheiros para não dizer partidos,vamos ao principal não era melhor pensar num atractivo como o turismo e fazer com que Viana cresça de turismo e fazer trabalhar o comercio?É uma vergonha ser presidente de ideias fracas e destruir o que tanto custou a construir e o que devia ser reconstruir deixar ao abandono é com o velho que os filhos de boa gente crescem que vê o que antiga família com fome construirão,o que é a nossa cultura é o desfazer preservar para o nossos homens e mulheres de há manha se sintam com os olhos a admirar e e fazer mover a terra.esta visto que o mundo só cresce com o turismo dinheiro movimentados para o mundo andar para a frente, Um a