TROPELIAS NAS NOITES DOS SANTOS POPULARES
A
brincadeira saiu dos costumes tradicionais usados pela juventude na época dos
santos populares na nossa freguesia e já não serão muitos os que recordam as
estórias das tropelias cometidas pelos jovens, em regra nas casas onde viviam
as namoradas ou raparigas solteiras. Naquelas noites, talvez mais pelo São João
e São Pedro, um grupo de moços atrevidos escolhia um alvo previamente determinado
e, esperando que as luzes dentro da habitação se apagassem para se assegurarem
de que toda a família tinha recolhido aos quartos e iniciado o sono, entravam à
sucapa nos cobertos e arrecadações
levando os carros de bois, arados, grades e outros utensílios de lavoura ou, às vezes,
animais e aves domésticos que iam colocar em sítios públicos distantes como o
adro da igreja, em largos ou encruzilhadas de caminhos onde era frequente a
passagem de pessoas.
É claro que quem menos apreciava a graça eram as raparigas e as suas
famílias atingidas pelos desmandos, as quais, dando conta no dia seguinte que
lhes faltavam os bens que lhes pertenciam iam o mais depressa que conseguiam à
sua procura para os trazer de volta a casa.
É
claro que o assunto espalhava-se rapidamente passando de boca em boca para
gáudio dos brincalhões e não faltavam os comentários jocosos quando, à saída da
missa se porventura o assalto tivesse acontecido num sábado, as pessoas
deparavam com o carro com as caniças ou carroça onde estava presa uma ovelhas,
um porco ou mesmo um garnisé, perante o embaraço e quiçá vergonha das vítimas
da brincadeira.
Sobre este tema corriam então estórias que ouvia contar. Uma das que mais me surpreendia e
parece ter acontecido falava de um burro que tinha sido preso por uma corda a
um sino e como lhe colocaram perto um fardo de palha a que ele não podia chegar,
o animal alongava o pescoço e esticava a corda fazendo o badalo tocar o sino
que se ouviu até de madrugada. Nunca soube
como foi possível atar a corda no badalo, sendo a torre alta como é, mas, enfim
estórias para terem alguma graça têm sempre alguma inverosimilhância.
Quero crer que há de viver ainda quem conhece ou mesmo entrou em
brincadeiras bem mais picaresca do que esta que aqui divulgo, recuperando uma faceta dos
tempos idos. De todo o modo é uma tradição que morreu.
Pois se já nem carroças há…